A pandemia intensificou nas metrópoles de todo o mundo o interesse por medidas inovadoras para promover o desenvolvimento urbano sustentável. Paris está empenhada em configurar uma “cidade de 15 minutos”, onde as principais necessidades possam ser satisfeitas nessa fração de tempo. Cingapura, que atualmente importa 90% de sua comida, está impulsionando a agricultura urbana a fim de produzir 30% de suas necessidades nutricionais até 2030. Amsterdã passou a basear suas políticas urbanas no modelo “rosquinha”, onde o anel interior contém o mínimo que todos precisam para viver (como alimento, água, moradia, saneamento, educação e saúde); o exterior concentra objetivos ecológicos (como ações climáticas e biodiversidade); e o espaço entre os dois é onde a cidade pode prosperar, conectando as necessidades do mundo humano e do natural.
Roma acaba de lançar o Anel Verde, uma proposta de requalificação urbana especialmente focada nas zonas periféricas atravessadas pelas redes viárias. Trata-se de “uma visão de conjunto que propõe uma continuidade estrutural entre paisagem, sistemas ambientais e novas acessibilidades do sistema viário”, disse a prefeita Virginia Raggi. “O Anel Verde quer recosturar as cicatrizes da mobilidade na cidade.” O projeto é alicerçado em cinco pilares: meio ambiente; mobilidade inteligente e alternativa; qualidade e integração; desenvolvimento sustentável; e escuta e participação.
O programa propõe em primeiro lugar uma mudança de paradigma para integrar espaços edificados e não edificados. Nas zonas intermediárias entre o campo e a cidade, a proposta é desenvolver espaços híbridos, semiurbanos e semiagrícolas. Os espaços intersticiais devem passar “de ‘vazios’ urbanos à espera de ‘preenchimento’ imobiliário a locais de criação de valor ambiental, funcional e econômico”, disse Raggi. Isso implica uma reformulação dos direitos de edificação, de modo a, por um lado, adensar as cercanias dos nós da rede de transporte e, por outro, valorizar ambientalmente as áreas livres, por meio da utilização agrícola de espaços abandonados combinada com a renaturalização de áreas de valor ambiental e a interconexão entre os sistemas naturais urbanos (o “Cinturão dos Parques”).
Uma cidade conectada e intermodal, que promova soluções alternativas ao uso das redes viárias e do transporte público pesado, é outra prioridade. Para tanto, o projeto prevê um sistema diversificado de intercâmbios modais e de “hubs” metropolitanos. A potencialização dos serviços de compartilhamento de automóveis, motocicletas e bicicletas, com a extensão e integração aos serviços existentes, é a chave nesse processo.
O programa prevê também a revalorização de alguns espaços emblemáticos para que se tornem mais multifuncionais, com fácil acesso e inclusivos. Particularmente estratégicas são as portas de acesso à cidade, os nós de troca de transporte, as praças nas estações ferroviárias e metroviárias e outros lugares de conexão entre cidade, mobilidade e paisagem.
Todas estas transformações devem ser modeladas com participação civil. A prefeitura de Roma dá especial prioridade à “escuta do território, das partes interessadas qualificadas e institucionais, através de encontros com a comunidade e percursos de participação”. Animando todas estas propostas está a ideia de “uma metrópole futura, um novo desenho de cidade que crie um elo real entre os lugares”, disse a prefeita Raggi, “uma abordagem que vise a valorizar o patrimônio cultural e paisagístico através da integração destes espaços na vida cotidiana dos cidadãos, continuando a pensar a cidade sempre mais aberta à mobilidade alternativa”.
Ao isolar os cidadãos em suas casas, separando-os de sua cidade, a pandemia despertou como nunca os anseios pela cidade do futuro. Sejam lá quais forem as soluções locais, elas terão de combinar mais áreas verdes e mais núcleos densos, mais diversidade de usos e mais conexão entre eles. As novidades da cidade eterna e tantas outras mostram que a transformação já começou.