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A ameaça da dengue

O Brasil tem o desafio, neste verão, de frear os números recordes de morte e contaminação

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Por Notas & Informações
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Este verão impõe ao Brasil um desafio perturbador: frear os números recordes de morte e contaminação de dengue que 2024 registrou entre os brasileiros. Não é uma tarefa trivial, considerando que muitos dos problemas que levaram o País a essa marca prosseguem, sem tendência significativa de mudança em formação no horizonte. É um assombro, sobretudo quando se leva em conta o fato de que há pelo menos 40 anos a dengue passou a fazer parte do calendário nacional, com maior prevalência durante o verão. A proliferação do mosquito Aedes aegypti, agente causador da dengue, zika, chikungunya, oropouche e outras arboviroses, aumenta com as chuvas e o calor. A transmissão também se expande em locais onde as condições sociais e sanitárias são mais precárias.

Em 2024 isso se repetiu e se aprofundou. Enfrentamos o calor recorde e as chuvas acima da média, decorrentes em grande medida das mudanças climáticas, o que gerou as condições para a reprodução e o aumento dos focos do mosquito transmissor. Assistimos também à circulação simultânea de quatro sorotipos da dengue, algo que não acontecia havia muitos anos, além da interiorização da doença, com cidades pequenas e médias contribuindo para o aumento da curva de casos. O baixo nível de informação da população para eliminar criadouros foi, como em outros anos, mais um fator decisivo.

Esses elementos favoreceram o cenário epidemiológico de 2024, mas não foram os únicos. Houve evidentes falhas por parte do Ministério da Saúde. Embora não totalmente omisso, como demonstram as ações para manter estoques adequados de medicamentos contra a doença e os repasses de recursos para a vigilância sanitária de Estados e municípios entre 2023 e 2024, foi pequeno o número de novos agentes comunitários de endemias contratados para atuar na linha de frente do combate ao mosquito. Também cortou de maneira significativa as verbas destinadas à propaganda de alerta à população.

A conta desses problemas, naturais ou não, chegou. Em 2024, a doença matou 5.873 brasileiros, número que superou a soma de óbitos nos oito anos anteriores, considerando as informações do Datasus até meados de dezembro. Em março, o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde já registrava o recorde de casos de dengue na história, com 1,89 milhão de casos prováveis da doença, superando a marca histórica de 2015, quando foi registrado 1,68 milhão. Dias depois, o mesmo painel informava que o Brasil atingia outra marca: 2 milhões de casos prováveis de dengue, com a confirmação de 682 mortes. No mês seguinte, nova alta: 3,8 milhões de casos de dengue e 1,7 milhão de óbitos. Em maio, o Brasil chegou a 5,1 milhões de casos prováveis de dengue, 2.827 mortes e outros 2.712 óbitos sob investigação.

Observando os números, constata-se o avanço acelerado nos primeiros meses do ano. O governo até anunciou recursos para Estados e municípios e mais campanhas de mobilização, mas evitou definir metas de redução de casos e mortes. Ainda que as condições para a proliferação da dengue permaneçam igualmente favoráveis, resta torcer para que medidas anunciadas e mais informações sejam suficientes para que o cenário de 2024 não se repita em 2025.

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