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Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião | Israel e os evangélicos

Se o governo petista seguir a via de expulsão do embaixador de Israel e de rompimento diplomático, o suicídio político estará consumado

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Para além da indignidade moral do presidente Lula, abraçando teses antissemitas, revela-se uma monumental burrice político-eleitoral. Ganha ele a reprovação de ampla maioria da população brasileira, assim como consegue alienar-se do eleitorado evangélico que nele não se reconhece.

Do ponto de vista moral, sua conduta foi abominável ao equipar a autodefesa de Israel aos crimes de genocídio cometidos por Adolf Hitler. Israel foi agredido, atacado, por uma organização terrorista que, em poucas horas, conseguiu assassinar 1.200 pessoas em kibutzim e numa festa rave, para além dos sequestrados em seu poder, hoje mantidos em situações terríveis. Ao responder, visou ao Hamas, e não à população palestina, utilizada pelos terroristas como escudo humano. Numa guerra urbana e, mais especificamente, subterrânea, é muito difícil discernir um civil de um combatente. Que o digam os russos na Chechênia e os americanos em Mossul e Faluja. É certamente lamentável, mas fruto deste tipo de guerra.

Pior ainda, o presidente Lula não economizou em suas impropriedades. Declarou que lá ocorre uma luta entre um dos melhores exércitos do mundo contra mulheres e crianças indefesas. O Hamas sumiu! Foi volatizado pela verborragia presidencial. Ademais, atua como porta-voz dessa organização terrorista, ao omitir na contabilidade de mortes os terroristas. Só civis morreram? É de um absurdo inigualável! Não contente, a primeira-dama saiu em sua defesa, dizendo que falava em nome das mulheres! Quais?

Não certamente das judias e não judias que foram violentadas, torturadas e assassinadas pelos “combatentes da resistência”, estes heróis da esquerda, no dia 7 de outubro do ano passado. Israel acaba de enviar um relatório a respeito à ONU, apesar do inegável viés antissemita dessa entidade, colaborando com o Hamas por intermédio da UNRWA. Uma menina de 13 anos foi violentada e sofreu aborto em Israel. Em uma outra, foram encontrados 67 tipos de esperma. Outras foram violentadas à mira de revolver na frente de seus familiares e, posteriormente, mutiladas genitalmente e assassinadas. Será que o governo petista não tem nada a dizer?

Um importante senador petista, Jaques Wagner, assinalando o “erro” do presidente, como se fosse um mero “acidente”, chegou a declarar, não obstante, que ele é um “humanista”. Para que essa fala faça algum sentido, caberia ao presidente retratar-se de suas declarações. Se não o fizer, afirmar-se-á simplesmente como um humanista de araque.

Do ponto de vista político-eleitoral, seu erro de cálculo é crasso. Talvez ele não o saiba, mas os evangélicos, sobretudo pentecostais e neopentecostais, têm uma afeição profunda por Israel. Desde crianças, na Escola Bíblica Dominical, eles aprendem que o povo de Israel é a nação santa, isto é, o povo escolhido por Deus para Ele mesmo mostrar o seu poder e amor. Deus prometeu a Abraão que o Seu povo seria numeroso e abençoado e, por meio dele, todos os povos do mundo seriam igualmente abençoados. Isso porque Deus decidiu que o seu Filho Jesus Cristo nasceria do povo de Israel.

Dentre outros versículos bíblicos, citemos dois:

“Israel é como um leão poderoso: quando está dormindo, ninguém tem coragem de acordá-lo. Quem abençoar o povo de Israel será abençoado; e quem o amaldiçoar será amaldiçoado” (Números 24:9).

“Orai pela paz de Jerusalém! Prosperarão aqueles que te amam” (Salmos 122:6).

Trata-se, ressalte-se, de um artigo de fé, que não admite, portanto, qualquer contestação. E Lula está se colocando entre os que não prosperarão! Aos olhos evangélicos, seria algo imperdoável, salvo se for capaz de uma reparação, sem o viés ideológico dos “mas”, “entretanto” e “todavia”.

O Brasil tem hoje em torno de 70 milhões de evangélicos, configurando aproximadamente 30% da população. Vale comprar briga com esse eleitorado, que costuma votar unido principalmente em questões de princípio e fé? A população que se declara evangélica deve ultrapassar pela primeira vez a católica a partir de 2032. Pode o PT prescindir desse eleitorado? Se o fizer, é o caminho mais curto para a derrota. Estaria, segundo eles, de mãos dadas com a maldade!

Assinale-se, ainda, que o Hamas é contra a existência do Estado de Israel, logo, não aceitando a existência de dois Estados, como é corretamente a orientação brasileira. Prega, isto sim, o genocídio dos judeus desde a sua carta fundacional. Se o presidente continuar a apoiar-se em seu círculo mais íntimo – principalmente em seu assessor de Relações Internacionais, Celso Amorim, papagaio de pirata do ditador Maduro e admirador do Hamas –, o caminho estará escancarado para a vitória de qualquer forma de oposição em 2026, para não falar dos prejuízos políticos nas eleições municipais deste ano.

Espera-se que o governo petista não siga a via de expulsão do embaixador de Israel, Daniel Zonshine, e de rompimento diplomático, pois, se o fizer, o suicídio político estará consumado. Seria Lula visto, definitivamente, como o amaldiçoado!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Opinião por Denis Lerrer Rosenfield

Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

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