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Descaso com São Paulo

São Paulo e as cidades sofreram duramente com seu despreparo para enfrentar as consequências das chuvas de verão

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Por Notas & Informações
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Como se fosse uma triste sina a que estão condenadas pela incúria e a incompetência de seus governantes, São Paulo e as cidades que integram a Região Metropolitana sofreram duramente, mais uma vez, como vem acontecendo há décadas, com seu despreparo para enfrentar as consequências das chuvas de verão. Desta vez, pagaram um preço particularmente alto pelas chuvas que caíram na noite de domingo e na manhã de segunda-feira, tanto em número de mortos como em transtornos de todo tipo na vida de seus moradores.

Foram 12 mortos, segundo as primeiras estimativas - não se descarta a possibilidade de que esse número suba -, a maior parte fora da capital, em outras da Grande São Paulo: 4 em deslizamentos de terra em Ribeirão Pires; 3 por afogamento em São Caetano do Sul; 1 criança soterrada por desabamento em Embu das Artes; 2 afogados em Santo André; 1 afogado em São Bernardo do Campo. Na capital, foi registrada a morte de uma pessoa por afogamento no Córrego do Ipiranga.

Já os transtornos para os moradores castigaram mais a capital, que teve sua vida severamente alterada por alagamentos numa vasta região. A mais atingida foi a do bairro do Ipiranga, que costuma ser um dos mais afetados pelas chuvas. Ali o estado de alerta foi mantido das 20h de domingo até a manhã de segunda-feira. Mas o que afetou a vida do maior número de paulistanos foram os alagamentos na Marginal do Tietê e o transbordamento do Rio Tamanduateí e de córregos que impediram a circulação em vias importantes. 

Os congestionamentos provocados por eles atingiram o serviço de ônibus e a circulação de carros, afetando a vida de milhões de paulistanos. A interdição da Linha 10 - Turquesa, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que liga a região central ao ABC Paulista, teve reflexos no sistema metroferroviário, agravando ainda mais a situação. Somente na capital, os bombeiros receberam 78 pedidos de ajuda para queda de árvores, 76 chamados de socorro em casos de desmoronamento e 698 ocorrências de enchentes e alagamentos. De uma forma ou de outra - mas sempre com gravidade -, a capital e outras cidades da Grande São Paulo tiveram sua vida duramente afetada em especial na manhã de segunda-feira.

O problema das enchentes na Grande São Paulo, com destaque para a capital, vem de longe e não pode ser atribuído apenas aos atuais governantes. Mas eles têm de ser cobrados, sim, porque repetem o comportamento de seus antecessores: alguma coisa fazem, mas sempre muito aquém do necessário. O problema nunca é eleito como prioridade, certamente porque sua solução exige tempo e grandes investimentos e deve se estender pelos mandatos de vários prefeitos, o que leva os atuais - que nisso não veem retorno eleitoral imediato - a negligenciá-lo. 

O comportamento do prefeito Bruno Covas e o do vereador Eduardo Tuma, presidente da Câmara Municipal, que o substitui no cargo em sua licença, são um bom exemplo do pouco-caso com que se trata questão tão séria e que prejudica, há tanto tempo, milhões de pessoas. Covas resolveu tirar licença por motivos pessoais - que não explicou quais são, logo não se pode avaliar se são capazes ou não de justificar sua decisão - justamente nessa época do ano, quando as chuvas de verão são intensas, com as consequências que se viu. Não sabia ele disso? Sua presença não teria o dom miraculoso de resolver o problema, mas o cidadão tem o direito de esperar sua presença, numa hora dessa, à frente do governo, comandando os esforços para minorar os efeitos da enchente.

O interino Tuma não deixou por menos. Saiu-se com essa pérola, que neste momento é também uma ofensa à população: “Não havia ação preventiva que pudesse corrigir o que aconteceu em São Paulo”. Claro que havia e deveriam ter sido tomadas por Covas, que ele ainda teve o desplante de dizer que “está presente” mesmo licenciado e, de longe, coordena as ações. São Paulo não merece isso, principalmente em meio ao sofrimento.