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Opinião | Refém do Hamas: precisamos ser a voz do brasileiro Michel Nisenbaum

Neste momento, é provável que essas vítimas estejam em algum túnel escuro sofrendo abusos sexuais, torturas e agressões. Mas, por algum motivo, essa dramática situação não está na pauta do dia

Por Marcos Knobel

No dia 7 de outubro deste ano, o mundo assistiu a um dos massacres mais dolorosos da história mundial, liderado pelo grupo extremista Hamas, em Israel. Ao todo, morreram mais de 1.400 pessoas, entre adultos, idosos e crianças, e outras mais de 240 foram capturadas como reféns. E sim, além dos três brasileiros assassinados no massacre, há um brasileiro entre os sequestrados: Michel Nisenbaum, de 59 anos, que mora em Israel há mais de quatro décadas. Pai de duas filhas e avô de cinco netos, Michel falou com a família na manhã do ataque, e logo depois seu carro foi encontrado carbonizado. Ao tentar contato com o pai ao telefone, uma das filhas foi surpreendida por uma pessoa que gritava “Hamas!”. Desde então, a família vive um drama sem fim.

Foram necessários muitos dias e análises sigilosas por órgãos de inteligência internacionais até que investigações trouxessem evidências suficientes para afirmar ser Michel um dos sequestrados levados para Gaza pelos terroristas.

Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, o brasileiro é técnico de informática e imigrou para Israel aos 12 anos com a mãe e a irmã mais velha. Morador da cidade de Sderot, é um amante da natureza que tem como hobby fazer trilhas. Um homem com muitos planos de vida, como pôr em prática a carreira de guia de turismo, agora que concluiu o curso que permite atender turistas brasileiros, latinos e israelenses. Outro grande desejo seu é o de celebrar a chegada do sexto neto, cujo nascimento está previsto para dezembro.

Todos esses sonhos foram congelados pelo Hamas e não podemos ficar em silêncio.

Enquanto as negociações diplomáticas seguem, o relógio corre e só podemos afirmar que mais um dia passou sem que Michel dê notícias à família. É mais um dia em que não sabemos se ele está vivo. É mais um dia em que a chance de ele perder a vida aumenta.

Em meio à polarização política que serve de pano de fundo aos debates sobre a guerra, a sensação de que o olhar para os reféns fica em segundo plano assombra a família deste que é o único brasileiro entre os sequestrados. É inegável que o governo do Brasil tomou importantes atitudes até aqui, como enviar aviões da FAB para trazer brasileiros que estavam em Israel, Gaza e Cisjordânia. O presidente Lula afirmou, recentemente, que “não vai deixar nenhum brasileiro para trás”. Mas e Michel Nisenbaum? Nenhuma linha sobre ele foi dita até o momento nos discursos oficiais do governo federal.

Uma nova informação de que nos próximos dias uma pausa de cinco dias nos conflitos em Gaza pode acontecer e, ao longo desse período, algo em torno de 50 reféns, possivelmente crianças e idosos, seriam libertados pelo Hamas traz um lampejo de esperança. A Federação Israelita do Estado de São Paulo, assim como outras entidades representativas da comunidade judaica no Brasil, está acompanhando e cobrando ativamente a movimentação das autoridades do nosso país para apoiar nas negociações, de forma pacífica, e garantir a libertação de Michel e dos muitos outros reféns.

É preciso olhar para a situação atual no Oriente Médio com muita atenção e lembrar que um dos pontos centrais do debate precisa, invariavelmente, envolver os civis raptados pelos terroristas. Afinal, neste exato momento, é provável que essas vítimas estejam em algum túnel escuro sofrendo abusos sexuais, torturas e agressões. No entanto, por algum motivo, essa dramática situação não está na pauta do dia.

O fato é que esses reféns se tornaram peças perdidas no tabuleiro da guerra e seu destino está na mão de um grupo terrorista que prega o extermínio dos judeus, sejam eles bebês, idosos, mulheres e homens.

Por isso, temos de ser a voz dos sequestrados. Afinal, eles têm nomes, rostos e histórias próprias. Enquanto não soubermos notícias sobre a real situação deles e de Michel, não vamos nos aquietar, tampouco deixá-los à mercê da invisibilidade. Qualquer argumento que tente apagar sua identidade deve ser combatido por mim, por você, por toda a sociedade.

O caminho para a paz depende do combate ao ódio, à intolerância e à desinformação. Não podemos deixar que essas pessoas sejam esquecidas, nem que a violência e o antissemitismo impeçam a boa convivência entre os povos. A única coisa que queremos é garantir o direito à vida, ao respeito e à coexistência pacífica entre as pessoas. Temos tudo para chegar lá.

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É PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)

Opinião por Marcos Knobel