No último domingo, passados apenas dez minutos do encerramento do horário de votação em todo o País, o município catarinense de São Cristóvão do Sul já sabia quem eram os seus eleitos. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, a definição de segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) demorou um pouco mais, é claro, mas isso se deveu mais pelo tamanho do eleitorado e pela disputa acirrada entre três candidatos para saber quem iria ao segundo turno do que pela organização das eleições em si – exemplar, como de hábito.
Ainda no domingo, como destacou a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, os brasileiros foram dormir conhecendo os prefeitos e vereadores eleitos, bem como quem disputaria o segundo turno. Não é exatamente novidade, já que o sistema eleitoral do País, eleição após eleição, demonstra sua eficiência e sua transparência.
A esta altura, portanto, a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro não deveria ser mais notícia. No entanto, considerando-se que esta foi a primeira eleição depois da ofensiva golpista dos bolsonaristas em 2022, da qual o questionamento sobre as urnas eletrônicas foi um dos principais dínamos, faz-se necessário ressaltar que, como sempre, a eleição em todos os municípios brasileiros transcorreu sem qualquer incidente sério relacionado ao sistema de votação e que os resultados foram conhecidos no mesmo dia.
Registre-se, aliás, que vários bolsonaristas foram eleitos País afora, outros tantos foram derrotados, e não se ouviu nenhuma reclamação deles sobre as urnas. É como se o assunto, que mobilizou o País e gerou enorme tensão institucional na campanha eleitoral de 2022, nunca tivesse existido.
Mas existiu, e não se pode esquecer que Bolsonaro se tornou inelegível exatamente porque abusou de seu poder como presidente ao questionar a confiabilidade das urnas perante representantes diplomáticos estrangeiros em meio à campanha de 2022.
Agora, mesmo clamorosamente derrotado no pleito municipal ao qual verdadeiramente se dedicou, o do Rio de Janeiro, onde o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) perdeu em primeiro turno para o prefeito Eduardo Paes (PSD), não se ouviu o ex-presidente se queixar do sistema eleitoral do País. Pode até ser que ele volte a fazê-lo, porque a natureza golpista sempre fala mais alto, mas na verdade isso não importa, já que, enquanto a credibilidade de Bolsonaro é cada vez menor, as urnas seguem motivo de orgulho nacional, orgulho este renovado a cada eleição – quando, como bem disse a ministra Cármen Lúcia, vamos dormir no próprio dia do pleito conhecendo todos os resultados, computando-se milhões de votos em poucas horas, algo impensável em países muito mais ricos e poderosos que o Brasil. É o notório caso dos Estados Unidos, que no mês que vem, ao escolher seu novo presidente, voltará a exibir ao mundo seu caótico sistema de votação.