O presidente Lula da Silva recentemente “inaugurou” o Comperj – o complexo petroquímico no Rio de Janeiro que teve sua pedra fundamental lançada pelo próprio Lula em outra encarnação, no seu segundo mandato, e que levará no total 21 anos para finalmente entrar em operação plena, em 2029, tudo o mais constante. Como é do seu feitio, o demiurgo transformou o que deveria ser uma vergonha em um “ato de reparação”, segundo suas palavras.
O Comperj é um dos símbolos mais vistosos da trevosa era lulopetista que arruinou o País com sua gastança e sua corrupção. O complexo, que deveria custar US$ 6,2 bilhões, consumiu quase 5 vezes mais e ainda não funciona como planejado. Por outro lado, a obra foi uma das protagonistas do petrolão, o esquema de corrupção na Petrobras que abasteceu os cofres petistas e dos partidos comparsas.
Pois é dessa “reparação” que Lula fala: para o chefão petista, a Lava Jato, que flagrou o petrolão, foi uma operação destinada a “desmoralizar a Petrobras” para forçar sua venda. Atribuindo essa conspiração a “eles”, pronome que Lula usa para designar genericamente aqueles que, em sua definição, seriam os inimigos do Brasil e dos brasileiros pobres, o presidente chamou de “bando de imbecil” (sic) os que defendem a privatização da Petrobras.
E assim chegamos ao cerne do discurso de Lula, que deveria ser tomado como exemplar do que o petista deseja para seu terceiro e talvez último mandato: mais do que em qualquer outro momento desde que começou a exercer o poder, Lula parece determinado a ressuscitar o raivoso líder sindical dos anos 80, que ele nunca deixou de ser, mas que as necessidades políticas o haviam obrigado a domesticar.
Aquele personagem investia toda a sua energia na ideia de que os empresários são inimigos da “classe trabalhadora”. Aquele Lula não escondia sua repulsa à iniciativa privada, em qualquer de suas expressões. Aquele Lula mandou o PT votar contra a Constituição de 1988 porque, segundo o partido, o texto “eleva a propriedade privada a direito fundamental da pessoa humana”.
Desde o nascimento do personagem “Lulinha Paz & Amor”, que os marqueteiros petistas inventaram em 2002 para finalmente ganhar uma eleição presidencial, Lula vem tentando se passar por moderado e pragmático. Na mais recente disputa, em 2022, conseguiu os votos de eleitores de centro ao se identificar como o líder da “luta pela democracia”, malgrado seja incapaz de condenar as ditaduras de companheiros como Maduro e Ortega.
Agora, talvez por ter se dado conta de sua finitude, Lula parece ter se cansado de fingir ser o que nunca foi. Seu discurso no Comperj poderia ter sido feito em Vila Euclides. Numa saraivada de ataques, desqualificou os empresários do País, que em sua definição seriam simplesmente incapazes de melhorar a vida dos brasileiros. A julgar por suas palavras, todo o setor produtivo deveria ser do Estado, que seria um administrador mais sensível às reais necessidades do povo.
A horas tantas, perguntou: “A Vale está melhor agora que foi privatizada ou ela era melhor quando ela era uma empresa do Estado brasileiro?”. Se o critério fosse o valor de mercado, a Vale passou de R$ 39,5 bilhões em 1997, ano da privatização, para R$ 250 bilhões hoje. Mas o critério de Lula não é esse: para o petista, falta “bondade” à Vale privatizada.
Ele acha um horror que o CEO da Vale ganhe R$ 55 milhões por ano, e não R$ 55 mil, como se isso fosse uma ofensa aos pobres, e não a remuneração arbitrada pelo mercado para recompensar a expertise necessária para administrar uma empresa do porte da Vale. Pouco importa que a empresa recolha milhões em impostos e gere milhares de empregos. Para Lula, empresa privada boa é aquela que abre mão do lucro em favor de projetos do Estado e cujos executivos sejam abnegados trabalhadores que renunciam a altos salários em troca do orgulho de fazer parte desses projetos.
Há muito mais no tal discurso, mas só essa seleta basta para constatar que Lula decidiu fazer campanha aberta contra a iniciativa privada que não se dobra a seus delírios.