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Adolescentes em risco crescente

Levantamento do IBGE aponta tendências preocupantes no comportamento de alunos do 9.º ano do ensino fundamental: o consumo de álcool e drogas cresce e cai o uso de preservativos

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Por Notas & Informações
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Uma comparação inédita de pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2009 e 2019 apontou tendências preocupantes no comportamento de adolescentes, especialmente de meninas, em todas as capitais do País. Os dados, anteriores à pandemia de covid-19, mostram que cresceu a parcela de quem já experimentou bebida alcoólica e drogas ilícitas, ao passo em que houve queda no uso de preservativos. A insatisfação com o próprio corpo, seja por quem se acha gordo ou magro demais, também aumentou.

As informações foram coletadas na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em parceria com o Ministério da Saúde e apoio do Ministério da Educação (MEC). Em suas quatro edições, nos anos de 2009, 2012, 2015 e 2019, a PeNSE teve foco em alunos do 9.º ano do ensino fundamental, na rede pública e particular. Os levantamentos mais recentes, porém, incluíram amostras na faixa etária de 13 a 17 anos. 

Ciente das diferenças metodológicas de cada edição, o IBGE promoveu a harmonização estatística dos dados, a fim de possibilitar a comparação. Nem todas as informações, porém, estão disponíveis nos quatro anos pesquisados. O estudo foi classificado como de caráter experimental e divulgado no último dia 13 de julho.

O porcentual de estudantes que experimentaram bebida alcoólica subiu de 52,9% para 63,2%, entre 2012 e 2019. O aumento foi mais expressivo entre as meninas: de 55% para 67,4% (entre rapazes, o indicador cresceu de 50,4% para 58,8%). Houve expansão também da parcela de alunos que contaram ter feito uso de drogas ilícitas: de 8,2% para 12,1%, no período de 2009 a 2019. 

Em sentido oposto, o porcentual de estudantes que usaram preservativo na última relação sexual caiu de 72,5% para 59%, também de 2009 a 2019. Entre os meninos, esse índice recuou para 62,8% e, entre as meninas, para 53,5%. Ou seja, quase metade das alunas que já haviam iniciado a vida sexual informou ter praticado sexo desprotegido na última relação. 

Como se sabe, quem consome bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas, independentemente da idade, fica mais propenso a adotar comportamentos de risco. Eis uma combinação perigosa no que diz respeito ao uso de preservativos: pesquisas já demonstraram que pessoas alcoolizadas ou sob o efeito de entorpecentes estão mais sujeitas a fazer sexo desprotegido. Tal comportamento abre caminho para doenças sexualmente transmissíveis (DST) e para a gravidez na adolescência, um dos principais fatores de evasão escolar entre meninas.

A série histórica mostra ainda que cresceu a insatisfação dos adolescentes com o próprio corpo: o porcentual dos que se achavam gordos ou muitos gordos subiu de 17,5% para 23,2%; e o dos que se julgavam magros ou muito magros passou de 21,9% para 28,6%. Ora, a adolescência é um período de profundas transformações − e inquietações. Nos últimos anos, a crescente exposição em redes sociais já foi apontada como possível fonte de angústia para uma parcela da juventude, assim como para muita gente em outras faixas etárias.

No tocante aos estudantes do 9.º ano do ensino fundamental, as escolas têm enorme contribuição a dar. Seu papel, vale dizer, não deve ficar restrito à mera disseminação de informações. Afinal, temas como o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas, assim como o uso de preservativos, envolvem questões comportamentais que vão muito além de saber o que é “certo” ou “errado”. Nesse sentido, cabe às escolas não apenas debater tais assuntos, mas criar espaços de escuta, acolhimento e orientação dos alunos – tarefa essa que requer o apoio de psicólogos e profissionais da saúde.

A infinidade de tabelas e dados reunidos pelo IBGE extrapola os limites desta página. É material sobre o qual gestores e pesquisadores devem se debruçar para traçar políticas públicas que reduzam vulnerabilidades e promovam o pleno desenvolvimento de toda a juventude brasileira, não apenas nas capitais. Como se sabe, a pandemia de covid-19 agravou antigos problemas e acrescentou novos. Levar em conta os resultados da PeNSE é um bom ponto de partida.