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Jornalista, escritor (Prêmio Jabuti 2000 e 2005; Prêmio APCA 2004) e professor aposentado da Universidade de Brasília, Flávio Tavares escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião | Petróleo no Amazonas não é controvérsia

O Amazonas é um rio internacional e só isso já bastaria para tratá-lo com cuidado extremo

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O petróleo volta a ser assunto preferencial no Brasil, mas agora por motivos bem diferentes daquele dos anos 1950. Naquele então, o Relatório Link, estudo de um geólogo norte-americano, sustentava que nosso país não possuía reservas do chamado “ouro negro”, que milagrosamente “desaparecia” nas fronteiras com a Venezuela e não chegava até nós.

Agora, noutro século e noutra visão, a Petrobras e o governo se envolvem em nova polêmica, mas com viés contrário e diferente. Surge uma indagação: deve-se explorar petróleo na foz do Amazonas ou isso significará poluir e contaminar a totalidade da bacia de um rio fundamental para a preservação do meio ambiente?

Nos anos 1950, a campanha O petróleo é nosso eletrizou o Brasil e repercutiu no mundo inteiro. Agora, o mundo inteiro lança seus olhos sobre o Brasil ao mesmo tempo que nosso país se envolve em outra discussão, muito mais grave e cujas consequências poderão afetar a totalidade do planeta.

Sim, pois a contaminação da bacia amazônica não envolve apenas nosso país, mas um curso d’água compartilhado, que se estende em sua maior parte entre nós, onde deságua no Oceano Atlântico, mas que nasce do degelo das altas montanhas do Peru e percorre países como Equador e Colômbia. O Amazonas é um rio internacional e só isso já bastaria para tratá-lo com cuidado extremo.

Nosso desdém, porém, principia na mais alta esfera do poder – ou seja, no presidente Lula da Silva –, mesmo que o parecer técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contrarie a atitude do chefe do governo. Numa posição correta, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, adotou atitude técnica, afirmando que a exploração de petróleo na bacia amazônica representa em si mesma um risco perigosíssimo, e suspendeu a operação.

O presidente da República tornou pública sua posição durante a reunião do Grupo dos Sete (G-7), em Hiroshima, no Japão. A revelação da posição presidencial em Hiroshima tem, no profundo de si, uma fina ironia ao ter sido feita na cidade devastada pela bomba atômica na Segunda Guerra Mundial. O local da devastação de agosto de 1945 serviu de cenário para que, em 2023, um presidente da República avisasse sobre um novo cataclismo com repercussão planetária como se desse notícias de um festejo...

E tudo isso no estilo simplista (ou simplório) de Lula da Silva, na sua mania de sair à frente dos acontecimentos sem os analisar com cuidado. Dir-se-á que é sempre assim e que, dessa forma, o presidente da República é fiel ao que tem sido em quase todos os momentos. A não ser no dia a dia dos assuntos triviais, o presidente da República muitas vezes não parece mostrar-se interessado em penetrar com profundidade nos grandes problemas do País para encontrar-lhes soluções.

Ou talvez Lula da Silva pareça surdo e cego às advertências sobre os problemas mais graves. No caso específico da extração de petróleo na foz do Amazonas, por exemplo, não faltaram advertências de diferentes setores da comunidade internacional sobre o perigo que essa questão pode apresentar. Não se trata – como é comum ouvir entre os áulicos do presidente – de “vozes de ambientalistas” que veem perigo no progresso em si e que, dessa forma, não têm eco nem chegam ao mais profundo do próprio problema.

No caso específico da exploração de petróleo na foz do Amazonas, não faltaram advertências de organismos internacionais. Já em abril deste ano, um total de 80 organizações ambientais do mundo inteiro, encabeçadas pelo Observatório do Clima e a respeitada WWF-Brasil, entregaram minuciosa nota conjunta a cinco diferentes ministérios brasileiros com detalhes do perigo que, num breve futuro, poderá representar a extração de petróleo no Rio Amazonas ou em seu próprio estuário.

A nota conjunta, entregue aos Ministérios de Minas e Energia, dos Povos Originários, da Pesca e Aquicultura e das Relações Exteriores, além do próprio Ibama, expõe o desastroso perigo que significaria a extração de óleo cru na foz do rio e em outros lugares do curso d’água. Essas entidades advertem que não foi feita qualquer análise da área sedimentar do rio – algo que é fundamental para sequer pensar numa exploração similar.

Esta improvisação leva a uma pergunta: estaremos vivendo ainda na era do governo Jair Bolsonaro, quando o meio ambiente era relegado a plano secundário? Ou a maioria do eleitorado optou e decidiu por uma mudança de rumo que jamais significasse “passar a boiada”?

O atual governo marcou uma posição do eleitorado e marcou uma atitude também na área ambiental, num momento em que o mundo inteiro clama pela preservação do planeta. Este foi, inclusive, um dos pontos fundamentais abordados pelo G-7 na reunião em Hiroshima. Trata-se de algo que não pode e não deve ser subestimado.

Basta já o que destruímos no planeta.

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JORNALISTA E ESCRITOR, PRÊMIO JABUTI DE LITERATURA 2000 E 2005, PRÊMIO APCA 2004, É PROFESSOR APOSENTADO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Opinião por Flávio Tavares

Jornalista, escritor (Prêmio Jabuti 2000 e 2005; Prêmio APCA 2004) e professor aposentado da Universidade de Brasília, Flávio Tavares escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

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