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Opinião|Medicina Endocanabinoide tem muito a oferecer à saúde no Brasil

‘Instituições de ensino, com poucas exceções nos níveis de excelência, praticamente ignoram o sistema endocanabinoide e o uso da cannabis como alternativa de tratamento, apesar de resultados científicos contundentes publicados há décadas’

Por Patrícia Montagner

A Medicina Endocanabinoide é uma área do conhecimento promissora e em constante evolução, que tem o potencial de impactar o tratamento de diversas condições de saúde no Brasil e no mundo. No entanto, para que esse progresso seja bem-sucedido, é crucial enfrentar dois obstáculos significativos: a falta de informação e o persistente estigma em relação à cannabis medicinal.

No Brasil, a confusão entre o uso medicinal e o uso recreativo da cannabis é persistente, o que prejudica a popularização dos benefícios das terapias nesta área e impede que pacientes com condições sérias acessem tratamentos que podem aliviar o seu sofrimento. É preciso, com urgência, esclarecer essa questão com uma abordagem essencialmente técnica.

A comunidade médica, por sua vez, que deveria ser a liderança natural no esforço para informar a sociedade, continua pouco engajada. Os médicos desempenham um papel fundamental na educação e na orientação de diversas questões de saúde, pois têm conhecimento e, sobretudo, a confiança da população. Então, devem assumir a responsabilidade e atuar no encontro da ciência e do melhor interesse dos pacientes.

Mas, para isso, será necessário um grande esforço de preparação, pois a maioria dos profissionais de saúde no Brasil ainda não dispensou adequada atenção ao assunto. Muito por causa de um fator estrutural, é verdade, já que as instituições de ensino, com poucas exceções nos níveis de excelência, praticamente ignoram o sistema endocanabinoide e a utilização da cannabis como alternativa de tratamento para diversas patologias, apesar de resultados científicos contundentes publicados há décadas.

Essa falta de informação e estigma não limitam apenas o acesso da população a terapias potencialmente eficazes, mas também prejudicam a capacidade da medicina de evoluir e incorporar novos conhecimentos. Por isso, é essencial que as universidades e especializações médicas incorporem o sistema endocanabinoide e as terapêuticas baseadas nesse sistema como uma disciplina de conhecimento transversal na formação médica e preparem os futuros profissionais para compreender e aplicar essa abordagem em suas práticas.

A informação precisa ser disseminada e os mitos e equívocos, desfeitos de maneira responsável e baseada em evidências científicas. A Medicina Endocanabinoide pode ser uma alternativa para muitos pacientes que enfrentam condições médicas desafiadoras. No entanto, para que isso se concretize, é imperativo combater a ignorância em relação ao assunto, tanto na sociedade em geral quanto entre os profissionais de saúde, em particular. Somente por meio da educação, da pesquisa e da abertura de diálogo poderemos aproveitar todo o potencial que esta ciência pode oferecer ao sistema de saúde brasileiro.

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NEUROCIRURGIÃ, É FUNDADORA DA WECANN ACADEMY

Opinião por Patrícia Montagner