No sábado passado, Foz do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná, recebeu a 1.ª Cúpula Conservadora das Américas. A escolha do local foi simbólica, como explicou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos idealizadores do novo colóquio internacional. A cidade paranaense está na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Talvez a força daquelas magníficas quedas d’água também tenha servido de inspiração para a propulsão das ideias que pretendem dar “um novo rumo no mundo”, qual seja, uma radical guinada à direita.
Pouco se sabe sobre a tal Cúpula Conservadora das Américas além de ter sido concebida como um espelho invertido do Foro de São Paulo, organização que desde a década de 1980 reúne alguns partidos de esquerda. Decerto esse desconhecimento contribuiu para a grande discrepância entre o número de participantes previamente anunciado pela organização (2.000) e o número dos que compareceram ao evento (600), marcado por uma série de problemas técnicos e improvisos, de acordo com relatos da imprensa.
Se a Cúpula Conservadora das Américas pretende ser a antítese do Foro de São Paulo, é possível afirmar que sua ambição é bastante limitada. O Foro de São Paulo não precisa de contraponto. Não passa de uma associação anacrônica e inexpressiva que se presta tão somente a borrifar ranço ideológico do que há de pior no pensamento da esquerda da América Latina. Contrapor-se a uma entidade desse tipo é dar valor a quem não tem a menor importância do ponto de vista prático.
O Foro de São Paulo não é uma associação suportada por países fortes o bastante para propagar seus ideais mundo afora. Tampouco esses ideais se sustentam por si sós, ou seja, não têm valor intrínseco tão elevado a ponto de serem prontamente assimilados por todas as nações. Ataques pueris ao “imperialismo americano”, ao “neoliberalismo” ou ao “grande capital”, que formam o resumo de qualquer reunião do Foro de São Paulo, não exigem resposta. Perdem-se no vazio.
A organização da Cúpula Conservadora das Américas divulgou a Carta de Foz. O documento representa os “anseios dos conservadores no Brasil e nos demais países da América Latina”, segundo o deputado eleito Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), que apresentou a carta.
Dividido em quatro blocos – Cultura, Política, Economia e Segurança –, o documento cai no lugar comum que deveria combater. Fala, por exemplo, em “fortalecer a cultura de equilíbrio e independência entre os Poderes”, “combater o ativismo jurídico”, “desburocratizar o ambiente empreendedor” e “simplificar o sistema tributário”, e desígnios obscuros como “combater a cultura da ditadura verde”, “combater a cultura do banditismo e do vitimismo”, além de propor a “revisão e atualização do Código e do Processo Penal”.
Nada disso foi devidamente detalhado. Não se sabe, por exemplo, que tipo de reformas seriam necessárias, na visão dos signatários, na legislação penal. Também não se sabe o que seria uma “cultura do vitimismo”. Num dado momento, o presidente eleito Jair Bolsonaro participou da Cúpula por videoconferência e defendeu a “reforma do sistema de votação”, sem detalhar no que consistiria tal reforma.
Tal como se apresentou, a Cúpula Conservadora das Américas está mais para uma plataforma de projeção internacional do deputado Eduardo Bolsonaro, que manifestamente pretende ser uma espécie de líder da direita no continente, do que um fórum de quem, na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Hungria, Paraguai e Venezuela, se propõe a “discutir os problemas atuais que ocorrem em nosso País e no mundo”. Aliás, não se sabe o que faz a Hungria na cúpula de nações americanas.
A Cúpula Conservadora das Américas corre risco não desprezível de se tornar uma caricatura do Foro de São Paulo.