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Opinião | Intervenção de não médicos na cirurgia plástica: um alerta crítico e urgente

É imperativo coibir práticas ilegais e perigosas, visando a proteger a saúde e o bem-estar dos brasileiros

Por Volney Pitombo

Neste mês tomamos conhecimento de mais uma vida perdida devido a procedimentos estéticos mal conduzidos. É com preocupação, pesar e senso de responsabilidade que nos deparamos com uma questão crucial que afeta diretamente a saúde e a segurança da população brasileira: a crescente prática de intervenções cirúrgicas e não cirúrgicas por profissionais não médicos.

A morte precoce de uma jovem do Distrito Federal, no começo de julho, após o uso da substância polimetilmetacrilato, popularmente conhecida como PMMA, endossa o alerta para a sociedade. Até quando permitiremos que vidas sejam ceifadas por práticas indevidas? Em 2017, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) incluiu pela primeira vez dados sobre as sequelas dos implantes com PMMA devido ao aumento no número de complicações. O alerta não é de agora.

Nos últimos anos, temos observado um aumento de casos nos quais indivíduos sem a formação e a qualificação adequadas têm se aventurado na realização de procedimentos cirúrgicos estéticos e reparadores, de grande complexidade e rigor técnico.

E o alerta se torna ainda mais relevante quando observamos a incidência nas buscas por procedimentos cirúrgicos entre jovens. E as redes sociais hoje exercem um papel de influência relevante e ao qual devemos estar atentos. De acordo com dados da SBCP, somente nos últimos dez anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos.

Apenas em 2020, mais de 1,9 milhão de intervenções estéticas – cirúrgicas e não cirúrgicas – foram feitas em território brasileiro, sendo que 67,7% são referentes a cirurgias plásticas. Os procedimentos mais comuns são lipoaspiração (13,3%), aumento de mama (13,2%), abdominoplastia (8,6%) e lifting de mama (8,1%). Esses dados mostram um comportamento perfeitamente saudável do povo brasileiro. O cuidado com o corpo, sem exageros, associado sempre a um equilíbrio com o espírito e a mente, é o ideal. Todo ser humano tem o direito de ser feliz e de estar bem com sua imagem.

Entretanto, por vezes, procedimentos estéticos mal conduzidos e realizados em condições inadequadas e sem o suporte necessário resultam em consequências devastadoras para os pacientes e suas famílias. É fundamental destacar que a prática da cirurgia plástica ou reparadora envolve um profundo conhecimento anatômico, técnico e ético que só pode ser adquirido por meio de uma formação acadêmica rigorosa e de uma especialização específica na área. Os médicos cirurgiões plásticos se dedicam a anos de estudo e treinamento intensivo para garantir que cada intervenção seja realizada com máxima segurança e eficácia. O bom médico nunca para de estudar.

Além dos riscos diretos à saúde, a atuação de não médicos compromete a credibilidade e a reputação da especialidade. Como um serviço à população, os interessados em realizar algum procedimento cirúrgico podem e devem checar se o profissional é qualificado no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

É imperativo coibir práticas ilegais e perigosas, visando a proteger a saúde e o bem-estar dos brasileiros. Juntos, podemos promover uma mudança positiva e significativa, assegurando que apenas profissionais qualificados e habilitados realizem procedimentos que impactam diretamente a vida e a saúde da população.

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PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA PLÁSTICA (SBCP)

Opinião por Volney Pitombo

Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)