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A indolência de Lula na crise ambiental

Na mitologia lulopetista, o Estado é a solução para tudo. Mas nas áreas que de fato dependem da ação do Estado, como a ambiental, governo Lula oscila entre negligência e demagogia

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Por Notas & Informações
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Embriagado por sua ideologia estatólatra, o governo de Lula da Silva gosta de enfiar a mão grande e mui visível do Estado em tudo, seja na governança da Petrobras, seja nos projetos da ex-estatal Vale. Não é por acaso que o PT andou a dizer por aí que o modelo chinês, de capitalismo de Estado, é seu sonho de consumo. E também não é por acaso que o governo reduziu o Ministério da Fazenda a um “Ministério da Arrecadação”, visto que não há outra maneira de sustentar o Estado pantagruélico e insaciável que Lula e o PT julgam ideal. No entanto, quando se faz realmente necessário, o Estado sob administração lulopetista é intoleravelmente ausente.

Tome-se o exemplo da área de meio ambiente, uma pauta não só consagrada, como urgente por todo o mundo, mas que poderia ser um poderoso ativo do Brasil e – o mais surpreendente – que é sacrossanta para as novas esquerdas.

Depois do governo de um rematado antiambientalista como Jair Bolsonaro (o folclórico “BolsoNero”), até um poste faria boa figura. Mas Lula é um formidável animal político que fareja como ninguém oportunidades propagandísticas. Ele encheu os bolsos de seus marqueteiros, subiu a rampa do Planalto com um indígena de cocar, fez as pazes com a popstar Marina Silva e deu a ela um ministério de butique, afinou o gogó e correu o mundo se autoproclamando, em pajelanças cuidadosamente coreografadas, como um herói da floresta e salvador do planeta. Para carimbar sua obra redentora, concertou com a ONU a hospedagem da COP-30.

Mas a pouco mais de um ano da COP e próximo à metade de seu mandato, “os esforços do governo estão um pouco dispersos”, sem “a intensidade necessária”, “um pouco lento”. Foram as palavras diplomáticas que o empresário Pedro Wongtschowski, uma das lideranças mais competentes e comprometidas com a causa ambiental no Brasil, encontrou para dizer a este jornal o que este jornal pode dizer sem meias palavras: que o governo está fazendo muito pouco e bem menos do que se esperava.

A Amazônia queima. O Pantanal queima. O Cerrado queima. Marina Silva, que saiu do PT, mas manteve os cacoetes lulopetistas, saiu a terceirizar responsabilidades: a culpa ora é de El Niño, ora de La Niña; ora do Congresso, ora do crime organizado. O sucateamento dos órgãos de fiscalização promovido por Bolsonaro foi desastroso, mas a greve que paralisou o Ibama por meio ano, já sob Lula, não foi menos. O morticínio dos yanomamis já neste governo quebrou o recorde do governo Bolsonaro. Nos tempos de Bolsonaro, petistas e seus simpatizantes usaram a expressão “genocídio”; hoje, o termo foi aposentado.

Lula cobra caro dos países “ricos”, mas aqui não hesita em subsidiar a produção de automóveis e sobretaxar veículos elétricos. Em soluções ambientais urgentes, como o Marco do Saneamento, andaria para trás se não fosse barrado pelo Congresso.

No governo, Marina Silva é um vaso chinês – de grande valor, mas com utilidade meramente decorativa. Esse vaso, por sinal, está cheio até a boca de boas intenções, mas sustentadas em propostas irrealistas, contraproducentes ou irresponsáveis. Marina é refratária a soluções que dariam sustentabilidade a ações ambientais, como a exploração do petróleo da Margem Equatorial. Ela reclama recursos para prevenção e adaptação aos extremos climáticos, mas não apresentou nada concreto ao Congresso e flerta com novas maquiagens fiscais.

Wongtschowski listou iniciativas que poderiam rechear uma cesta de ofertas do Brasil na COP: créditos de carbono, agropecuária sustentável, reflorestamento de áreas degradadas, regularização fundiária e tecnologias verdes. Nesta última – mas o mesmo se diria das outras –, o problema, como lembrou o empresário, “não é a falta de recursos” é “a falta de projetos viáveis para absorver esses recursos”.

Tal como faz aqui com a malfadada “Frente Ampla Democrática”, Lula continua a desfilar nos palcos do mundo sua cantilena salvacionista sobre o meio ambiente. Mas, enquanto as plateias se esvaziam ao som de sua voz rouca e desafinada, as florestas brasileiras viram fumaça – e o Brasil perde uma chance de ouro de liderar uma área crucial para o mundo.