O Brasil é um país onde os temas surgem e desaparecem da agenda política na velocidade das redes sociais. Um dia, todos discutem a jornada 6x1. No outro, o suposto “imposto do Pix”. Em pouco tempo, questões que pareciam da maior urgência se dissipam, deixando uma trilha de confusão e desinformação. Muita espuma, pouco conteúdo. Essa é a natureza da “liquidez social” descrita por Zygmunt Bauman, em que os debates são efêmeros, desprovidos de profundidade e geralmente incapazes de gerar consequências duradouras.
Mas o custo dessa liquidez é real e recai, em especial, sobre os mais pobres. Enquanto governo, imprensa e sociedade se distraem com pautas espetaculosas, o País carece de soluções concretas para problemas estruturais. A falta de clareza de rumos e consistência na gestão e opinião pública impede que reformas essenciais avancem na velocidade necessária, desperdiçando oportunidades, aprofundando desigualdades e comprometendo o futuro.
Vivemos tempos em que a política opera conforme a civilização do espetáculo, como apontou Mario Vargas Llosa. A espetacularização transforma o debate público em entretenimento, em que a aparência importa mais do que o mérito. Direita e esquerda disputam quem “lacra” mais nas redes sociais, enquanto os problemas estruturais seguem sem solução, os juros sobem e o poder de compra da população despenca.
Apesar de uma inflação controlada, a economia brasileira permanece sob intensa pressão. A incerteza em relação ao cenário global, com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, e a falta de ações concretas do governo agravam a situação. Sem reformas estruturais e cortes de gastos robustos que nos tragam de volta uma perspectiva de responsabilidade fiscal, estamos condenados a voos de galinha.
O impacto é sentido de forma mais cruel pelos mais pobres, que já enfrentam dificuldades no acesso ao crédito, perda de poder aquisitivo e perspectivas de mudanças profundas no mercado de trabalho, para as quais claramente não estamos preparados. Enquanto isso, o governo não entrega soluções. O discurso oficial insiste em avanços que não se materializam na realidade e na criação de bodes expiatórios. Se uma medida mal explicada pela Receita Federal de um governo explicitamente gastador gera receio numa população cansada de pagar impostos, a culpa é das fake news.
O Brasil parece preso em um círculo vicioso. De um lado, a “liquidez” das pautas gera desatenção e falta de foco. De outro, a civilização do espetáculo transforma a política em um palco de performances, e não de resultados. Construir um debate sólido e consistente em torno de medidas necessárias para o progresso do País se torna extremamente difícil.
Como romper esse círculo? Claro que seria desejável um governo com rumo sintonizado às prioridades da população. A legitimidade de propostas eleitas pelo voto popular é a principal ferramenta para diminuição de custos de negociação política. Contudo, além de eleito sem um programa de governo claro, o presidente Lula da Silva tem se ausentado de qualquer debate estrutural importante. Não à toa, com um legislativo guiado por bases eleitorais sedentas por recursos e a pressão dos grupos de interesse, a farra de exceções na reforma tributária nos entregou o maior IVA do mundo.
Sendo assim, resta um esforço amplo para resgatar a seriedade do debate público. A imprensa tem um papel fundamental nesse processo. As pautas importantes não podem ser abandonadas ao primeiro sinal de distração. A lógica das redes não pode monopolizar as editorias. A sociedade civil, os líderes políticos e os formadores de opinião têm a responsabilidade de manter o foco nas questões essenciais, resistindo à tentação do espetáculo.
Se não mudarmos essa dinâmica, continuaremos a ver o País preso em debates efêmeros e sem resultados, enquanto os mais vulneráveis pagam o preço mais alto. Precisamos de menos espetáculo e mais ação. Menos liquidez e mais consistência. O futuro do Brasil depende disso.
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JORNALISTA ESPECIALIZADO EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA PELA INTERNATIONAL ACADEMY FOR LEADERSHIP DA FUNDAÇÃO NAUMANN, DA ALEMANHA, ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS CERTIFICADO PELA LONDON SCHOOL OF ECONOMICS, É COFUNDADOR E DIRETOR DE OPERAÇÕES DO MOVIMENTO LIBERAL BRASILEIRO LIVRES