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Opinião|Inteligência artificial e drones são os novos guardiões da floresta

O investimento em projetos de restauração ecológica representa um passo importante rumo à construção de um futuro mais sustentável e resiliente

Por Rubens Benini

Nunca se falou tanto sobre restauração ecológica e o seu papel estratégico no combate aos extremos climáticos, mas o que ela significa na prática? No contexto das mudanças climáticas, por exemplo, atua como um mecanismo de sequestro de carbono da atmosfera e o armazenando nas plantas. Processo que contribui para a redução da concentração de gases do efeito estufa, principal causa do aquecimento global e mudanças climáticas. Sem mencionar que a recuperação de áreas degradadas e o plantio de espécies nativas contribuem para a conservação da biodiversidade e a promoção de serviços ecossistêmicos essenciais, como água, clima e biodiversidade. O investimento em projetos de restauração ecológica representa um passo importante rumo à construção de um futuro mais sustentável e resiliente.

Nesse contexto, seja a restauração ecológica – que visa a recuperar ecossistemas degradados, perturbados ou destruídos –, seja a florestal – que se concentra especificamente em ecossistemas florestais –, ambas as práticas oferecem uma variedade de benefícios importantes, como adaptar os sistemas produtivos às condições de mudança do clima e impulsionar a economia e geração de renda. Entre as diversas etapas que constituem esse mecanismo, o monitoramento desempenha um papel importante nesse processo, permitindo avaliar indicadores ambientais que medem a trajetória ecológica da área em processo de restauração. Em outras palavras, o monitoramento possibilita verificar se a restauração está progredindo ao longo do tempo e se a vegetação nativa está se recuperando de forma eficaz.

Contudo, ainda existem desafios quando se fala em monitorar. Além de questões práticas, como dificuldade na logística, custos elevados, áreas de difícil acesso e tempo para as avaliações de campo, há pouca exploração de ferramentas como drones, imagens de satélite e inteligência artificial para coleta de dados e análises de dados, o que pode colaborar efetivamente para o ganho de qualidade, escala e frequência do monitoramento da restauração.

Apesar dos obstáculos, recentemente, conquistas significativas foram alcançadas, como o Protocolo de Monitoramento da Restauração da Mata Atlântica e da Amazônia via Sensoriamento Remoto, desenvolvido pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, movimento que reúne mais de 300 organizações com o objetivo de restaurar 15 milhões de hectares até 2050, e a Aliança pela Restauração na Amazônia. O documento inédito, que é uma grande conquista para o setor, resultou de mais de dois anos de trabalho para simplificar o uso de ferramentas tecnológicas no monitoramento do crescimento da vegetação em áreas de restauração florestal. O objetivo é otimizar os recursos de monitoramento ecológico, introduzindo novas análises que permitam monitorar grandes áreas com maior qualidade e regularidade do que é possível apenas com trabalho de campo.

A missão é democratizar o acesso ao monitoramento, fornecendo orientações práticas para diversos atores envolvidos na restauração, incluindo órgãos governamentais, financiadores e técnico-restauradores. A inteligência artificial é utilizada para reunir e processar os dados, tornando o monitoramento mais eficiente e preciso. O monitoramento remoto complementa, sem substituir, o trabalho de campo, oferecendo escalabilidade, regularidade e qualidade ao monitoramento.

Que possamos buscar cada vez mais investimentos para promover eficácia em todas as etapas da restauração – desde o fortalecimento de coletores de semente ao monitoramento de áreas em recuperação –, e assim alcançarmos a meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa.

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DIRETOR DA ESTRATÉGIA DE FLORESTA & RESTAURAÇÃO DA THE NATURE CONSERVANCY (TNC) BRASIL, É COORDENADOR NACIONAL DO PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

Opinião por Rubens Benini

Diretor da estratégia de Floresta & Restauração da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, é coordenador nacional do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica