O PSDB, que irrompeu na política nacional no fim dos anos 80 como um vistoso tucano, terminou a eleição municipal de domingo passado como um melancólico pássaro dodô – aquela ave extinta que se tornou sinônimo de coisa absolutamente obsoleta.
Seu candidato à Prefeitura, o apresentador José Luiz Datena, que levou nada menos que R$ 9,5 milhões do Fundo Eleitoral para fazer campanha, terminou a eleição com 1,84% dos votos válidos, ou exatos 112.344 votos, menos do que vários dos vereadores eleitos na cidade. Ficou em quinto lugar. Foi o pior desempenho do PSDB na capital em sua história.
Sem rumo nem identidade, o PSDB acreditou que a suposta popularidade de Datena bastaria para torná-lo competitivo. Ao contrário: ao longo da campanha, Datena, claramente sem qualquer vocação para uma disputa eleitoral e manifestando cansaço com a agenda de compromissos, só conseguiu chamar a atenção do eleitorado pela cadeirada que desferiu em outro candidato durante um debate na TV. O destempero, que não foi condenado pela cúpula do PSDB, certamente colaborou para que Datena sofresse uma esmagadora rejeição, anulando sua suposta capacidade de puxar votos para os candidatos a vereador pelo partido.
Com isso, o PSDB conseguiu a proeza de sair desta eleição sem eleger um mísero vereador na cidade de São Paulo. Foi um desempenho e tanto, sobretudo se considerarmos que o partido havia lançado nada menos que 49 candidatos e que, na disputa anterior, havia conseguido eleger 8 vereadores, tornando-se uma das principais bancadas da Câmara. O candidato a vereador mais votado entre os tucanos no domingo passado foi Mario Covas Neto, filho do ex-governador Mario Covas. Mesmo com um sobrenome tão significativo na história política de São Paulo, Covas Neto conseguiu apenas 5.825 votos.
Mas convém lembrar que o PSDB já entrou na campanha sem nenhum vereador, porque seus oito representantes, que não são bobos nem nada, se recusaram a endossar a aventura com Datena e vários se bandearam para a candidatura do prefeito Ricardo Nunes (MDB), herdeiro da gestão tucana do falecido prefeito Bruno Covas. Desses políticos, havia gente com décadas de filiação ao PSDB. Ou seja, alguns eram parlamentares realmente identificados com o partido, mas que já não se reconheciam nele, por razões óbvias.
Para onde quer que se olhe, o desempenho do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo é o símbolo do desaparecimento do partido em seu berço político. Ao apostar em um candidato a prefeito que nada tinha a apresentar senão seu histrionismo de apresentador de programas policiais na TV, o PSDB, fundado por faróis da democracia como Mario Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, portou-se como um partido nanico, incapaz de oferecer ao eleitor uma proposta coerente com sua história. Depois de ter governado a cidade de São Paulo por três vezes nas últimas duas décadas, o PSDB virou motivo de piada. Havia maneiras mais honrosas de morrer.