No ano que vem teremos eleições municipais em todo o Brasil. Diante do quadro caótico que algumas cidades do País apresentam no momento, torna-se imperioso avaliar o que queremos para os municípios sem esquecer que, como sempre dizia nosso grande parlamentar e ex-governador de São Paulo André Franco Montoro, quase todos moramos em cidades e é delas que precisamos cuidar com maior zelo.
Em termos territoriais, as áreas urbanas deveriam sempre ser nossas grandes prioridades, mas, por uma inversão de valores ou por falta de planejamento, o povo brasileiro inverteu a valoração: primeiro, se preocupa com quem vai governar o País; depois, o Estado; e, por último, o município.
É do conhecimento geral que a cidade de São Paulo é a maior do Brasil – e uma das maiores das Américas –, a mais populosa, a mais agitada financeiramente, a mais poderosa, porém também a mais pobre (na periferia), a mais doente, a mais insalubre, a mais triste, a mais inculta, a mais desigual, a mais transfigurada, a mais feia, a mais violenta, a mais sofrida. São Paulo já foi muito bonita, tranquila, acolhedora, organizada. Ainda é difícil de entender por que chegamos ao caos, ponto em que estamos hoje. A especulação imobiliária desmedida, as construções gigantescas e insaciáveis, a corrida insana pelo dinheiro fizeram com que o bem-estar tenha sido esquecido e seus habitantes tenham sido aos poucos largados à própria sorte, no salve-se quem puder.
Não me refiro, de forma alguma, à atual administração municipal como tendo falhado – inclusive porque nossos prefeitos têm envidado esforços para melhorar as condições de vida de nossa população, fazendo intervenções urbanas para melhorias em quase todos os bairros, atendendo aos pleitos dos moradores com agilidade –, mas é preciso chamar a atenção especial para a proliferação de lamentáveis empreendimentos gigantescos e predatórios, que oprimem os habitantes, ocupam todas as áreas do terreno, esquecem o objetivo de bem-estar humano e destroem nossa qualidade de vida. Para que tantos monstros de concreto a oprimir nossas almas? Como pode existir tal sanha destruidora e cega, ao menos aos olhos da população?
Muitas ruas da cidade, estreitas e antigas, vêm sendo destruídas com a construção de edifícios monstruosos e totalitários, que ocupam toda a área do terreno, geram corredores de vento, oprimem moradores das suas redondezas, infernizam o trânsito, violentam o lençol freático, canalizam rios e trazem mal-estar imediato para uma população de moradores infelizes que são obrigados a sofrer mais que o necessário, sem nenhuma qualidade de vida, em nome da incontrolável especulação imobiliária.
As moradias para as classes média e alta podem ser pomposas, mas, por vezes, são destruidoras do bem-estar e da saúde da população. Os empreendedores que se dedicam a estas grandes obras e lucram milhões e até bilhões não enxergam que estamos todos no mesmo barco e que os moradores da cidade de São Paulo estão sofrendo, adoecendo, entristecendo – muitos sem perceber, mas há moradores que gostariam de se mudar da metrópole para serem felizes.
Os empreendedores imobiliários têm de aceitar limites e evitar a destruição do espaço público. Aliás, conforme normas adotadas na Suíça, por exemplo, construções em bairros tradicionais e certas construções antigas e preservadas não podem ser vendidas nos mercados locais. Somente o governo pode estabelecer valores para as ocupações desses imóveis, em nome da preservação da memória histórica e do direito de todos(as) ao bem-estar, evitando a insalubridade decorrente da balbúrdia competitiva e preservando relíquias arquitetônicas.
Em resumo, as cidades de nosso país e, acima de tudo, São Paulo precisam aprender a respeitar o espaço público e o meio ambiente, espelhando-se no que deu certo mundo afora, buscando a preservação ambiental, arquitetônica e econômica, bem como a limpeza dos recursos hídricos e a purificação do ar, para que nosso futuro não seja um mar de detritos, insalubridade e descontrole emocional. Além disso, os impactos ambientais urbanos prejudicam a qualidade de vida da população, provocando enchentes, erosões, poluição do solo e do ar, contaminação dos recursos hídricos por esgotos sanitários e industriais e diminuição de áreas verdes. Para minimizar os prejuízos à população, seria importante economizar água, separar o lixo orgânico, optar por combustíveis não poluentes, diminuindo o uso de automóveis, e consumir produtos biodegradáveis, entre outras medidas.
É fato que estamos longe de chegar ao equilíbrio ecológico ideal, principalmente nas grandes metrópoles, mas não custa tentar. As escolas fariam um grande serviço para a posteridade se incluíssem nos currículos a importância das medidas preventivas do caos urbano.
Vamos juntos ajudar São Paulo a ser mais limpa, mais humana, mais agradável, mais saudável e menos destruída pelas mãos da ganância.
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ADVOGADA