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Opinião | O que o investimento social privado pode fazer pela educação brasileira?

Ao direcionar recursos para a educação, ampliam-se as oportunidades de aprendizado para crianças e jovens, ao mesmo tempo em que se enfrentam as disparidades sociais

Por Murilo Nogueira

A educação brasileira enfrenta desafios que demandam soluções práticas e inovadoras para assegurar oportunidades de aprendizado de qualidade a todos. Nesse cenário, o investimento social privado surge como uma alternativa estratégica, promovendo mudanças estruturais ao combinar ambientes físicos adequados com o uso de tecnologia e práticas pedagógicas eficientes. Dessa forma, o impacto dessas ações vai além do aporte financeiro: transforma realidades, fortalece o ensino e contribui para a criação de uma sociedade mais justa e equitativa.

De acordo com o levantamento mais recente do Censo Gife – a associação que reúne os investidores sociais privados no Brasil –, R$ 4,8 bilhões foram destinados a iniciativas com impacto social positivo em 2022. Desse total, a educação foi o setor que mais recebeu recursos, com 42%, o equivalente a cerca de R$ 2 bilhões. Esses dados refletem o crescente reconhecimento de que a educação é um dos alicerces essenciais para a construção de uma sociedade mais inclusiva, inovadora e sustentável, ao formar cidadãos preparados para os desafios do século 21. Isso impulsiona não apenas o desenvolvimento individual, mas também o fortalecimento de comunidades mais resilientes. Nesse contexto, o investimento social privado vai além de um apoio pontual, priorizando soluções duradouras e estruturantes que viabilizam a adoção de currículos atualizados e métodos pedagógicos inovadores.

Evoluir continuamente as práticas educacionais são passos cruciais para preparar os estudantes para um mundo em constante evolução. A inovação pedagógica, possibilitada por investimentos financeiros, técnicos e estruturais, resulta em uma educação mais dinâmica, atrativa e alinhada às necessidades das novas gerações. Além disso, iniciativas como a capacitação de professores, a oferta de materiais didáticos de excelência e a criação de espaços escolares adequados – com arquitetura funcional e adaptada às metodologias contemporâneas – são fundamentais para elevar os padrões educacionais e proporcionar um aprendizado transformador e relevante.

Estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que ambientes escolares bem planejados melhoram não apenas o desempenho acadêmico, mas também a motivação e o engajamento dos alunos. O impacto vai além da sala de aula: ele se reflete em uma redução nos índices de evasão e no aumento das oportunidades futuras para crianças e jovens. O investimento social privado reconhece que o aprendizado está intrinsecamente ligado às condições de vida dos estudantes. Programas voltados para saúde, nutrição e bem-estar oferecem uma base sólida para o desempenho escolar. Dados da Unesco indicam que estudantes com alimentação equilibrada, acesso a serviços médico-odontológicos e suporte psicológico têm desempenho significativamente melhor e uma menor probabilidade de abandonar a escola, permitindo-lhes aproveitar plenamente suas jornadas acadêmicas. Além disso, atividades extracurriculares nas áreas artística e esportiva auxiliam no desenvolvimento de competências como criatividade, liderança e trabalho em equipe, essenciais para o século 21.

Por fim, é importante destacar a necessidade de alinhamento entre o setor privado e as políticas públicas. Iniciativas que dialogam com o Plano Nacional de Educação (PNE) e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como o ODS 4 – que busca garantir educação inclusiva e de qualidade –, podem ampliar significativamente o alcance e a eficácia dos investimentos. Essa cooperação é indispensável para enfrentar os desafios estruturais da educação no Brasil.

O alcance do investimento social privado é uma força motriz para promover mudanças sociais e econômicas significativas no País. Ao direcionar recursos para a educação, ampliam-se as oportunidades de aprendizado para crianças e jovens, ao mesmo tempo em que se enfrentam as disparidades sociais. Jovens bem preparados têm maiores chances de ingressar no mercado de trabalho, atuar como agentes de transformação em suas comunidades e contribuir para o fortalecimento de suas famílias.

A educação é um pilar indispensável para a redução de desigualdades e o progresso de uma sociedade mais justa. O investimento privado tem potencial para acelerar esse processo ao apoiar iniciativas que atendam demandas urgentes e implementem soluções sustentáveis. No Brasil, há grande espaço para que empresas ampliem seu impacto, colaborando com políticas públicas e metas globais, como o ODS 4 da ONU, que busca garantir educação inclusiva e de qualidade. Essas ações reforçam o compromisso com uma sociedade mais próspera e igualitária.

Celebramos os avanços alcançados até o momento, mas reconhecemos que ainda há um longo caminho pela frente. Acreditamos que somente a educação tem o poder de transformar a sociedade e permitir que todos, independentemente de suas origens ou condições, possam sonhar com um futuro melhor. Ela não é apenas o alicerce de um presente mais sólido, mas também a chave para abrir caminhos para um futuro mais amplo e promissor. O papel do investimento social privado nesse processo é inquestionável: apostar na educação é acreditar que só o conhecimento transforma, criando oportunidades para construir uma sociedade mais justa e um Brasil melhor.

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DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO DA FUNDAÇÃO BRADESCO

Opinião por Murilo Nogueira

Diretor administrativo e financeiro da Fundação Bradesco

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