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Opinião | Por que votar em Tabata Amaral

O sucesso dela em São Paulo fortalece a articulação de um centro democrático apoiado num programa social-democrata contemporâneo e em princípios republicanos

Por Sergio Fausto

O título não é uma pergunta, mas uma afirmação. As razões são as que seguem.

A tendência à perda de qualidade dos quadros políticos no Brasil é visível. Existem exceções em todo o espectro político, fora dos extremos. Entre as exceções, uma das mais destacadas é Tabata Amaral.

Com apenas 30 anos e uma precoce maturidade pessoal e política, ela já passou pelo batismo de fogo de reeleger-se deputada federal por São Paulo. Em 2022, obteve 340 mil votos, 75 mil a mais do que em 2018. Demonstrou não ser uma “novidade passageira”, tanto assim que foi escolhida pelo PSB para ser a candidata do partido à prefeitura da maior cidade do País.

Tabata tem um conjunto raro de qualidades: inteligência acima da média; empatia com os problemas e as aspirações de pessoas de carne e osso, sobretudo as mais pobres; formação acadêmica para compreender e solucionar problemas de políticas públicas; facilidade para transitar e dialogar em ambientes diversos, desde as comunidades da periferia paulistana até a Câmara dos Deputados, passando pelas universidades, igrejas e religiões de diferentes credos, entre outros espaços da sociedade civil; e determinação e coragem para enfrentar obstáculos e riscos, como vem mostrando nesta campanha eleitoral. São qualidades desenvolvidas e colocadas à prova ao longo de uma trajetória extraordinária de vida, comparável a poucas na política brasileira.

Tabata tem raízes profundas no lugar onde nasceu – a Vila Missionária, bairro periférico da zona sul da Capital –, mas alargou seus horizontes. Graças às oportunidades que recebeu, ao apoio de sua família e aos seus imensos méritos próprios, graduou-se em Harvard. Como se fosse pouco, obteve um duplo diploma: em Ciência Política e em Astrofísica. A primeira, uma área das ciências humanas que estuda as relações de poder e as instituições que as regulam. A segunda, um domínio das ciências exatas, densa em Matemática. O conhecimento em ambas as áreas qualifica a atuação de Tabata na vida pública. Contam-se nos dedos de uma mão os políticos que têm hoje formação tão sólida quanto a sua.

Tabata poderia ter escolhido um caminho diferente ao voltar de Harvard. Não lhe faltavam oportunidades para uma carreira promissora fora da política. Do ponto de vista individual, teria sido mais fácil e, certamente, mais rentável. Ela, porém, decidiu trilhar o caminho mais difícil, movida por um sentimento de solidariedade com milhões de brasileiros e brasileiras nascidos em famílias pobres. Fez da igualdade de oportunidades, sobretudo pela via da educação, a causa da sua atividade pública. Quantos são os que hoje ingressam na vida política movidos por causas? E não por uma causa qualquer, mas a maior de todas elas, num país tão desigual quanto o nosso.

São Paulo se encontra hoje aquém do seu potencial, cerceada pela pequena política, quando não acossada pelo grande crime organizado, apequenada pela mediocridade e pelo provincianismo. Tabata oferece a São Paulo aquilo de que a cidade mais precisa: alguém que a conheça e a sinta de perto, comprometida com a redução das distâncias sociais e econômicas que nos separam, com capacidade de convocar e mobilizar sem exclusivismos político-partidários e dogmatismos ideológicos os melhores recursos humanos de que São Paulo dispõe para superar seus desafios, alguém que tenha ao mesmo tempo sabedoria e coragem política para construir a coalizão de forças necessárias para fazer a cidade mudar de rumo.

São Paulo pode e deve ter a ambição de ser, ao lado da Cidade do México, a mais importante cidade global da América Latina. Para isso, precisa projetar-se por inteiro, elevando a base da pirâmide, encurtando as distâncias que nos enfraquecem. Tabata tem visão, programa, capacidade de convocação e energia para colocar a cidade no rumo certo. É jovem, mas não é ingênua. É íntegra, mas não é boba. É suave, mas, quando necessário, sabe bater duro. Tem a têmpera de quem enfrentou muitas adversidades, com incrível disciplina e determinação. As mesmas qualidades que a têm permitido sustentar uma promissora posição nas pesquisas contra adversários com campanhas muito mais caras que a sua.

O sucesso de Tabata em São Paulo é importante também para o Brasil. Fortalece a articulação de um centro democrático apoiado num programa social-democrata contemporâneo e em princípios republicanos. Trata-se de uma tarefa coletiva, que exigirá muitas mãos e várias cabeças.

É preciso ampliar desde já os horizontes do País, restritos ultimamente a uma direita com inclinações autoritárias e retrógrada e uma esquerda amarrada a ideias anacrônicas e apodrecidas paixões por tiranetes amigos.

As eleições gerais de 2026, em particular a presidencial, não são predeterminadas pelas eleições municipais de outubro próximo. Mas os resultados nas principais capitais do País, em particular em São Paulo e no Rio de Janeiro, terão efeito sobre as articulações no âmbito nacional nos próximos dois anos.

Sobram razões para votar em Tabata Amaral.

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DIRETOR-GERAL DA FUNDAÇÃO FHC, É MEMBRO DO GACINT-USP

Opinião por Sergio Fausto

Diretor-geral da Fundação FHC, é membro do Gacint-USP.