O ano de 2024 é ano eleitoral. Escolheremos em outubro quem nos representará nas prefeituras e Câmaras Municipais de nosso país pelos próximos quatro anos. A ação de votar, por vezes banalizada, ainda é um dos maiores trunfos para mudarmos nossa realidade e a de quem nos rodeia.
Quais serão as prioridades do governo, se será construído um novo hospital, reformado o antigo ou nenhuma das duas opções, se a avenida será recapeada ou não, se funcionários para a escola serão contratados ou não. Apesar de cada município contar com as suas leis (não começamos a cada quatro anos do “zero”), o impacto de uma gestão municipal é imenso no dia a dia de cada cidadão.
Entre essas inúmeras atribuições dos prefeitos e vereadores, uma delas é garantir o acesso ao saneamento básico para a população. Essa responsabilidade municipal já é prevista na própria Constituição federal, com as responsabilidades reforçadas pela Lei n.º 14.026/2020, o novo Marco do Saneamento. Quando os eleitores escolhem representantes comprometidos com a universalização do saneamento, contribuem para a melhoria da saúde pública, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico de suas cidades.
Infelizmente, entretanto, essa responsabilidade não é levada a sério em centenas de municípios brasileiros. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), mais de 32 milhões de pessoas não contam com acesso à água tratada em suas residências e mais de 90 milhões vivem sem coleta de esgoto. Deste efluente gerado, apenas 52,2% é tratado, o que significa que o equivalente a 5.253 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas diariamente na natureza. Até o primeiro turno das eleições, 6 de outubro, mais de 1,4 milhão de piscinas de esgoto bruto serão lançadas na natureza.
Quase metade das moradias brasileiras conta com algum tipo de privação de saneamento básico. Da totalidade de 74 milhões de moradias, quase 9 milhões não têm acesso à rede geral de água; quase 17 milhões contam com uma frequência insuficiente de recebimento de água; cerca de 11 milhões não têm reservatório; cerca de 1 milhão não têm banheiro; e 22 milhões não contam com coleta de esgoto.
Essa carência impacta mais severamente as mulheres, que, além de todas as atividades do dia a dia, costumam ser as responsáveis pelos cuidados com a família e tarefas domésticas. De acordo com o estudo O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, uma em cada quatro mulheres não tem acesso à água tratada ou não é abastecida com regularidade. Dezoito milhões de brasileiras sairiam da pobreza se tivessem água e esgoto tratados, o que resultaria numa injeção de R$ 13,5 bilhões na economia brasileira.
Caso o saneamento seja universalizado, será gerado cerca de R$ 1,4 trilhão em benefícios socioeconômicos para o Brasil. Mais de R$ 25 bilhões serão economizados com saúde, visto que a falta de saneamento leva a uma série de doenças de veiculação hídrica, como diarreia, dengue, cólera, etc. Com a redução das faltas no trabalho, já que os trabalhadores estarão mais saudáveis, é estimado um ganho de R$ 437 bilhões até 2040 em produtividade.
A universalização do tema também afetará positivamente o mercado imobiliário e o turismo. É estimado que o ganho para os proprietários de imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria alcance R$ 48 bilhões no período, em razão da valorização dos imóveis com a melhoria das condições de saneamento.
O turismo seria beneficiado em cerca de R$ 80 bilhões no período, visto que regiões turísticas com água limpa, praias despoluídas e sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto oferecem uma experiência mais segura e agradável para os turistas, incentivando o retorno e o aumento da demanda.
Investir hoje em saneamento é investir em qualidade de vida, em saúde, num futuro digno para milhões de brasileiros. É criar um círculo virtuoso, que afetará positivamente todas as futuras gerações. Apesar de ficarmos repetindo esses inúmeros benefícios e ninguém de fato ser contra o saneamento (você já ouviu algum político dizer que é contra a população ter banheiro ou água encanada?), o tema infelizmente não é priorizado pela grande maioria dos gestores públicos.
Uma obra de saneamento, como toda obra de infraestrutura, é algo caro e demorado. A infraestrutura que comece a ser construída hoje talvez não acabe até o fim da gestão de determinado candidato. E, por isso, muitos candidatos nunca começam essas obras. Mas, se elas nunca começarem, nunca serão finalizadas! E quem sofre com isso é a população. É seu filho, seu neto que acaba contraindo uma série de doenças que poderiam ser evitadas com o acesso ao básico.
Por isso é de suma importância colocar o tema no debate público. Pergunte ao seu candidato o que ele fará sobre a situação do acesso à água tratada e coleta e tratamento dos esgotos. Consulte dados públicos para saber como de fato anda o saneamento em sua cidade. Se nada for feito, seguiremos com milhões de brasileiros à margem da sociedade, toda uma geração com um futuro comprometido.
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É PRESIDENTE-EXECUTIVA DO INSTITUTO TRATA BRASIL