Ainda fraco e operando em marcha lenta, o setor industrial perdeu lucratividade no ano passado, porque os preços dos manufaturados subiram em média 8,4%, enquanto os custos aumentaram 8,8%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). As empresas foram incapazes de repassar totalmente ao consumidor a alta de custos – fato explicável pelo desemprego ainda muito alto e pela cautela das famílias num ambiente de muita incerteza. Pesquisas sobre inflação já haviam mostrado o descompasso entre os aumentos no atacado e no varejo. Mas a indústria ganhou poder de competição e as vendas externas de manufaturados, US$ 86,58 bilhões, foram 7,4% maiores que as do ano anterior, pela média dos dias úteis. A competitividade foi favorecida principalmente pela desvalorização do real, fator de barateamento dos produtos brasileiros em moedas estrangeiras.
O poder de competição da indústria cresceu no mercado externo e também no mercado interno, diante dos produtos importados. Mas o encarecimento das importações acabou também afetando os custos de produção. Os preços dos bens intermediários de origem estrangeira ficaram 22,3% mais altos que a média de 2017. O mesmo tipo de comparação mostrou alta de 11,9% nos preços dos insumos produzidos no País. Em conjunto, os intermediários encareceram 13,4% em 2018.
A depreciação cambial produz, como ficou mais uma vez evidenciado, um ganho apenas parcial e temporário de competitividade. A desvalorização do real, bem-vinda pelos exportadores e por quem precisa enfrentar a concorrência dos bens importados, acaba também pressionando os preços domésticos fortalecendo as pressões inflacionárias. Poder de competição, no médio e no longo prazos, só é sustentável quando baseado em ganhos de produtividade, pouco sensíveis há alguns anos, e em inovações, ainda mais escassas.
Os custos industriais foram também afetados pela crise do transporte rodoviário em maio. A paralisação dos caminhões, embora tenha durado 11 dias, produziu efeitos prolongados. A criação de uma tabela de fretes, infeliz iniciativa do Executivo sacramentada pelo Congresso, inflou custos e impôs perdas a todos os setores. Essa aberração, um cartel com carimbo oficial, continua prejudicando a economia brasileira, porque o Poder Judiciário foi incapaz, até agora, de restabelecer o funcionamento normal do mercado de transporte rodoviário, apesar das demandas da indústria e do setor rural.
O custo da energia, com alta de 18,2% em relação à média de 2017, também pressionou a indústria. A eletricidade encareceu 12,8%, enquanto o preço do óleo combustível subiu 41,3%, como reflexo das condições do mercado global.
O estudo de custos publicado pela CNI traz um importante dado positivo. Mais uma vez o relatório mostra uma redução do custo do capital de giro. Embora os juros pagos pelo tomador final permaneçam elevados, o custo dos financiamentos tem acompanhado, a distância, a redução da taxa básica, a Selic, promovida pelo Banco Central (BC) como parte da política monetária.
O capital de giro encareceu no terceiro trimestre, em fase de incerteza eleitoral, e voltou a cair nos três meses seguintes. Na média, esse financiamento custou 15,5% menos do que em 2017. Em relatório anterior a CNI já havia chamado a atenção para o barateamento do capital de giro. Confirma-se mais uma vez a excelência do trabalho conduzido no BC pelo presidente Ilan Goldfajn, recém-substituído no posto pelo economista Roberto Campos Neto. A equipe chefiada por Goldfajn derrubou a inflação e criou, assim, condições para cortar a taxa básica, mantida há um ano em 6,5%.
No trimestre final de 2018 os custos industriais foram 0,3% menores que no terceiro. Foi a primeira queda trimestral desde o terceiro trimestre de 2016. Juros, tributos e bens importados contribuíram para o alívio. Mas permanece o maior desafio. Sem maior segurança quanto aos negócios, o crescimento industrial tende a continuar medíocre. Os sinais para o deslanche dependem basicamente do governo.