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Opinião|A Casacor que a Paulista quer

A recuperação do Palacete Joaquim Franco de Mello poderia ser um projeto emblemático, com a ideia de unir o passado e o presente da avenida

Por Regina de Sá

A Avenida Paulista é um símbolo de modernidade e dinamismo, refletindo a evolução arquitetônica e cultural de São Paulo. Em meio à imponência dos arranha-céus, destaca-se um contraste gritante: o Palacete Joaquim Franco de Mello, o casarão que fica no número 1.919, um testemunho da História que agoniza em meio ao descaso.

Atualmente, a exposição Casacor São Paulo 2024 ocupa o Conjunto Nacional, um espaço vibrante que celebra a inovação e a criatividade na arquitetura e design. No entanto, a poucos metros dali, o Palacete Joaquim Franco de Mello, construído em 1905 pelo empreiteiro português Antônio Fernandes Pinto, está em um estado de quase ruína. Com seus 4.720 metros quadrados, incluindo espaços internos e externos, e tombado pelo patrimônio histórico em 1992, esse último palacete da primeira fase da Avenida Paulista parece um paradoxo: por que uma edificação com tanta história e potencial permanece abandonada?

O Palacete passou por uma remodelação da fachada em 1921 pelo construtor Luiz Ferreira, com desenhos do arquiteto Armando Reimann. Em 2019, a propriedade foi transferida dos herdeiros para o governo estadual. Apesar disso, a restauração completa e a revitalização do espaço não foram realizadas, deixando a edificação como um espectro de seu passado glorioso.

A recuperação do Palacete Joaquim Franco de Mello poderia ser um projeto emblemático, com aquela ideia de unir o passado e o presente da Avenida Paulista. Seria interessante ver um esforço coletivo de arquitetos, restauradores de patrimônio, urbanistas e outros especialistas em um projeto que não apenas restaure a edificação, mas que também a transforme em um espaço vibrante e útil para a comunidade.

Imagine um cenário em que o palacete fosse revitalizado para abrigar exposições, eventos culturais ou até mesmo um centro de inovação? Isso não só preservaria a história da cidade, como também adicionaria uma nova camada de valor cultural e social à Paulista. Assim como a Casacor traz novas ideias e inspirações para o design contemporâneo, a revitalização do palacete poderia trazer “cor” e vida a esse marco histórico.

É hora de questionar e agir: por que não transformar o último palacete da Paulista em um símbolo de preservação e inovação? É possível alinhar esforços e recursos para dar a essa casa a atenção e o respeito que merece, fazendo com que turistas e locais possam apreciar sua beleza e significado histórico. Vamos convidar todos os interessados, desde autoridades governamentais até a comunidade de design e arquitetura, para fazer dessa visão uma realidade.

A preservação do Palacete Joaquim Franco de Mello não é apenas uma questão de resgate arquitetônico, mas também de respeito pela história de São Paulo. Esse casarão é um testemunho das transformações que a Paulista vivenciou ao longo das décadas. No início do século 20, a majestade desses casarões foi capturada pelo olhar atento de Guilherme Gaensly, o primeiro fotógrafo a registrar a grandiosidade das residências da Paulista. São memórias visuais de um tempo em que a arquitetura refletia a prosperidade e o estilo de vida dos moradores da pujante avenida.

Penso que cuidar daquela casa ficaria como um legado a Gaensly e uma reafirmação do nosso compromisso com o patrimônio cultural de São Paulo. A Casacor que a Paulista quer é aquela que valoriza e integra seu rico passado à sua vibrante modernidade. Que possamos transformar essa visão em realidade e garantir que futuras gerações possam admirar e aprender com a história da Avenida Paulista.

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É DOUTORA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (FFLCH-USP). E-MAIL: SAREGINA@USP.BR

Opinião por Regina de Sá

É doutora em Ciências Sociais (FFLCH-USP). E-mail: saregina@usp.br