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Opinião | Ensino integral alavanca desempenho no Ideb e reduz desigualdades educacionais no Brasil

Além de um modelo pedagógico estruturado, implementação requer priorização e vontade política para assegurar a mobilização da comunidade, recursos adequados e condições operacionais

Por Ana Paula Pereira e Maria Slemenson

O ensino integral vem se consolidando como uma das estratégias mais promissoras para aprimorar o desempenho acadêmico no Brasil. Com resultados expressivos, o modelo tem um impacto significativo nos indicadores educacionais, conforme comprovaram os resultados recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Divulgados no último mês, o índice produzido pelo Inep mostrou que historicamente as escolas de ensino médio em tempo integral apresentaram performance superior às de tempo parcial. Em 2023, não foi diferente, uma vez que as escolas integrais tiveram nota 4,4 comparada a 4,1 das escolas parciais. Esse desempenho fica ainda mais evidente quando observamos o aprendizado em matemática. Tendo como base pesquisas em educação que avaliam quanto um estudante típico aprende em cada uma das etapas, os estudantes do ensino médio de escolas integrais aprenderam o equivalente a um ano a mais em comparação com os colegas de escolas de tempo parcial, de acordo com análise dos Institutos Sonho Grande e Natura. Esses números não são meros reflexos de um crescimento aleatório, mas testemunho de um modelo educacional que cumpre seu papel.

Além de promover um aprendizado superior, as escolas de ensino médio integral têm contribuído para a redução das taxas de abandono escolar. Em alguns Estados, como Maranhão e Tocantins, o abandono chega a ser até três vezes menor nas escolas integrais. Esse dado reforça a eficácia do modelo integral não apenas na aprendizagem, mas também na permanência dos estudantes.

Como resultado, a expansão desse modelo ganhou força com o número de escolas saltando de 13% em 2019 para 33% em 2023, com Estados como Paraná triplicando a quantidade de escolas integrais e alcançando um aumento de 0,5 ponto no Ideb dessas instituições, nesse mesmo período.

Vale ainda ressaltar que as escolas integrais tiveram performance superior no Ideb em todos os níveis socioeconômicos. Em Estados com menor PIB per capita, como Pernambuco, Ceará e Piauí, onde 70%, 70% e 85% das escolas, respectivamente, já operam na modalidade integral, os resultados alcançados se comparam aos de Estados mais ricos, mostrando o potencial do modelo para reduzir desigualdades educacionais.

O reconhecimento do impacto positivo do ensino integral levou o governo brasileiro a sancionar, em 2023, o Programa Escola em Tempo Integral, com um investimento significativo de R$ 4 bilhões destinado a ampliar o número de matrículas em instituições com aulas com pelo menos sete horas diárias para 3,2 milhões até 2026.

No entanto, é crucial compreender o que engloba o ensino médio integral que defendemos, sem reduzi-lo apenas à extensão da jornada escolar. Estamos nos referindo a um novo modelo pedagógico centrado no estudante, sendo ele o protagonista do seu próprio aprendizado. Uma proposta que conecta o conhecimento acadêmico ao desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais, incluindo pilares como projeto de vida, acolhimento, tutoria, aprendizado na prática e muito mais. Uma experiência educacional mais completa, significativa e alinhada às necessidades dos jovens. O aumento da carga horária é uma consequência necessária para promover um aprendizado mais completo, relevante e que prepara os jovens para o futuro, seja ele qual for.

O sucesso do ensino médio integral exige, portanto, um compromisso com a inovação pedagógica, alinhando-se às diretrizes do programa e utilizando materiais orientadores para formação contínua de todos os profissionais que atuarão nas escolas integrais.

Ainda há um espaço significativo para crescimento e expansão desse modelo que, segundo dados do último Censo Escolar, está presente em 33,2% das escolas (cerca de 6 mil) e 18,1% das matrículas em ensino médio (aproximadamente 1,1 milhão estudantes). No entanto, além de um modelo pedagógico estruturado, sua implementação requer priorização e vontade política para assegurar a mobilização da comunidade, recursos adequados e condições operacionais.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO SONHO GRANDE, ORGANIZAÇÃO QUE TRABALHA PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE ENSINO DAS REDES PÚBLICAS DO BRASIL; E SUPERINTENDENTE DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO INSTITUTO NATURA

Opinião por Ana Paula Pereira

Diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, organização que trabalha para a melhoria da qualidade de ensino das redes públicas do Brasil.

Maria Slemenson

Superintendente de Políticas Educacionais do Instituto Natura