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Opinião | Como se prepara uma COP

A constatação da eficiência, zelo e cuidado em detalhes de Baku é de suscitar várias reflexões. Como estão os nossos trabalhos?

Por José Renato Nalini

Estive em Baku, no Azerbaijão, a participar da COP-29, que entregou as chaves para o Brasil realizar a COP-30 em Belém do Pará, no próximo novembro. Volto impressionado com a eficiência verificada em todos os detalhes de uma reunião que congrega dezenas de milhares de viajantes de todo o globo.

Hospedei-me num empreendimento gigantesco, denominado Sea Breeze, que parece invocar Dubai e tem as dimensões de uma Brasília. Toda a orla desocupada do Mar Cáspio foi tomada por inúmeras construções para formar um resort com 500 hectares que mesclam complexo residencial numa única infraestrutura.

A notícia que recebi dos organizadores é de que a COP-29 estimulou a iniciativa. Ali haverá hotéis, beach club, water park, píer para iates, bares, restaurantes e outros espaços alimentares, hall para eventos, shopping e entretenimento. Mais SPAs e centros de fisicultura e fitness, campos de esporte, zonas destinadas às crianças, com playground, escola e jardim de infância. Centro cultural, local para exposições, mercado de funcionamento ininterrupto, serviços médicos e tudo o que se possa imaginar para uso daqueles que exploram petróleo e nadam em dinheiro.

Baku já é uma cidade futurista, com edifícios icônicos, próprios para cartões postais. Pois ali também, no Sea Breeze, haverá construções futuristas: o Caspian Dream Liner, edifício com a forma de transatlântico, o conjunto Skyline, os complexos Lighthouse, os Park Residences, os Polo Residences, uma woodville com edificações em madeira, o sofisticado Palazzo del Mare, a Marina Village, o Prime Residence, o Palm Beach e outras tantas edificações já em pleno curso.

Enfim, é algo inimaginável. Ou ao contrário. Seria tão bom se pudéssemos contar com algo assim às margens das duas represas que abastecem a Grande São Paulo com água e que correm risco de redução drástica da capacidade de dessedentar os paulistanos e munícipes das cidades contíguas.

Mas tudo isso para mostrar que uma COP demanda o uso da inteligência e de um trabalho árduo. Acredito que mais de 1 milhar de jovens foram treinados a servir de guias e auxiliares dos visitantes, todos uniformizados, exprimindo-se num inglês perfeito e, mais importante do que tudo, polidos, gentis, amáveis. Não aguardavam que lhes solicitasse informação. Adiantavam-se dizendo “Em que eu posso lhe ser útil?”. E despediam-se com um sorriso e um “Have a nice day!”.

Isso demandou esforço e garra. Assim como a imensa montagem de vários espaços, todos eles a funcionar à perfeição. Inúmeras salas para reuniões, dos mais diversos formatos. Os equipamentos de som a funcionar sem os entraves comuns em nossos eventos. Centenas de computadores de mesa, tablets, notebooks e espaço para que as pessoas pudessem trabalhar, responder a mensagens ou redigir artigos.

Praças de alimentação espaçosas, com cardápio universal. Lugar especial para a oração dos que têm de rezar até cinco vezes por dia e para a ablução obrigatória. Sinalização perfeita. Reservou-se aos manifestantes condições as mais adequadas para as suas mensagens oficiosas e para os protestos, tudo com a proteção ininterrupta de jovens fardados muito simpáticos e sorridentes. Uma cidade em festa.

Ônibus gratuitos de hora em hora a conduzir os partícipes de seus hotéis para a COP e levá-los de volta, quando quisessem. Nas acomodações construídas especialmente para a COP-29, servia-se lauto breakfast com atendimento a todas as cozinhas e hábitos dos visitantes. À noite, show com artistas locais, bebida e alimentação gratuitas.

Imagino que Belém esteja a se preparar e que haja acomodação suficiente, garantia de infraestrutura, logística e organização adequada. A unânime postura dos que estavam na COP-29 era a de que a COP-30, por se realizar na Amazônia, atrairá muito mais pessoas do que as 80 mil esperadas em Baku.

Apesar das frustrações que têm explicações as mais variáveis sobre o que resta de uma COP, a constatação da eficiência, zelo e cuidado em detalhes de Baku é de suscitar várias reflexões. Nem falei do conteúdo transmitido por milhares de speakers, nem da limpeza de uma cidade iluminada, com muita água, muito verde e muitas flores. Que nos aproveitemos da experiência e mostremos que o Brasil também sabe receber quem o visita. Novembro de 2025 está logo aí. Como estão os nossos trabalhos?

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REITOR DA UNIREGISTRAL, DOCENTE DA PÓS-GRADUAÇÃO DA UNINOVE, É SECRETÁRIO-EXECUTIVO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE SÃO PAULO

Opinião por José Renato Nalini

Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove, é secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo