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Opinião|A taxa Selic e os impactos de longo prazo na atividade empresarial e na economia

É preciso ter parcimônia na condução da política monetária. No final do dia, a diferença entre o remédio e o veneno é a dose

Por Fernando Dal-Ri Murcia

Sob a ótica do empreendedor só faz sentido explorar determinada atividade empresarial se os retornos obtidos forem superiores ao custo de financiamento do negócio; a rentabilidade esperada precisa ser suficiente para compensar o risco.

A taxa básica de juros, como o próprio nome indica, é a taxa inicial que define todo o custo de capital das empresas de uma economia. Essa é a taxa que remunera os títulos públicos – que, como regra, são aqueles que possuem menor risco –, então serve de ponto de partida. Por vezes, costuma-se dizer que só existe a taxa básica na economia (Selic) e que todo resto é spread em razão do risco. No caso do custo de capital de terceiros (dívida), o risco de crédito. Já no custo de capital próprio (sócios), o risco ou prêmio de mercado.

Assim, quando a Selic é aumentada, todo o custo de capital da economia é igualmente majorado. Do mesmo modo, quando ela se torna demasiadamente alta, acaba impedindo o desenvolvimento de toda a atividade econômica. Primeiro porque o custo de capital das empresas fica demasiadamente alto e são poucas as atividades econômicas que conseguem gerar retornos acima do custo de capital. Analisando-se um histórico mais recentes das companhias na Bolsa brasileira, com exceção de alguns poucos casos, apenas empresas do setor financeiro, serviços públicos (energia elétrica, saneamento, etc.) e commodities conseguiram gerar retornos consistentes acima da Selic ao longo do tempo.

Segundo porque, com Selic alta, o empreendedor não tem incentivos econômicos para realizar investimentos na economia real. Afinal, recebe uma remuneração extremamente atrativa para emprestar dinheiro para o Tesouro praticamente sem risco; vulgo “rentismo”.

Por outro lado, em países onde a taxa básica de juros é baixa, empreendedores são estimulados a tomar risco, empreender, inovar, etc. De fato, com mais financiamento, as empresas investem mais, geram mais empregos e renda e a economia surfa um círculo virtuoso.

Assim, no longo prazo, o crescimento do Brasil passa pela necessidade de termos uma taxa Selic estruturalmente menor. Isso não quer dizer, obviamente, que o Banco Central deve baixar artificialmente a taxa básica de juros. Contudo, é preciso ter parcimônia na condução da política monetária. Se por um lado combater a inflação é algo de extrema relevância, por outro, uma Selic alta por um período desnecessário, no limite, inviabiliza o empreendedorismo e a atividade econômica do País. No final do dia, a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.

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É PROFESSOR DA FEA/USP

Opinião por Fernando Dal-Ri Murcia

É professor da FEA/USP