Opinião | O mercado ilegal no Brasil: impactos da pirataria e do contrabando

Os únicos beneficiados com essas práticas são os grupos criminosos, que obtêm lucros elevados com a comercialização ilegal

Por David Fernando Rodrigues e Thaís Lio

A comercialização de produtos ilegais gera prejuízos significativos para diversos setores da economia, afetando consumidores, empresas e governo.

O combate à pirataria continua sendo um grande desafio no Brasil. A reprodução não autorizada de produtos, a utilização indevida de propriedade intelectual e a violação de direitos autorais representam sérios problemas para o País. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, em 2024, as perdas econômicas decorrentes da pirataria e do contrabando atingiram R$ 468 bilhões – um valor mais de quatro vezes superior ao registrado em 2014, quando esse levantamento começou. Diante desse cenário alarmante, torna-se essencial adotar medidas eficazes para reduzir os impactos negativos dessas práticas.

Os setores mais afetados foram:

  • Vestuário: perda de R$ 87,4 bilhões;
  • Bebidas alcoólicas: R$ 85,2 bilhões;
  • Combustíveis: R$ 29 bilhões;
  • Material esportivo: R$ 23,3 bilhões;
  • Higiene pessoal, perfumaria e cosméticos: R$ 21 bilhões;
  • Defensivos agrícolas: R$ 20,5 bilhões;
  • Ouro: R$ 12,7 bilhões; e
  • TV por assinatura: R$ 12,1 bilhões

No segmento audiovisual, que inclui pirataria digital de softwares, cursos online, vídeos, músicas e filmes distribuídos ilegalmente, o prejuízo estimado foi de R$ 4 bilhões.

O presidente do Fórum, Edson Vismona, ressaltou que o enfrentamento a esses crimes deve ocorrer em duas frentes: a conscientização da população para reduzir a demanda por produtos ilegais e o fortalecimento das ações de inteligência para desmantelar redes criminosas cada vez mais sofisticadas.

A necessidade de combater a pirataria se reflete em diversos aspectos. Essa prática está profundamente enraizada nos hábitos de consumo da população, abrangendo desde produtos eletrônicos até vestuário e acessórios, principalmente devido ao seu menor custo. No entanto, é fundamental modificar esse comportamento, pois a pirataria gera impactos negativos não apenas para as empresas legalizadas, mas também para a sociedade como um todo. Entre os prejuízos causados pela pirataria, destacam-se:

  • Redução na arrecadação de impostos;
  • Queda na geração de empregos;
  • Financiamento de atividades criminosas; e
  • Comercialização de produtos de baixa qualidade, que podem representar riscos à saúde e segurança dos consumidores

Dessa forma, mesmo que a pirataria possa parecer uma alternativa inofensiva para quem compra produtos mais baratos, suas consequências são severas. O combate a essa prática é essencial para garantir um mercado mais justo e seguro. Mas quais são as estratégias mais eficazes para enfrentar esse problema?

Uma das principais razões que levam os consumidores a adquirir produtos ilegais é o preço acessível. Por isso, uma das abordagens fundamentais no combate à pirataria é a realização de campanhas educativas para alertar sobre os riscos dessa prática e instruir a população sobre como identificar produtos falsificados. Ao apresentar o impacto negativo da pirataria de forma abrangente, é possível promover uma mudança de comportamento e incentivar o consumo responsável.

Outra estratégia fundamental envolve ações governamentais. O Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP) desempenha papel crucial no enfrentamento dessa questão, sendo responsável pelo desenvolvimento de diretrizes e aplicação de medidas voltadas para combater a pirataria, a sonegação fiscal e a violação da propriedade intelectual. Suas iniciativas incluem ações repressivas, educativas e econômicas para envolver toda a sociedade no enfrentamento desse problema.

A Receita Federal tem reforçado suas estruturas de controle e, diariamente, apreende mercadorias ilegais nas fronteiras terrestres, portos e aeroportos. Apenas em 2024, foram recolhidos mais de R$ 3,7 bilhões em produtos contrabandeados e falsificados.

Além disso, é fundamental a implementação de uma combinação de medidas administrativas, como o aumento da fiscalização nas alfândegas, e medidas judiciais, tanto na esfera criminal quanto na cível, para fortalecer o combate à pirataria.

Diante desse cenário, fica evidente que a pirataria impacta negativamente todos os envolvidos: consumidores, que são expostos a produtos de qualidade duvidosa; a indústria, que sofre com queda nas vendas e redução de investimentos e empregos; comerciantes e importadores que operam dentro da legalidade, prejudicados pela concorrência desleal; e o governo, que perde arrecadação tributária. Os únicos beneficiados são os grupos criminosos, que obtêm lucros elevados com a comercialização ilegal. Além disso, há indícios de que os recursos obtidos com a pirataria financiam outras atividades ilícitas, algumas de caráter ainda mais grave.

Opinião por David Fernando Rodrigues

Advogado do Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello

Thaís Lio

Advogada do Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello