Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A relevância do sapo-cururu

À míngua, Comissões de Meio Ambiente no Congresso discutem de tudo, menos o que importa

Exclusivo para assinantes
Por Notas & Informações
2 min de leitura

Mais preocupados com campanhas eleitorais pelo País e empenhados em distribuir para seus redutos parte dos bilhões em emendas parlamentares, deputados e senadores parecem pouco ou nada se importar com a grave crise ambiental do País. Somente a indiferença por esse tema tão vital para o Brasil e todo o mundo pode explicar o esvaziamento das Comissões de Meio Ambiente da Câmara e do Senado.

O desinteresse com biomas que ardem é tanto que a presidente da comissão do Senado, Leila Barros (PDT-DF), disse, em tom de desabafo, que está perdendo o sono. É para tanto. A poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes, o Parque Nacional de Brasília está ardendo, e a população da capital federal sofre há dias com um ar irrespirável.

Nos sonhos intranquilos da senadora, certamente está a penúria da comissão, que recebeu míseros R$ 100 mil na partilha das emendas parlamentares. Já a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, que potencialmente irriga obras Brasil afora, abocanhou nada menos do que R$ 2,5 bilhões, ou 25 mil vezes mais do que o valor destinado ao colegiado responsável por cuidar da pauta ambiental.

Talvez das salas climatizadas da Casa do Salão Azul os senadores não consigam ver nem sentir os efeitos do fogo que destrói, principalmente, a Amazônia e o Pantanal. E, para piorar, vale ainda lembrar que as emendas de comissão, que ultrapassaram R$ 11 bilhões neste ano, avançaram sobre o espaço anteriormente ocupado pelo inconstitucional orçamento secreto, revelado por este jornal.

E não menos insensíveis estão os colegas deputados que circulam pelo Salão Verde, que fica ao lado. Na Câmara, enquanto as chamas avançam pelo território nacional há meses e a fumaça levada pelos ventos esconde o céu em diversas regiões do Brasil, na zona rural e nas pequenas e grandes cidades, deputados discutem, e aprovam, na Comissão de Meio Ambiente, projetos para homenagear o sapo-cururu e para instituir a guarda compartilhada de animais de estimação, se houver dissolução de casamento ou união estável.

Como mostrou o Estadão, de 2019 até este ano, apenas 0,02% do total de R$ 194 bilhões capturados do Orçamento pelo Congresso foi destinado para o combate a incêndios. Isso significa pouco mais de R$ 50 milhões. Mais do que má vontade, essa irresponsabilidade agora cobra um preço muito mais alto.

A irrelevância das Comissões de Meio Ambiente, e que faz a senadora Leila Barros perder o sono, lamentavelmente também atinge os demais colegiados temáticos. Não é de hoje que essas comissões deixaram de ter protagonismo no debate de grandes temas nacionais, haja vista que assuntos delicados, não raro, são levados diretamente a plenário. Agora, com as vultosas cifras herdadas do orçamento secreto, esses órgãos mais parecem balcões de negócios. E, neles, o ambiente não tem nenhum valor.

Tudo Sobre