A Europa vive um paradoxo. De um lado, sua população envelhece e precisa de trabalhadores. De outro, as imigrações desordenadas irritam o eleitorado, facilitando a partidos de extrema direita disseminar o pânico civilizacional e capitalizar votos.
Esses partidos vêm deslocando legendas conservadoras como a principal força da direita na França, Itália, Suécia, Alemanha e Suíça, e podem inundar o Parlamento Europeu em 2024. “Se não limitarmos o número de chegadas até junho do ano que vem”, disse o alemão Manfred Weber, líder do partido de centro-direita Povo Europeu, “as eleições europeias serão provavelmente uma votação histórica para o futuro da Europa”, com a ascensão de extremistas à esquerda e à direita.
Os dilemas são em parte reais. Os europeus precisam de trabalhadores, mas estão aflitos com atritos culturais, especialmente com muçulmanos. Os europeus veem a Europa como um espaço de tolerância, liberdade e respeito aos direitos humanos, mas sentem que seu sistema de acolhimento de refugiados está exaurido e provoca divisões. As ondas migratórias chegam, sobretudo, do norte da África à Itália e à Grécia. Seu tratamento rigoroso em relação aos barcos do Mediterrâneo gera reprovações dos países do norte. Ao mesmo tempo, os países do sul estão aliviando o trânsito dos imigrantes pelas fronteiras intraeuropeias, levando muitos países a impor restrições na zona de livre circulação.
Mas, em certa medida, os dilemas são só aparentes. Quanto mais rápido a Europa organizar seus esquemas de imigração para trabalhadores, mais rápido preencherá suas lacunas econômicas e reduzirá o mercado dos traficantes de pessoas. Quanto mais rápido organizar seus sistemas de acolhimento de exilados, mais fácil será acolher os que têm direito e prover um retorno seguro aos que não têm. Em resumo, quanto mais robusto e racional for o sistema de imigração legal, menor será a pressão da imigração ilegal. Em tese, é uma obviedade. Na prática, isso tem sido dificultado pela intransigência dos partidos à direita e à esquerda.
Mas em 2023 passos foram dados. Após sete anos, a União Europeia (UE) fechou um pacto reformando as regras de asilo político. As responsabilidades serão mais bem distribuídas. Os países terão a opção entre receber uma cota de exilados ou pagar aos que recebem. Isso aliviará a pressão sobre os países do sul e agilizará a aceitação, mas também a recusa, dos pedidos de exílio. A França aprovou medidas para facilitar vistos de trabalho. Em contrapartida, a lei facilita a deportação de imigrantes ilegais e restringe seu acesso a benefícios sociais.
São acordos que não agradam plenamente nem à direita nem à esquerda. Mas ao menos são acordos. Podem ser aprimorados com o tempo. O fato é que a falta de consensos no centro, por mais imperfeitos que sejam, só fortalece os extremos, seja o que quer bloquear completamente a imigração, seja o que quer abrir as portas indiscriminadamente, prejudicando uma combinação equilibrada e generosa de políticas de acolhimento tanto de trabalhadores e quanto de refugiados.