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Opinião|Festa dos economistas

Mais do que déficit fiscal, há um déficit de sonhos que os economistas têm que cobrir. Temos que pensar em mágicas

Por Roberto Luis Troster

Hoje, a classe comemora seu dia em grande estilo, com quatro dias de antecedência, em evento que homenageia alguns economistas. Profissão linda, interessante, sempre se renovando, relevante socialmente, combina história, matemática, sociologia, estatística, inteligência artificial, big data, geografia, finanças, cultura, personalidades, política, valores e visões de diferentes economistas de uma realidade em constante transformação.

Nesse mundo em transformação a qualidade mais importante de um economista é a de sonhar com um Brasil melhor. A segunda qualidade é a capacidade de implantar esses sonhos. É a mágica. Consiste em identificar políticas que podem acelerar o desenvolvimento do País. É algo que alguns países como a Índia e a Dinamarca têm, enquanto que outros não.

Foi a mágica de alguns que fez o Brasil acelerar seu desenvolvimento. É algo que fizeram Oswaldo Aranha na década de 1930, Juscelino Kubitschek na década de 1950, Delfim Netto na década de 1960 e alguns economistas da FEA-USP e da PUC-Rio, com o Plano Real, na década de 1990. Foi em momentos em que o Brasil parecia estar num beco sem saída que deu o salto para o futuro. Mágica!

Promoveram mudanças na política econômica. O sucesso dependeu de vender a mágica para a sociedade, sua consistência interna e sua adequação no tempo. O que funciona bem num contexto pode não funcionar em outros. As coisas, quando deixadas por si só, tendem a piorar. Ajustes são necessários no tempo, para evitar que uma política inovadora se transforme em reacionária.

Após a crise do início de 1999, se formulou o tripé macroeconômico: câmbio flexível, metas de inflação e superávit primário. Foi uma reação aos problemas anteriores e serviria de base para o desenvolvimento do Brasil. Faltou um quarto apoio, que seriam as reformas. Mesmo assim, funcionou bem nos primeiros anos. Mas apresenta sinais de obsolescência.

O câmbio flexível, pensado para ajustes da competitividade da economia brasileira, após quatro anos de uma banda cambial fixa, foi importante. Todavia, ficou refém das idas e vindas dos mercados futuros. Em vez de flexível é um câmbio volátil. Sua serventia diminuiu.

O regime de metas de inflação conseguiu reduzir a inflação, cumpriu e cumpre bem seu papel. Mas “copomizou” a política monetária. As atenções estão voltadas para a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom), que é fundamental e necessário, mas os demais objetivos, como uma oferta de crédito acessível, ficaram para um segundo plano.

A taxa do cheque especial é 30 vezes superior à taxa Selic e a do rotativo do cartão é 40 vezes maior. Com a Selic a 10,50% ou a 8,50%, o efeito no crédito é pífio. A política monetária tem como objetivo final promover o desenvolvimento sustentável. Com uma oferta de crédito disfuncional, não cumpre bem seu objetivo.

O terceiro pilar do tripé é o superávit primário. Foi fundamental para reduzir a relação dívida/PIB após sua adoção. Note-se que a estabilidade da relação dívida/PIB é o objetivo a ser perseguido, o superávit primário é um meio. A relação sobe também com os juros da dívida pública e contingências como as renegociações da dívida dos Estados e precatórios. Deveriam ser monitorados com mais atenção.

Pelas projeções atuais, a relação dívida/PIB vai crescer até 2031. Deixa o País vulnerável a choques de oferta e a aumentos não previstos de despesas. É uma estratégia arriscada para gerir as contas públicas. A probabilidade de uma crise é alta. A estabilidade da relação dívida/PIB é necessária para direcionar mais recursos para investimentos e menos para pagar juros.

O Brasil não está num beco sem saída. As projeções apontam para um crescimento da ordem de 2% ao ano, neste ano e nos próximos. Está aquém da média mundial e muito aquém do potencial do País. O Brasil pode mais. O que fazer? São três propostas. A primeira é reformular o tripé câmbio, política monetária e política fiscal. Mudar para um regime de uma banda flutuante móvel, aumentar o escopo da política monetária e focar na estabilidade da relação dívida/PIB.

A segunda proposta é adicionar o item que estava faltando ao tripé: o de modernização institucional, reformas. Há várias reformas em andamento, mas não são vistas como prioritárias. O Brasil está ficando obsoleto num mundo mais globalizado e mais sofisticado tecnologicamente. Implantar reformas tem que ser um processo prioritário.

Poder-se-ia criar o pilar de adequação institucional (PAI), para as reformas da educação, industrial, administrativa, do Judiciário e outras. Urge mudar a política reacionária do governo por outra sintonizada com os novos tempos. A taxa de mudanças institucionais tem que ser maior do que a taxa de mudanças da realidade, para que a obsolescência diminua.

Além do tripé reformulado e da criação do PAI, que dariam uma base sólida para o desenvolvimento, é necessário que os economistas façam o Brasil sonhar. Mais do que déficit fiscal, há um déficit de sonhos que os economistas têm que cobrir. Temos que pensar em mágicas. O Hino Nacional é taxativo: Brasil, um sonho intenso. Bora fazer o Brasil sonhar.

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ECONOMISTA

Opinião por Roberto Luis Troster

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