Foto do(a) page

Conheça o Espaço Aberto na editoria de Opinião do Estadão. Veja análises e artigos de opinião em colunas escritas por convidados e publicadas pelo Estadão.

Opinião | Tecnologia 5G: qual é a realidade do Brasil?

Em dois ou três anos teremos um cenário mais consolidado para a conectividade 5G, com o potencial de uma nova revolução na indústria, que pode permitir ao Brasil diminuir seu ‘gap’ tecnológico e aumentar a relevância do País na economia global

Por José Ronaldo Rocha e Marcos Ferrari

A adoção do 5G e outras tecnologias digitais em vários segmentos da economia se alia ao papel cada vez mais relevante da sustentabilidade nas decisões de investimentos. Essa combinação abre oportunidades para que as empresas obtenham ganhos de produtividade e eficiência, gerando mais valor nesse processo.

Trazendo o tema para o Brasil, a 4.ª edição do estudo Reimagining Industry Futures, desenvolvido pela EY, mostra que os gestores já estão se movimentando: 39% dos executivos entrevistados no País planejam investir em 5G no próximo ano e 49% pretendem fazer isso em dois ou três anos. Além disso, 3 em cada 4 entrevistados reconhecem que as empresas precisarão ter um olhar estratégico na implementação e no uso da nova geração da tecnologia de comunicação.

Com isso, o desafio é fazer com que a expectativa quanto ao potencial da tecnologia 5G se traduza na geração de valor no longo prazo, contribuindo para colocar a sustentabilidade como princípio que define as relações das empresas com stakeholders. Os primeiros passos têm sido muito positivos: a implementação da tecnologia está mais acelerada do que o esperado.

O cronograma de implementação do 5G começou em julho de 2022, com o compromisso de instalação da tecnologia em todas as cidades acima de 500 mil habitantes até 2025. Atualmente, o 5G está disponível em cerca de 150 cidades brasileiras que respondem por 43% da população do País. Até agora, são pouco mais de 10 milhões de dispositivos conectados ao 5G. O 5G chegou a esse número 11 meses após a sua implantação no Brasil. Como comparação, o 4G levou 26 meses para alcançar 10 milhões de acessos.

Para o mercado B2B, a possibilidade de desenvolver aplicações com baixa latência viabiliza o monitoramento de processos, indústrias e negócios em tempo real. Cidades inteligentes, telemedicina, carros autônomos, monitoramento do agronegócio e controle de insumos e equipamentos nas cadeias de suprimentos são exemplos de aplicações que passarão a fazer parte do dia a dia dos negócios, gerando ganhos de eficiência, reduzindo custos e, ao mesmo tempo, trazendo um impacto ambiental positivo. O verdadeiro salto do 5G virá, de fato, quando as empresas conseguirem evoluir suas abordagens de monetização da nova infraestrutura.

Nos diferentes ciclos de inovação e aplicação aos negócios, empresas de diversos segmentos sentirão uma necessidade cada vez mais premente de repensar seus negócios. Nos mercados B2B, essa revisão de negócios passará pela entrega de soluções disruptivas, que permitam aos clientes corporativos acelerar a inovação interna e trazer respostas às pressões a que eles também são submetidos em seus segmentos.

O estudo também mostra que, para 47% dos entrevistados no Brasil, a pandemia acelerou as iniciativas de transformação digital das empresas, levando a uma aproximação entre as companhias e seus parceiros de tecnologia (88%).

Para 90% dos entrevistados, sustentabilidade é um tema cada vez mais importante para os negócios – e 5G e Internet das Coisas (IoT) passam a ser ferramentas importantes para que os negócios alcancem suas metas ambientais de médio e longo prazos. E, para 88% dos entrevistados no Brasil, a conectividade 5G se tornará nos próximos anos uma parte integral dos processos de negócios – mas para isso será necessário ter um entendimento mais aprofundado das limitações, barreiras e oportunidades.

Esse entendimento só vem com conhecimento, mas 86% dos executivos reconhecem um gap nessa área, que exige habilidades complementares – como Edge Computing e Inteligência Artificial. Vale ressaltar, porém, que é natural que olhemos novas tecnologias sob a lente do repertório que temos. No início, carros eram percebidos como “cavalos mais velozes” – e o caminho mais simples é enxergar o 5G como um “4G mais rápido”. Certamente, isso é verdade, mas trata-se de uma visão limitante.

Como superar essas limitações? Em primeiro lugar, é preciso reimaginar o futuro: a liderança dos negócios tem de compreender o potencial transformador do 5G e desenvolver objetivos estratégicos de longo prazo para a tecnologia. A evolução do 5G passa, inevitavelmente, pelo desenvolvimento de estudos de caso, que criam exemplos de como usar a tecnologia. Nesse aspecto, o mercado brasileiro apresenta grandes oportunidades. O brasileiro é hard user de tecnologia, uma característica importante para incentivar a adoção de uma nova geração de dispositivos e aplicações.

Seja por meio de soluções já prontas, pelo incentivo ao desenvolvimento de aplicações ou pelo incentivo a uma política industrial, existem vários caminhos para a evolução do 5G no mercado brasileiro. Não temos dúvidas de que, em dois ou três anos, teremos um cenário muito mais consolidado para a conectividade 5G, com o potencial de uma nova revolução na indústria, que pode permitir ao Brasil diminuir seu gap tecnológico e aumentar a relevância do País na economia global.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, SÓCIO DA EY E LÍDER DE CONSULTORIA PARA TECNOLOGIA, MÍDIA & ENTRETENIMENTO E TELECOMUNICAÇÕES (TMT) PARA ‘LAS’; E PRESIDENTE-EXECUTIVO DA CONEXIS

Opinião por José Ronaldo Rocha e Marcos Ferrari