A 10.562 quilômetros de distância, o Estado de Israel e o município de Serrana destacam-se na vanguarda da vacinação em massa.
De um lado, Israel, país de pequenas dimensões, situado no Oriente Médio, com pouco mais de 9 milhões de habitantes, foi uma das nações pioneiras na liderança da imunização de sua população. De outro, Serrana, município no interior do Estado de São Paulo, com 47 mil habitantes, a primeira cidade brasileira a ser vacinada em massa para estudo inédito.
Diferenças à parte, há vários desafios comuns no enfrentamento da pandemia. Medidas restritivas e de distanciamento social, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), preocupação com o impacto no sistema de saúde e desconhecimento do novo vírus, essas são apenas algumas das semelhanças. Mas há outras.
Israel rapidamente percebeu a importância da vacinação em massa e garantiu imunizantes para toda a população. Somado a isso, um sistema de saúde robusto e universal permitiu celeridade na aplicação das doses. Gerenciado por quatro administradoras que atuam como uma espécie de convênios sem fins lucrativos, o sistema público oferece cobertura completa do país, com infraestrutura e tecnologia. Além da aplicação das doses, o monitoramento de todos os cidadãos vacinados, num trabalho conjunto com os laboratórios, tem permitido que a imunização em massa seja analisada e ajustada a todo momento.
Serrana teve atuações pioneiras em diversos momentos da pandemia. Após um surto de casos, uma ação bem orquestrada entre o hospital estadual de referência da cidade e a Secretaria Municipal de Saúde coletou dados e realizou um programa de testagem em todo o município, o que permitiu o rastreamento dos casos de covid e a implementação de medidas efetivas de combate. Com essas informações, em parceria com o Instituto Butantan, Serrana tornou-se o local perfeito para a pesquisa. Conhecido como Projeto S, o estudo clínico possibilitará outro entendimento da imunização, agora em massa, compreendendo o impacto na redução de casos graves da doença e na transmissibilidade do novo coronavírus. Por isso o trabalho é tão importante e pioneiro.
Além da coincidência em relação ao ano de 1948, quando se deu a independência do Estado de Israel e quando Serrana se tornou município, outro fato importante que nos une é nossa relação com o sistema público de saúde. Em Israel, ele existe desde antes de sua criação, graças à importância dada pelos israelenses ao tema e ao pensarem sua nação. Já em Serrana, o hospital estadual começou a ser erguido em 1981, pela Sociedade Beneficente Santa Casa de Misericórdia de Serrana, e contou com a participação ativa dos cidadãos na sua construção.
Este talvez seja o ponto mais importante para os resultados positivos da vacinação em massa a que assistimos hoje: o pacto social entre habitantes, sistema de saúde e poder público.
Atualmente, Israel tem mais de 75% da população adulta vacinada com duas doses. Já no final de março, com cerca de 50%, números do Ministério da Saúde apresentavam grande queda do contágio, o mais baixo desde julho de 2020. Segundo especialistas, o resultado é fruto de uma campanha de vacinação bem-sucedida, que é realizada mesmo em meio à proliferação de novas variantes. Israel, que manteve medidas sociais restritivas durante a campanha, agora começa a se abrir. Aos poucos, uma certa normalidade vai retornando ao país, mas ainda com o uso de EPIs e com o monitoramento da saúde da população.
Já Serrana completou a imunização dos voluntários do estudo no domingo passado e 95% da população adulta foi vacinada. Um grande sucesso, que demonstra a confiança das pessoas na vacina e no estudo. Embora Serrana já apresente melhoras nos níveis de contágio e há duas semanas não tenha nenhum paciente intubado por causa da covid-19, os primeiros resultados oficiais só sairão em maio, depois de 15 dias que o último grupo tomou a segunda dose, período necessário para que a imunização faça efeito. As conclusões contribuirão para a decisão sobre a reabertura de escolas e do comércio, mas o acompanhamento da população seguirá por mais um ano.
Diante desses dois casos de referência no combate à pandemia, recentemente nos reunimos para falarmos e conhecermos mais as iniciativas lideradas por nossos governos. O desejo é compartilhar informações e aprender com o trabalho de cada um.
A amizade que Israel tem com Brasil vem desde a independência do país, com o papel tão importante desempenhado pelo diplomata brasileiro Osvaldo Aranha perante a Assembleia-Geral da ONU de novembro de 1947, que declarou a criação do Estado de Israel. Em 2021, no calendário gregoriano, celebra-se hoje, 15 de abril, a independência do Estado israelense.
Com toda e qualquer diferença que Israel e Serrana possam ter, tão distantes geograficamente, agora nos aproximamos no combate à pandemia. Unidos por valores comuns e pelas pessoas.
Temos esperança de que em futuro próximo possamos apresentar os resultados positivos deste compromisso com saúde, desenvolvimento sustentável e inovação.
RESPECTIVAMENTE, PREFEITO DE SERRANA E CÔNSUL-GERAL DE ISRAEL EM SÃO PAULO