Opinião | Tratamento da epilepsia: como medicamentos podem controlar alguns tipos de crises e piorar outros

A doença afeta pessoas de todas as faixas etárias, com grande impacto cognitivo e psicossocial

Por Taissa Ferrari Marinho

A epilepsia é a condição neurológica crônica grave mais comum, e afeta mais de 60 milhões de pessoas mundialmente, com incidência geralmente mais alta na faixa etária pediátrica e nos mais idosos. A prevalência é maior em países em desenvolvimento, onde constitui causa importante de incapacidade e mortalidade.

A epilepsia se caracteriza pela presença de crises epilépticas, que podem ser desde um simples desligamento rápido, como as crises de ausência típica, até abalos em todo o corpo com perda da consciência, como as convulsões. O diagnóstico de epilepsia é clínico, feito por médicos especialistas por meio de história clínica detalhada, e confirmado com exames complementares como o eletroencefalograma e o exame de imagem. Após o diagnóstico ser feito, o próximo passo é definir o melhor tratamento inicial, que na maioria dos casos é o uso de medicamentos orais, os chamados fármacos anticrise. Há mais de 20 tipos de fármacos anticrise, a maioria deles disponíveis no Brasil. A escolha do melhor medicamento vai depender do tipo de crise, do gênero e da idade do paciente. E é bastante importante esse conhecimento, pois existem medicamentos que controlam um tipo de crise, mas podem piorar outro tipo.

Sete em cada dez pacientes com epilepsia ficam sem crises epilépticas após o início do tratamento, podendo ser ativos, ter uma profissão, constituir família, conquistando uma vida plena. Os 30% restantes, que persistem com crises apesar do uso adequado de fármacos anticrise, devem ser encaminhados para serviços especializados para investigação pré-cirúrgica.

A cirurgia para epilepsia é um dos tratamentos que podem ser indicados para alguns pacientes. Um estudo completo com avaliação clínica, neuropsicológica, com exames de vídeo-eletroencefalograma e de neuroimagem, é feito para avaliar a presença de uma região cerebral responsável pela origem das crises epilépticas do paciente – zona epileptogênica. Se essa região cerebral responsável pelas crises estiver numa área não eloquente, ou seja, que pode ser ressecada, sem deixar sequelas ao paciente, ele é submetido a um procedimento cirúrgico, com melhora do quadro.

Existem ainda outros tipos de tratamento para epilepsia, como a dieta cetogênica e neuromodulação, incluindo estímulo do nervo vago (vagus nerve stimulation, VNS), estimulação cerebral profunda (deep brain stimulation, DBS) e neuroestimulação responsiva (responsive neurostimulation, RNS).

Em conclusão, a epilepsia é uma doença neurológica muito comum, que afeta pessoas de todas as faixas etárias, com grande impacto cognitivo e psicossocial. Há opções de tratamento que devem ser individualizados, para controle das crises e consequentemente, permitir uma boa qualidade de vida aos pacientes e aos familiares.

Opinião por Taissa Ferrari Marinho

Neurologista, secretária-geral da Liga Brasileira de Epilepsia

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