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A OCDE e a tragédia educacional

Ensino de má qualidade nega aos jovens brasileiros uma boa capacitação profissional

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Por Redação
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O mais novo levantamento comparativo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no campo da educação apresenta números tão assustadores sobre nosso sistema de ensino quanto os que foram divulgados há duas semanas pelo Ministério da Educação.

Intitulado Um Olhar sobre a Educação, o estudo abrange 36 países filiados à OCDE, quase todos desenvolvidos, e 10 países parceiros da entidade, como China, Rússia, Índia, África do Sul, Colômbia, e correlaciona o baixo nível de aprendizado escolar com maior desigualdade de renda. Segundo o levantamento, por causa das deficiências de seu sistema de ensino, que não prepara as novas gerações para as novas técnicas de produção, o Brasil tem o segundo maior nível de desigualdade de renda dos 46 países estudados.

O estudo também revela que 52% dos brasileiros na faixa etária entre 25 e 64 anos não concluíram o ensino médio. Esse porcentual representa mais do que o dobro da média da OCDE. À frente do Brasil, a Argentina e a Colômbia têm, respectivamente, 39% e 46% dos adultos nessa faixa etária sem diploma desse ciclo de ensino. Os dois países com pior colocação no levantamento foram a Costa Rica e o México, onde 60% e 62% dos adultos dessa faixa etária, respectivamente, não completaram o ensino médio.

A pesquisa aponta ainda outro problema brasileiro: o número de alunos com idade superior a 14 anos que abandonaram os estudos. Na faixa etária entre 15 e 19 anos, 69% dos adolescentes e jovens estão matriculados numa escola. E, na faixa dos jovens de 20 a 24 anos, só 29% estudam. Nos países da OCDE, a média é de 85% e 42%, respectivamente. Com relação ao acesso ao ensino superior, a pesquisa revela que somente 17% dos jovens com idade entre 24 e 34 anos conseguem ingressar no ensino superior. Há 11 anos, o índice era de 10%. Apesar do aumento, o Brasil está 27 pontos porcentuais abaixo da média da OCDE e atrás de quase todos os demais países da América Latina com dados disponíveis, como Argentina, Chile, Colômbia e México.

Além disso, as desigualdades regionais têm agravado a formação das novas gerações. No Maranhão, que é o Estado com o menor Produto Interno Bruto per capita, somente 8% dos jovens adultos conseguem formar-se no ensino médio e ingressar no ensino superior. No Distrito Federal, 33% dos brasileiros dessa faixa etária chegam à universidade. Essa disparidade regional entre estudantes que conseguem vencer a barreira do vestibular é a maior registrada pelo levantamento da OCDE. O Brasil fica abaixo até da Rússia, que também possui várias regiões de diferentes tamanhos e populações de perfis socioeconômicos distintos.

Na mesma linha dos números do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que foram divulgados há uma semana, o levantamento da OCDE aponta os efeitos trágicos da crise do nosso sistema educacional. Se no passado o ensino médio preparava os estudantes para o mercado de trabalho ou para o ingresso no ensino superior, atuando assim como instrumento de ascensão social, hoje, em face da revolução tecnológica, ele oferece apenas “o mínimo exigido para a vida numa sociedade moderna”, afirma o estudo.

Por isso, ao impedir que os jovens e adolescentes possam aprender e explorar suas capacidades cognitivas, um ensino médio sucateado e de má qualidade nega-lhes a capacitação necessária para que possam desempenhar de modo competente uma atividade profissional, conclui a OCDE. Em outras palavras, nega-lhes a possibilidade de se inserir no mercado formal de trabalho e de se emancipar econômica e culturalmente. Também dificulta a formação do capital humano de que o País necessita para a passagem a níveis mais sofisticados de produção. E ainda impede o Brasil de ocupar novos espaços no comércio mundial, diante de competidores que não medem esforços para investir seriamente em boa educação, ciência e tecnologia.