As famílias foram às compras com mais disposição e os comerciantes em 2018 venderam 2,3% mais que em 2017. Foi a maior alta em cinco anos, mas o volume vendido continua bem menor que o de 2014, quando o Brasil escorregava para a recessão. A recuperação começou em 2017, com ganho de 2,1%, mas o varejo está longe de recobrar os 10,3% perdidos em 2015 e 2016. Além disso, os últimos dados mostram negócios mais fracos no quarto trimestre e confirmam a perda de impulso da economia, já indicada pelo balanço da indústria, divulgado no começo do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro, o volume vendido pelo comércio varejista foi 2,2% menor que o de novembro e 0,6% maior que o de um ano antes. O recuo em relação a novembro é explicável pela antecipação de compras na Black Friday, segundo a gerente da pesquisa mensal do comércio do IBGE, Isabella Nunes, e vários analistas do setor financeiro consultados pela Agência Estado.
Esses números descrevem a movimentação dos segmentos do varejo mais importantes no dia a dia dos consumidores, como super e hipermercados, farmácias, lojas de tecidos, vestuário e calçados e redes de combustíveis e lubrificantes. Somando-se a esse conjunto as lojas de carros, motos, partes e peças e também as de material de construção, chega-se ao varejo ampliado. Esse conjunto mais amplo vendeu em dezembro 1,7% menos que no mês anterior e 1,8% mais que um ano antes. Nos 12 meses de 2018, o volume de suas vendas foi 5% maior que o de 2017, graças ao setor automobilístico.
No conceito mais simples, as vendas do varejo no último trimestre repetiram as do terceiro. No caso do varejo ampliado, houve recuo de 0,3%.
A modesta recuperação do varejo combina com o ritmo ainda lento de reativação da indústria. Apesar do aumento de vendas do mercado interno e de alguma expansão das exportações, a produção industrial cresceu apenas 1,1% nos 12 meses de 2018. Em dezembro, o total produzido foi apenas 0,2% superior ao de novembro e 3,6% inferior ao de igual mês de 2017. No último trimestre, só a produção de bens intermediários foi maior que a do terceiro. Nas três outras grandes categorias - bens de capital, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis - houve recuo.
Indústria e comércio já haviam sido prejudicados no fim do primeiro semestre pela crise do transporte rodoviário, quando caminhoneiros bloquearam estradas e interromperam as entregas de matérias-primas e a movimentação de produtos acabados. Mas outros fatores também afetaram a atividade econômica.
As incertezas políticas dificultaram as decisões empresariais mesmo depois das eleições, embora as diretrizes de governo a partir de 2019 estivessem mais definidas que na fase da campanha eleitoral.
Somada à capacidade ociosa das empresas, a insegurança contribuiu para retardar as decisões de investimento. Além disso, predominou a tendência de evitar acumulação de estoques, mesmo com a perspectiva de um fim de ano mais animado que o de 2017. Enfim, os consumidores, embora tenham comprado mais que no ano anterior, se mantiveram cautelosos, porque as condições do mercado de trabalho permaneceram pouco estimulantes.
O desemprego continuou diminuindo, mas lentamente, e no trimestre encerrado em dezembro a desocupação ainda correspondia a 11,6% da força de trabalho e os desempregados eram 12,2 milhões. Um olhar mais amplo mostrava um cenário mais feio, com 27 milhões de pessoas subutilizadas - desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas de trabalho e integrantes da força de trabalho potencial.
O quadro da ocupação pode continuar melhorando neste ano, mas nenhuma projeção indica uma recuperação veloz do mercado de trabalho. A abertura de vagas dependerá principalmente da confiança dos empresários na política econômica e em seu potencial de dinamização da economia. O governo terá pouquíssimo tempo, talvez nenhum, para hesitações e experimentos.