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Banco Central faz o necessário

Expansionismo fiscal do governo Lula dificulta a tarefa do BC, e essa divergência entre as políticas monetária e fiscal exige juros cada vez mais altos para trazer a inflação à meta

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Por Notas & Informações
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Como esperado, o Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual (p.p.), para 10,75% ao ano. A decisão foi unânime, e o tom do comunicado foi tão duro que parte do mercado financeiro viu no texto fatores suficientes para um aumento maior que o anunciado.

Foi a primeira vez que os juros subiram desde o início do governo Lula da Silva. A última elevação havia ocorrido em agosto de 2022, em plena campanha eleitoral, quando a Selic chegou a 13,75% ao ano.

De fato, o Comitê de Política Monetária (Copom) não tinha alternativa para conter a piora das expectativas. A atividade econômica segue resiliente, o mercado de trabalho permanece aquecido, as projeções de inflação continuam a aumentar e o câmbio está longe do patamar registrado no início do ano.

Mas, desta vez, o Banco Central reavaliou o hiato do produto para o campo positivo – ou seja, reconheceu que a economia está crescendo acima de sua capacidade. Além disso, o BC admitiu que o balanço de riscos está assimétrico, ou seja, que há mais chances de que a inflação suba do que caia.

No cenário de referência, as projeções para a inflação continuaram a aumentar – de 4,2% para 4,3% em 2024, de 3,6% para 3,7% em 2025 e de 3,4% para 3,5% em 2026. Em todos os casos, as previsões estão acima da meta de 3%, com a qual o BC sustenta ter firme compromisso. Cumpri-la, portanto, requer uma atividade econômica menos aquecida e, portanto, juros mais elevados.

Trata-se de um cenário aventado por muitos economistas logo após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que surpreendeu todos ao aumentar 1,4% ante o primeiro trimestre e 3,3% na comparação com o segundo trimestre de 2023.

Mas tudo muda de figura quando a autoridade monetária compartilha dessa mesma percepção. E o fato de que isso já constou do comunicado publicado logo após a reunião, e não somente na ata que é divulgada somente na semana seguinte, é sinal de que há convergência entre todos os diretores – e não apenas alguns ou vários deles.

A decisão do Copom já chamaria mais atenção do que o costume pelo aumento da Selic depois de tanto tempo, mas o fato de que o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, reduziu os juros pela primeira vez desde 2020 – e em 0,50 ponto porcentual, para o patamar entre 4,75% e 5%, mais que o 0,25 p.p. esperado pela maioria – gerou injustificada polêmica no mundo político, sobretudo após a pequena e pontual deflação registrada em agosto.

São situações incomparáveis. Afinal, os Estados Unidos passam por um momento muito diferente do vivenciado pela economia brasileira. Ao contrário do que ocorre no Brasil, por lá, a inflação está cada vez mais próxima da meta de 2%, a criação de postos de trabalho veio abaixo do esperado e o cenário indica um enfraquecimento da atividade econômica.

O Fed não deu sinalizações mais claras sobre o que fará a partir de agora, mas há uma perspectiva de que o diferencial entre as taxas de juros nos EUA e no Brasil possa atrair investidores estrangeiros e ajudar a valorizar o real ante o dólar, contribuindo para arrefecer parcialmente a inflação. Ninguém acredita, no entanto, no retorno do câmbio a níveis inferiores a R$ 5, como se via no início deste ano.

O Banco Central tampouco se comprometeu com sinalizações mais firmes sobre seus próximos passos, mas já há quem aposte que a Selic pode subir até 12% em janeiro – até então, a maioria dos analistas esperava 11,5%. Os ajustes nas expectativas supõem que o Copom deva acelerar o ritmo de alta dos juros de 0,25 para 0,50 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro.

Não há razões para culpar a autoridade monetária. A atitude expansionista do governo Lula da Silva dificulta a tarefa do Banco Central, e essa divergência entre as políticas monetária e fiscal exige juros cada vez mais altos para trazer a inflação de volta ao centro da meta. É o preço da retomada de manobras e da emissão de créditos extraordinários para não contabilizar gastos no cálculo do resultado primário e de perseguir o limite inferior da meta fiscal.