O Provão Paulista, que o governo de São Paulo acaba de lançar para o ingresso de estudantes da rede estadual de ensino em universidades públicas, é a típica iniciativa de ganha-ganha. Ganham os alunos de escolas públicas um novo canal de acesso à graduação; ganham as escolas, com a mais do que provável redução da evasão; e ganham as universidades, com o acompanhamento de parte de seus futuros estudantes durante todo o período do ensino médio.
Em resumo, ganha a sociedade, com a pequena – mas importante – contribuição para a redução das desigualdades no País. Por esse sistema de seleção serão reservadas, de início, em torno de 10 mil vagas para quatro universidades públicas, além das Faculdades de Tecnologia (Fatecs). O novo concurso segue uma estratégia tão simples de aumento da inserção de estudantes da rede pública em instituições gratuitas de ensino superior que é de perguntar por que não foi pensado antes.
Existem iniciativas que se aproximam da ideia, como o Programa de Avaliação Seriada (PAS), desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB). A UnB reserva metade de suas vagas para ingresso pelo sistema que avalia o aluno durante todo o ensino médio. Mas é um concurso aberto a alunos das redes pública e privada.
O formato que unirá USP, Unicamp, Unesp e Univesp (universidade virtual) na oferta de vagas unicamente para os alunos da rede pública foi idealizado nas próprias instituições e encampado pelo governo do Estado. As chances de ingresso de estudantes mais pobres na universidade aumentam de imediato, com o concurso que está sendo preparado para novembro, mas o maior mérito do programa será manter os alunos nas escolas até o término do ensino médio.
O desinteresse dos alunos da rede pública – por acharem que não têm condições de competir em pé de igualdade com os da rede particular por uma vaga de graduação em curso gratuito – tem sido uma das causas mais frequentes de evasão escolar. São jovens que tendem a engrossar a famigerada geração “nem-nem”, que não estuda nem consegue se inserir no mercado de trabalho formal. Uma lástima que o País precisa se esforçar em combater.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em uma década São Paulo viu cair 18,8% a quantidade de matrículas no ensino médio. Em 2013 foi 1,5 milhão de jovens; em 2022, 1,2 milhão. Isso sem contar as desistências pelo meio do caminho. A avaliação seriada pode dar a boa parte desses adolescentes o estímulo de que precisam para persistir nos estudos, pois serão submetidos a avaliações anuais durante as três séries do ensino médio. A média ponderada dos exames ditará a classificação.
O jovem precisa de incentivo e de objetivo. E o Brasil necessita urgentemente qualificar sua juventude. Como mostrou o último Censo do IBGE, o País, com 203 milhões de habitantes, caminha para perder seu bônus demográfico – situação em que a população em idade economicamente ativa supera o número de crianças e idosos. A hora de investir e qualificar é agora. Tomara que São Paulo puxe a fila.