Foto do(a) page

Conheça o Espaço Aberto na editoria de Opinião do Estadão. Veja análises e artigos de opinião em colunas escritas por convidados e publicadas pelo Estadão.

Opinião|Pisa: desafios para uma revolução na educação brasileira

Ao adotar modelo baseado em conceitos que apoiam a aprendizagem profunda, podemos melhor equipar os alunos para o sucesso em um mundo em constante mudança

Por Anne Baldisseri

À luz dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022, as instituições educacionais no Brasil enfrentam um momento crucial, exigindo uma reavaliação fundamental de sua abordagem. Modelos acadêmicos tradicionais não são mais suficientes para preparar os alunos para as complexidades do mundo moderno. Um foco exclusivo em resultados mensuráveis por meio de notas numéricas ou testes padronizados é inadequado. As notas têm seu propósito na avaliação do progresso acadêmico, mas, sozinhas, não capturam o desenvolvimento multifacetado dos alunos.

Medir o crescimento em habilidades humanas essenciais como colaboração, pensamento crítico, criatividade e comunicação é complexo e sutil. No entanto, essas são as habilidades que os empregadores buscam, as famílias reconhecem como vitais para o sucesso de seus filhos e os professores lutam para abordar em meio às demandas de um currículo padronizado.

É importante reconhecer que algumas de nossas escolas privadas superaram as médias nacionais no Pisa. No entanto, o objetivo não é apenas alcançar, mas também transformar os padrões de referência internacionais. Isso requer a implementação de práticas inovadoras e inclusivas, garantindo motivação dos alunos que vai além do acadêmico para abranger aspectos sociais e emocionais. Engajar-se profundamente com temas significativos é o que os alunos desejam, buscando oportunidades para resolver problemas e assumir o controle de sua jornada de aprendizado.

Para preencher essa lacuna, há um apelo para incorporar o ensino dessas habilidades e compreensões diretamente no currículo. Em vez de se concentrar apenas em conteúdos específicos, a aprendizagem interdisciplinar com foco na comunidade local — na sala de aula, na escola e em seu entorno — enriquece a experiência educacional. Essa abordagem oferece oportunidades para os alunos se envolverem em ações tangíveis para melhorar sua comunidade e o mundo além dela, mostrando como projetos significativos e transformadores podem cultivar essas habilidades essenciais necessárias no mundo atual.

Muitos desses projetos envolvem interações com indivíduos de diferentes origens e culturas, expondo os alunos a diferentes perspectivas e capacitando-os a se tornarem globalmente competentes. O Fórum Econômico Mundial destaca a crescente demanda por habilidades como pensamento criativo, pensamento analítico e curiosidade.

Considere o jovem que acorda cedo para levar seus irmãos para a escola, tem um emprego, ajuda a cuidar dos irmãos e ainda assim consegue boas notas. As habilidades necessárias para gerenciar isso são atualmente invisíveis para uma avaliação como o Pisa. Validar essas habilidades trazendo essas experiências autênticas para as práticas diárias da sala de aula é essencial para que os estudantes possam atribuir significado e se sentir motivados, liberando o potencial latente de milhões de mentes jovens.

Imagine um currículo que não apenas transmite conhecimento, mas também dá aos alunos oportunidades de pensar e agir de forma flexível com o que sabem. Ao adotar um modelo baseado em conceitos que apoiam a aprendizagem profunda, podemos melhor equipar os alunos para o sucesso em um mundo em constante mudança. Essa metamorfose capacita os alunos a se tornarem aprendizes ao longo da vida e contribuidores ativos para a sociedade, preparando-os para a vida além da sala de aula. Os resultados do Pisa poderão ser melhores com essa mudança de paradigma; entretanto, possivelmente se tornarão irrelevantes.

*

DIRETORA DA AVENUES SÃO PAULO DESDE AGOSTO DE 2023

Opinião por Anne Baldisseri

Diretora da Avenues São Paulo desde agosto de 2023