As perdas de água em São Paulo por vazamentos na rede de distribuição e por ligações clandestinas chegaram a 31,4% do total de água tratada pela Sabesp em 2016, depois de dois anos de queda. Isso significa que, embora o consumidor paulista venha se esforçando para reduzir o gasto de água e, assim, evitar uma nova crise hídrica como a que atingiu o Estado em 2014 e 2015, o próprio sistema continua vulnerável, afetando o faturamento e, consequentemente, o poder de investimento da concessionária para melhorar e ampliar o serviço. O aumento das perdas no ano passado indica que o problema não está sendo tratado com a necessária urgência, e provavelmente São Paulo terá de enfrentar novas crises hídricas mesmo tendo água de sobra. Em 2015, as perdas verificadas pela Sabesp foram da ordem de 28,5%, o mais baixo patamar já registrado pela empresa. A diminuição parecia ser uma tendência, já que o desperdício de água havia caído de 31,2% em 2013 – índice dentro da média histórica – para 29,8% em 2014, primeiro ano da mais recente crise de abastecimento. A explicação para o recuo, segundo especialistas, foi justamente a redução da pressão na rede para distribuir a água, como resultado da necessidade de economizar. A pressão menor forçou menos as tubulações mais antigas, resultando em menos vazamentos. Com o fim da crise hídrica, anunciado pelo governo do Estado em março de 2016, verificou-se, segundo a Sabesp, um “aumento da disponibilidade de água nas redes”. Desse modo, foi possível proceder à “diminuição do período de gestão de pressão” para “diminuir o desconforto da população”. O problema, conforme a própria Sabesp admite, é que houve “uma elevação proporcional das perdas de água” em razão do aumento da pressão. Com isso, a Sabesp tenta demonstrar que o aumento das perdas já era esperado depois da normalização do abastecimento. Mas os números indicam que o prejuízo de 31,4% verificado em 2016 é ainda maior do que o observado em 2013 (31,2%) e 2012 (31,1%), anos em que não havia crise hídrica, e ficou muito acima da meta de 28,4% estipulada pela própria Sabesp para o ano. Felizmente para São Paulo, o regime de chuvas no ano passado aumentou de forma expressiva os estoques de água, reduzindo o risco de uma nova crise hídrica – uma possibilidade real diante das perdas do sistema. Em 2016, o índice de armazenamento do Sistema Cantareira, por exemplo, subiu de 14,7% para 58,8%, sem contar as cotas do chamado “volume morto” dos reservatórios. E a tendência permanece neste ano, pois apenas em janeiro o volume de chuvas no Cantareira foi 40% maior do que a média para o mês. Além disso, a população continua a economizar água. Seja em razão das campanhas de conscientização e do receio dos paulistas de ficarem sem água, seja porque a tarifa de água ficou mais alta, o consumo está hoje 13% menor do que antes da crise hídrica de 2014 e 2015. Portanto, parece razoável presumir que o aumento das perdas do sistema, mesmo diante do menor consumo, talvez seja resultado de investimentos insuficientes. Embora a Sabesp tenha gastado mais de R$ 1 bilhão desde 2009 para enfrentar o problema, a crise hídrica forçou a empresa a conter esse investimento nos últimos anos, já que a redução do consumo levou a uma acentuada queda de receita. Como explicou Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil, especializado em saneamento básico e abastecimento de água, não se pode parar nunca de renovar o sistema, pois “o envelhecimento natural da rede faz com que esse índice (de perdas) piore sozinho e, por isso, é preciso investir de forma contínua para reduzir as perdas a longo prazo”. Segundo dados da Sabesp, 51% da rede de abastecimento na Grande São Paulo em 2014 tinha mais de 30 anos de uso, o que mostra que o sistema não foi renovado quando deveria. Considerando-se que 65% do total de água desperdiçada corresponde a vazamentos em razão do mau estado das tubulações, é razoável esperar que esse problema seja enfrentado sem mais demora.