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O jornalista Carlos Alberto Di Franco escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião | Pornografia – vício devastador

Enquanto o acesso a drogas é ilegal, a pornografia não tem restrições. Basta um clique. Sem necessidade de deslocamentos ou custos adicionais

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A pornografia é um negócio poderoso, crescente e devastador. Causa dependência, desestrutura a afetividade, desestabiliza a família e passa uma pesada fatura no campo da saúde mental. Mas o mais grave, de longe, é a estratégia de “mesmitificação” do material pornográfico. Eliminou-se o carimbo de proibido. Superou-se o constrangimento da vergonha. Deu-se ao conteúdo pornográfico um toque de leveza, de algo sexy, divertido e moderno. Na prática, no entanto, a pornografia tem a garra da adicção e as consequências psicológicas, afetivas e sociais do vício mais cruel.

A dependência em pornografia é causada pelo mesmo mecanismo que leva ao vício de drogas e álcool. No entanto, o diagnóstico e tratamento do consumo de pornografia são mais difíceis e dependem do suporte familiar para o sucesso da recuperação.

É o que afirmou o psiquiatra Daniel Proença Feijó, secretário-geral do Departamento de Sexologia da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em oportuna matéria do jornal Folha de S.Paulo. “As dependências que antes nos preocupavam eram principalmente as químicas. Hoje, nossas preocupações se voltam para as dependências digitais, que estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil, afetando tanto crianças quanto adultos.” Hoje, de fato, a pornografia é onipresente. Não depende de intermediários. Basta ter um celular.

Segundo Feijó, seja qual for o vício, as alterações nos neurotransmissores do cérebro associados ao prazer, como dopamina e serotonina, são semelhantes. Quando o sistema nervoso central percebe que o corpo está recebendo doses extras de dopamina e serotonina por estímulos externos, como drogas ou pornografia, ele reduz a produção natural desses hormônios.

Com a diminuição, o indivíduo sente a necessidade de buscar cada vez mais esses estímulos externos para recompensar a falta dos sentimentos de prazer. Logo, o cérebro se adapta a essa nova realidade. É a partir de então que se inicia um ciclo viciante baseado no prazer e na recompensa imediata.

Não é fácil enfrentar o problema. A dependência em pornografia é uma patologia mais difícil de ser reconhecida. “O dependente em pornografia tem muita vergonha de tocar naquele assunto. É difícil ele chegar e dizer ‘eu tenho um vício em pornografia, meus celulares são cheios de fotos, eu vivo o dia a dia olhando sites pornográficos’. Se torna algo aterrorizante para ele”, afirma Feijó.

Outra diferença entre o vício em pornografia e a dependência de drogas é o tratamento. Enquanto o acesso a drogas é ilegal, a pornografia não tem restrições. Basta um clique. Sem necessidade de deslocamentos ou custos adicionais.

Na era da internet a pornografia invadiu computadores, implodiu relacionamentos e aprisionou muita gente. A pornografia gera uma imagem cínica do amor e transmite uma visão da sexualidade como puro domínio do outro. Da pornografia brotam terríveis patologias sociais: a violência, o abuso sexual, a pedofilia. Frequentes denúncias de pedofilia na internet demonstram que a rede está se transformando no principal meio de aliciamento e exploração sexual de crianças. Apesar de proibidas pelas legislações, imagens de crianças em cenas de sexo pipocam constantemente na internet.

Medidas preventivas são importantes, mas bastante limitadas. Policiar um sistema tão vasto e com tantos recursos técnicos seria uma tarefa extremamente cara e de resultados incertos. Embora seja possível bloquear o acesso aos sites publicamente conhecidos como pornográficos, os programas de filtros, apresentados como uma alternativa para impedir o acesso às páginas inconvenientes, diminuem o problema, mas não bloqueiam a perversa criatividade dos delinquentes do ciberespaço.

A situação é grave. E exige uma forte autocrítica. A culpa é de todos nós – governantes, formadores de opinião e pais de família –, que, num exercício de anticidadania, aceitamos que o País seja definido mundo afora como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável. É triste, para não dizer trágico, ver o Brasil ser citado como um oásis excitante para os turistas que querem satisfazer suas taras e fantasias sexuais com crianças e adolescentes. Reportagens denunciando redes de prostituição infantil, algumas promovidas com o conhecimento ou até mesmo com a participação de autoridades públicas, crescem à sombra da impunidade.

Atualmente, graças ao impacto da internet, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. Não é preciso ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce.

Feijó enfatizou que o apoio e o acolhimento familiar são fundamentais para o sucesso da recuperação. Na verdade, a internet salienta uma nova realidade: chegou para todos, sobretudo para a família e para os educadores, a hora da liberdade e da responsabilidade. A família é essencial para a prevenção e a recuperação.

A educação para o exercício da liberdade é o grande desafio dos nossos dias. A aventura da liberdade, com limites e escolhas, acabará gerando uma sociedade mais consciente e amadurecida.

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JORNALISTA. E-MAIL: DIFRANCO@ISE.ORG.BR

Opinião por Carlos Alberto Di Franco

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