Quando chegaram ao Ministério da Educação (MEC), o ministro Camilo Santana e a secretária executiva Izolda Cela inspiraram grandes expectativas. Os ex-governadores vinham de uma bem-sucedida gestão no Ceará, uma das referências do Brasil na alfabetização de crianças e na melhoria dos índices de aprendizagem. O histórico da dupla naquele Estado também era um auspicioso sinal de disposição do governo de, enfim, dar prioridade à educação básica, área negligenciada há muito tempo, inclusive nas administrações lulopetistas. O “novo MEC” seria, por fim, um alento depois da tumultuada gestão de Jair Bolsonaro no Ministério, que deixou o País numa armadilha: de tão ausente e inoperante na educação, qualquer avanço promovido pela futura equipe já deixaria a sensação de dever cumprido. Passado o primeiro ano de gestão, o ministro e seus auxiliares passam a colecionar o ônus das expectativas elevadas.
É possível dizer que ficou para trás o desalento de uma pasta cujas prioridades se concentravam na defesa do ensino domiciliar, na militarização da educação e na promoção de guerras culturais e ideológicas – além da dificuldade de diálogo com a sociedade. O MEC encaminhou iniciativas relevantes, como o fomento do ensino em tempo integral e o compromisso com a alfabetização, cujos indicadores sofreram abalos profundos com a pandemia. E em reação a todos os setores que atuam com a educação, o governo também retomou a revisão do Novo Ensino Médio.
Apesar dos sinais positivos, parece pouco diante das expectativas em torno da reputação da equipe e também pelo tamanho dos desafios educacionais. Nesse terreno, o histórico e as promessas se mostram insuficientes. A velocidade de implantação tem deixado a desejar em muitas de suas frentes anunciadas como prioritárias – é o caso das escolas conectadas, que até o fim do ano estavam sem plano de implementação. Há evidências de temores no Ministério ante as pressões da base sindical petista, habituada a padrões antigos de gestão e adepta de teorias conspiratórias sobre a influência privada na educação pública. E mais: não parece haver um plano nítido de melhoria da gestão escolar nem uma verdadeira obsessão com a aprendizagem, que poderia se converter na grande marca do atual governo.
Se o MEC anunciou bons programas, houve atrasos na liberação de recursos, indício de planejamento deficiente e anúncios prematuros. Se lançou o estímulo à escola em tempo integral, deixou o Brasil ainda carente de uma proposta ampla em favor da educação integral – que vai muito além de aumentar o tempo dos alunos na escola, como mostra o modelo adotado com sucesso em Pernambuco. Se trabalhou para corrigir os problemas do Novo Ensino Médio, faltou uma proposta mais precisa sobre o que espera da etapa que tem alguns dos piores indicadores do País. Se abriu suas portas para mais diálogo, faltou habilidade política para construir consensos no Congresso, o que vem criando barreiras na tramitação da reforma. Se anunciou freios à farra dos cursos a distância, deve uma proposta consistente e prioritária para uma das grandes deficiências nacionais – a formação inicial de professores.
Enquanto isso, Lula da Silva segue padecendo de seu vício de origem: a crença inabalável do poder do ensino superior e a aposta na expansão. Seja nas universidades federais, seja nos institutos federais, o presidente só parece enxergar a criação de unidades e expansão de vagas. Mas deveria dedicar atenção especial ao aprimoramento da gestão e à resolução dos problemas de eficiência, incluindo formas de contratação, qualidade da produção de pesquisa e modelos de aproximação com o setor privado.
Os avanços são tímidos e lentos, mas não está escrito nas estrelas que o MEC de Camilo, Izolda e Lula entrará em espiral descendente ou só terá pálidos resultados a mostrar no futuro próximo. Há competência técnica e capacidade de diálogo e trabalho no Ministério, desde que não esteja resignado ao ritmo lento de melhorias e não hesite em enfrentar as resistências para implementar medidas mais inovadoras. É tempo de mais audácia e sentido de urgência.