Imagens de cubanos às escuras, forçados a trocar suas casas pelas ruas no escorchante calor de Havana, correram o mundo após um apagão generalizado, o pior em dois anos, deixar milhões sem energia elétrica na ilha. O blecaute não surpreende, já que até o finado ditador Fidel Castro certa feita classificou a rede elétrica do país de “pré-histórica”. Cuba depende de petróleo importado, e caro, para abastecer sua obsoleta infraestrutura elétrica. Mas se o sistema elétrico da ilha é da Idade da Pedra, são ainda mais pré-históricas as lideranças que há décadas legam aos cubanos uma vida de privações, cuja fatura fica cada vez mais cara.
Mesmo para uma população há muito acostumada a infortúnios como racionamento de energia e de alimentos, o apagão generalizado dos últimos dias é um alerta de que o que era ruim pode piorar muito. Os problemas no precário setor elétrico agravaram-se com a redução de fornecimento de petróleo oriundo da Venezuela, que, imersa ela mesma em grave crise econômica, envia bem menos combustível para Cuba do que no passado. Outros “parceiros”, como México e Rússia, também têm destinado menos petróleo aos cubanos.
A ditadura da ilha, como de praxe, culpa o bloqueio imposto há anos pelos Estados Unidos pela falta de luz e por qualquer outro problema que se abata sobre os cubanos. Embora seja inegável que as sanções norte-americanas prejudicam a economia cubana, a crise é obviamente endógena, produzida com denodo, há décadas, por um governo que sabota todas as iniciativas tendentes a reduzir a penúria dos cubanos.
O governo americano, por exemplo, permitiu que pequenos empreendedores cubanos usassem contas bancárias nos EUA, numa iniciativa de apoio ao nascente setor privado da ilha, mas bastaram algumas semanas para que a ditadura proibisse comerciantes locais, que têm sérias dificuldades de conseguir moeda forte no mercado doméstico, de recorrer ao sistema bancário norte-americano. Em vez de apoiar os pequenos empreendedores que ajudam a trazer comida para Cuba, o governo parece querê-los fora de atividade, pouco importando se o povo cubano passa fome.
Para azar dos cubanos, os problemas do país, que eram bem mais visíveis na época da guerra fria ou da crise migratória dos anos 90, já não chamam tanto a atenção do mundo. O atual ditador, Miguel Díaz-Canel, não tem o apelo dos Castros, e a América Latina conta com uma nova geração de tiranos, como Nicolás Maduro, que, com seu petróleo, tem toda a atenção de China e Rússia. Cuba, tal qual sua rede elétrica e seus líderes, parece pertencer à pré-história. Além de nada oferecer à sua população, pouco importa ao mundo.
Diante da pior crise econômica em décadas, os cubanos continuam deixando o país aos milhares. Mais de 1 milhão de pessoas, ou 10% da população, abandonaram a ilha entre 2022 e 2023, de acordo com estatísticas oficiais. Ou seja, o êxodo pode ser ainda maior, e nada indica que será contido pela violência do regime. E, do jeito que as coisas estão, o último a sair nem precisará apagar a luz.