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Opinião|A universidade não é somente o lugar da ciência

Neste ano, debates apresentados no seminário USP Pensa Brasil enfrentaram o desafio de refletir, em caráter prospectivo, sobre a emergência climática e a crise ambiental

Por Maria Arminda do Nascimento Arruda e Alexandre Macchione Saes

A realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30, na cidade de Belém do Pará, em novembro de 2025, é ocasião para o Brasil assumir papel de liderança mundial na agenda do meio ambiente, selando compromissos e construindo novas metas para as próximas décadas. As medidas pactuadas no Acordo de Paris, de 2015, não mais se sustentam. Tudo indica que o objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5 grau Celsius não será alcançado, fazendo da cidade de Belém palco de disputas, mas também de compromissos; acima de tudo, de realizações para reverter o cenário de emergência climática.

O meio ambiente é um sistema complexo e integrado à vida humana, cuja exigência demanda compreensão multidisciplinar e multidimensional. Nesse cenário, o lugar distinguido da universidade tem contribuído para construir diagnósticos e métricas sobre os riscos e desafios ambientais; para criar tecnologias e novos e mais eficientes sistemas para mitigar os impactos produzidos pelas mudanças climáticas; para oferecer soluções de adaptação das pessoas aos desastres ambientais; para preparar nossa sociedade a construir modelos mais sustentáveis de vida.

A Universidade de São Paulo (USP), na terceira edição do seminário USP Pensa Brasil, realizada entre 12 e 16 de agosto, reafirmou seu compromisso de fazer do conhecimento um bem e um direito públicos, sustentado no seu vasto cabedal científico e cultural. Neste ano, os debates e contribuições apresentados enfrentaram o desafio de refletir, em caráter prospectivo, sobre a emergência climática e a crise ambiental.

A posição privilegiada do Brasil na área amplia as responsabilidades do País e impõe desafios de grande envergadura. Esse sentimento de responsabilidade com os destinos do planeta e com nosso compromisso social guiou o seminário, que reuniu cientistas e representantes governamentais, empresariais e da sociedade civil e debateu as complexas dimensões da crise ambiental.

Os dados oferecidos pelos painéis mundiais sobre as mudanças climáticas, assim como as evidências de intensificação de desastres ambientais, são uníssonos no sentido de indicar que medidas urgentes precisam ser tomadas para combater o aquecimento global. Dados produzidos pelas agências climáticas indicam o crescimento da temperatura do planeta, a ampliação do degelo das áreas polares e da concentração dos gases do efeito estufa. Na prática, somente no último ano, vivenciamos elevadas ondas de calor e prolongados períodos de seca, agravaram-se as queimadas no Cerrado e na Amazônia, assistimos às destruidoras tempestades no Sul.

As contribuições oferecidas pelos participantes do evento deixaram evidente que a universidade não é somente o lugar da ciência como técnica, mas também do sentido social do conhecimento, permeável aos saberes dos povos e comunidades tradicionais, apto a formular caminhos à transformação do nosso modelo de organização econômica e social, que tem mantido relação predatória com a natureza.

Nessa agenda urgente e crítica, a USP reafirma a relevância e o papel da COP-30 para o Brasil e para o futuro do planeta. Sendo a sede do evento que ocorrerá significativamente na região amazônica, o País não pode abrir mão de liderar a agenda ambiental, a defesa de novos e necessários acordos para alcançar as metas de combate às mudanças climáticas, exigindo o pleno compromisso dos países desenvolvidos com o financiamento de políticas e investimentos orientados à transição energética e à preservação ambiental.

A liderança do debate, porém, não será suficiente, caso o Brasil não se comprometa com a construção de ações concretas, com a economia da sociobiodiversidade erigindo-se em exemplo a ser seguido: é necessário avançar em políticas que garantam o desmatamento zero; é indispensável concretizar a transição energética para zerar as emissões de carbono até 2040; é preciso, ainda, explicitar o caráter social da agenda ambiental, realizada por meio de políticas de justiça climática e de mecanismos de criação de renda dirigidos às atividades sustentáveis. A agenda ambiental somente se concretizará caso seja apreendida como uma agenda econômica e social.

Consciente da natureza da sua função de instituição construtora do conhecimento e da pesquisa científica qualificada, do seu compromisso público com a formação cidadã, a USP está atenta aos desafios do mundo global no século 21. A sólida convicção da necessidade de trilhar novos caminhos, formada nos resultados de pesquisas avançadas, referenda a missão pública da universidade com a defesa de nossa sobrevivência na Terra.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, VICE-REITORA E PROFESSOR DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA (FEA) DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

Opinião por Maria Arminda do Nascimento Arruda

Vice-reitora da USP

Alexandre Macchione Saes

Professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP