Consequência da recuperação da economia mundial, o crescimento da demanda por transporte marítimo resultou num encarecimento tão forte dos fretes que ameaça a retomada global e força o aumento de preços. Se o problema persistir até 2022, os preços dos produtos importados poderão subir até 11%. Caso isso ocorra, os preços para os consumidores aumentarão 1,5% até 2023. São projeções da Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em relatório sobre transportes marítimos. Países menos desenvolvidos devem ser mais prejudicados do que os demais.
No Brasil, a alta da inflação por conta desse problema pode alcançar 1,2 ponto porcentual, menos do que a média projetada para o mundo. Mas a situação interna está longe de ser mais tranquilizadora do que a de outros países, pois problemas específicos, como desvalorização da moeda muito mais acentuada do que em outros países e a lenta evolução da produção e do emprego, continuam a pairar sobre a economia. Incertezas no plano político igualmente pressionam os preços internos.
A pandemia mudou as formas e a intensidade do consumo em todo o mundo. Tendo de ficar mais tempo em casa, com grandes restrições a atividades públicas, as pessoas passaram a utilizar mais os sistemas de compras online, sobretudo de bens e menos de serviços. Demandas por computadores e outros eletroeletrônicos cresceram exponencialmente, o que gerou problemas de suprimento de componentes, como os semicondutores. À medida que crescia a demanda, a cadeia de suprimentos se interrompia em vários pontos, afetando a produção.
À limitada capacidade de suprimento de diversos itens juntaram-se outros obstáculos ao comércio internacional. De início, o transporte marítimo mundial foi afetado pela falta de contêineres. Agora soma-se a alta dos fretes. O índice de custo do transporte de um contêiner intermodal de 1 TEU (medida padrão de um contêiner) na rota Xangai-Europa em 2020 passou de US$ 1.000 em junho para US$ 4.000 no final do ano. Chegou a US$ 7.395 no fim de julho deste ano, mostra a Unctad. Estima-se que 80% do comércio mundial é feito por navios.
“O aumento dos fretes terá um profundo impacto no comércio e vai solapar a recuperação socioeconômica, especialmente nos países em desenvolvimento, até que as operações de transporte marítimo voltem à normalidade”, advertiu a secretária-geral da Unctad, Rebeca Grynspan.
O relatório da Unctad compara o desempenho de portos brasileiros e colombianos, e o resultado é ruim para o Brasil. Para operações de descarga, a espera média num porto colombiano é de um dia; no Brasil, cinco dias e meio. Para carga, o Brasil é o país que tem a maior espera na lista da Unctad, de mais de uma semana. Ou seja, países que dispõem de infraestrutura portuária eficiente podem amenizar os impactos desse custo. Já para os menos eficientes o prejuízo certamente será maior – mais uma das muitas razões para o Brasil superar o quanto antes o persistente atraso nesse setor.