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Opinião | Hoje é sempre ontem

Podemos constatar um elevado porcentual do tempo dos nossos governantes em olhar o passado e em não se dedicar a olhar para frente

Por Roberto Teixeira da Costa

O trabalho do Wesley Duke Lee, que ilustra este artigo, faz parte da coleção do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, e serviu de inspiração para este texto.

Quando analisamos a situação do nosso país, sob os mais diferentes ângulos, podemos constatar um elevado porcentual do tempo dos nossos governantes em olhar o passado e em não se dedicar a olhar para frente. Temos à frente enormes desafios que teremos que enfrentar, desde o impacto da inteligência artificial no nosso dia a dia até a questão da posição do nosso país no conturbado cenário internacional.

Dentro dessa mesma ótica, quando fui convidado por Mario Henrique Simonsen, durante a Presidência de Ernesto Geisel, que havia assinado o decreto que me nomeou presidente da recém-criada Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e o presidente disse “Recebi muitas boas informações a seu respeito”, com meu senso de humor nem sempre apreciado retruquei dizendo que talvez ele tivesse falado com as pessoas erradas. Não achou a menor graça, mas marcou aquele momento com um pensamento que segue registrado até hoje: “Dr. Teixeira, faça as coisas corretas desde o início, pois consertá-las mais tarde terá um preço elevado”. E complementou: “A maior parte do meu tempo infelizmente é dedicada a consertar as heranças negativas do passado”. Diga-se de passagem, segui à risca essa recomendação do presidente Geisel, que prevaleceu na montagem da CVM com um colegiado de primeira linha e o estabelecimento de regras de funcionamento e a regulação do mercado de valores mobiliários – fundamentos e princípios – até hoje vigentes.

Voltando ao princípio, tempo relevante ainda continua sendo dedicado por nossos diferentes poderes para corrigir heranças do passado. Sem querer tomar partido nestas minhas notas, a sociedade quer resultados imediatos de problemas que se acumularam por décadas. Regra geral, aqueles que cobram reformas radicais não estão dispostos a nenhum sacrifício. São favoráveis a mudanças desde que não lhes atinja e que aconteçam de imediato, o que não é viável.

Reprodução de 'Hoje é sempre ontem' (1972), de Wesley Duke Lee, exposta no MAM Rio. Foto: Reprodução

Esse ambiente de cobranças exacerbado por diferenças entre os governamentais acaba por criar um ambiente negativo e quase uma torcida para que o time que está no poder seja derrotado. Esse certamente não é o melhor caminho, e se fizemos uma escolha em novembro de 2022 temos que respeitar o que foi decidido.

Buscamos unanimidade em temas controversos, em que ninguém pode se arvorar como dono da verdade. Políticas de juros altos, citando como exemplo os Estados Unidos, não deram os resultados esperados para a economia continuar crescendo e gerando empregos.

Tenho observado com regularidade que notícias positivas são divulgadas normalmente acompanhadas de dúvidas:

• “A taxa de desemprego caiu a níveis mínimos, mas...”

• “Houve crescimento no primeiro trimestre, mas dificilmente o mesmo ocorrerá nos demais meses do ano.”

• “Superávit recorde da balança comercial, mas, devido à situação da economia chinesa, as importações podem cair.”

• “Inflação teve a maior queda, mas existe o perigo de superar a meta estipulada devido às enchentes do Rio Grande do Sul.”

E assim segue, sempre com um viés negativo.

Anos atrás éramos considerados como um país com grande potencial de crescimento. Quem se recorda do slogan “Ninguém segura esse país”? Nossa Bolsa era considerada a mais importante dentre os países emergentes e com o melhor índice de governança.

Esse comportamento ciclotímico é inaceitável. Temos que ter confiança em nós mesmos e superar nossas dificuldades. Muitos falam em mudar de país ao invés de mudar o País.

Não podemos de forma alguma nessa busca de atualização do País fazê-lo sacrificando a questão vital que é a desigualdade social. O processo democrático é fundamental para equacionar as discrepantes diferenças de renda.

Obviamente críticas são necessárias no sistema democrático, mas temos que separá-las daqueles que têm um viés ideológico destrutivo.

Também nessa altura fica claro que, ainda não tendo cumprido nem metade do mandato presidencial, ficar discutindo as eleições de 2026 é um completo despautério. Por essa e por outras razões é que sou a favor de um mandato presidencial de cinco anos sem reeleição. O instituto da reeleição, na minha leitura, não nos trouxe benefícios.

Não podemos aceitar que o Brasil seja um deserto de homens e ideias, conforme comentado por Oswaldo Aranha cem anos atrás. Ao contrário, em diferentes campos de atividades humanas urbanas, na área política e social e no mundo das artes e das ciências, estamos muito bem representados conforme atestado por várias premissas internacionais.

Finalmente, nos próximos meses, ou anos, devemos olhar de forma positiva e criativa para as oportunidades que o cenário mundial está nos abrindo, aproveitando as oportunidades para trazer o necessário capital estrangeiro preocupado com o cenário que estamos desenhando internamente e que definitivamente nada tem de construtivo.

Vamos olhar o amanhã e dele tirar o maior proveito. Chega de “Hoje é sempre ontem”.

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ECONOMISTA, É CONSELHEIRO EMÉRITO DO CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (CEBRI) E DO CONSELHO EMPRESARIAL DA AMÉRICA LATINA (CEAL)

Opinião por Roberto Teixeira da Costa

Economista, é conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal)