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Opinião | O setor elétrico anda de táxi

O processo de formação de preços precisa ser aprimorado, dando uma sinalização econômica mais clara para que o governo e os agentes tomem decisões de curto e longo prazo

Por Marisete Pereira

O sucesso do aplicativo de carros é retratado como símbolo da digitalização e democratização, mas grande parte dele é resultante de um elemento econômico básico: o preço. Ao estabelecer preços dinâmicos, o aplicativo de carros recebe as ofertas e demandas por transporte em tempo real, e chega ao seu preço de equilíbrio. No modelo de tarifas fixas do táxi, quando a oferta é abundante, a tarifa funciona como um preço mínimo acima do preço de equilíbrio do mercado, reduzindo o excedente total da economia. Já quando a demanda é excessiva, a tarifa funciona como um preço teto, gerando escassez.

Ao se adotar preços dinâmicos (reais!), em momentos de sobreoferta, o preço cai abaixo da tarifa do táxi, o que atrai consumidores para esse mercado, aumentando o excedente da economia. Já quando há excesso de demanda, o preço sobe acima da tarifa do táxi, estimulando maior oferta e a resposta do consumidor ao preço, reequilibrando o mercado. Está aí o sucesso do aplicativo, que, por se utilizar de princípios econômicos básicos, aumentou tanto o mercado consumidor quanto a oferta.

No setor elétrico brasileiro, pouco mais da metade do consumo, porém a grande maioria dos consumidores, ainda paga a tarifa do táxi básica: trata-se do consumidor cativo, aquele que é suprido pela distribuidora de energia. O consumidor livre, aquele que atende a alguns requisitos mínimos de consumo, já enfrenta uma realidade de mercado, mas não em tempo real, pois os preços são definidos em intervalos de uma hora, e calculados por modelos computacionais no dia anterior.

O modelo de formação de preços do setor elétrico é tão antigo quanto a tabela do táxi. Ambos funcionavam bem no mundo analógico, quando a matriz era majoritariamente hidrelétrica, permitindo que a remuneração aos agentes fosse restrita somente à energia, pois essas usinas atendem a todos os requisitos do sistema (desde as principais grandezas como energia e potência, assim como outros requisitos pouco exigidos à época, como flexibilidade, controle de tensão e frequência, entre outros serviços ancilares).

Contudo, a evolução tecnológica superou as limitações do mundo analógico, trazendo uma série de benefícios à sociedade, como a inserção maciça das novas tecnologias eólica e solar. Mas há também o outro lado da moeda: sem a construção dos reservatórios de regularização há mais de duas décadas e com mais energia proveniente das fontes variáveis, requisitos antes abundantes no sistema pelas características intrínsecas das fontes hidrotérmicas passaram a ser limitados, sendo o mais emblemático desses a necessidade do sistema por flexibilidade.

Flexibilidade, no setor elétrico, pode ser resumida como a capacidade de as usinas atenderem ao consumo em todos os momentos do dia, considerando suas variações (aumento e redução), devendo sempre serem respeitados os requisitos de confiabilidade exigidos pelo sistema elétrico (frequência, tensão, etc).

Voltando ao paralelo com o táxi, a tarifa fixa já não remunera adequadamente os geradores de energia elétrica, pois alguns entregam mais requisitos para o sistema do que outros, como a flexibilidade, por exemplo, e é isso que permite o atendimento pleno, seguro e diário a todos os consumidores do País.

Em outras palavras, o processo de formação de preços no setor elétrico precisa ser aprimorado, dando uma sinalização econômica mais clara para que o governo e os agentes tomem decisões de curto e longo prazo, e estamos no momento certo para promover esses ajustes., garantindo os investimentos que são necessários para fazer frente ao crescimento econômico do País.

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É DIRETORA-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS GERADORAS DE ENERGIA ELÉTRICA (ABRAGE)

Opinião por Marisete Pereira

É diretora-presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage)