Acordo Mercosul-UE
Compras governamentais
O acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul poderia criar a maior zona de livre comércio do mundo (20% do PIB mundial e 30% das exportações globais). O acordo havia sido fechado em 2019, primeiro ano de Bolsonaro na Presidência do Brasil, mas não foi ratificado até o momento e não param de surgir novos obstáculos. Os europeus insistem na exigência de mais seriedade de nossa parte no trato da questão ambiental. Gostam do nosso discurso, mas não das nossas queimadas, que têm batido recordes históricos. Outra dificuldade para um acordo: que as licitações para compras governamentais estejam abertas às empresas de todos os países da zona a ser criada, que seriam tratadas como empresas domésticas. O Brasil é terminantemente contra e é sobre isso que eu gostaria de tecer um comentário. Primeiro: nossas empresas vão participar das licitações dos europeus, assim como eles das nossas. O que é justo e ótimo para todos. Segundo: com a maior concorrência, o custo de todos fica menor e a qualidade cresce. Terceiro (e principal ponto): licitações abertas à participação de empresas de outras nações não são passíveis de serem decididas na base da corrupção e do favorecimento. Se Lula concordar com esta demanda mais do que justa de nossos parceiros, estará desferindo um golpe mortal na corrupção em nosso país. É o que os brasileiros mais querem.
Jorge Alberto Nurkin
São Paulo
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Indústria
Resultados
O vice-presidente Geraldo Alckmin tem falado frequentemente a respeito de apoiar nossa indústria para voltar a ter um papel importante na economia do País, uma vez que sua participação no nosso PIB caiu pela metade nos últimos 20 anos. Pois esta semana me chamou a atenção um artigo da revista The Economist comentando os altos investimentos de Estados Unidos e Europa para incentivar a atividade industrial, que, na opinião da revista, não produzirão bom resultado. Afirma que a indústria agora funciona com muitos robôs e pouca gente e os salários, que eram bons no passado, agora são baixos. Além disso, o perfil do consumidor atual é de usar muito mais serviços do que bens industriais e que os altos investimentos que estão sendo feitos darão resultados decepcionantes. Antes de iniciar mais um “Fusca do Itamar”, talvez valha a pena observar o que ocorre à nossa volta.
Aldo Bertolucci
São Paulo
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PGR
Augusto Aras
Sobre os esforços do atual procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, para permanecer no cargo – desta vez por indicação do presidente Lula –, vale tudo, até renegar seu passado de engavetador.
Robert Haller
São Paulo
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São Paulo
O Bexiga resiste
A matéria Praça onde havia depósito de lixo recebe peça teatral (Estado, 16/7, A20) mostra como a cidadania do bairro do Bexiga, em São Paulo, vem resistindo ao descaso da administração pública e ao processo de gentrificação causado pela especulação imobiliária. Moradores do entorno de uma área que é, há décadas, degradada (as bordas do Viaduto Júlio de Mesquita) assumiram a sua zeladoria informal para torná-la limpa, ajardinada e propícia para apresentações da Cia. Teatro Documentário, instituição, aliás, agraciada em 2016 com o Colar Guilherme de Almeida, premiação cultural concedida pela Câmara Municipal de São Paulo. A deterioração daquele espaço já era tão acentuada que, no distante ano de 1987, um abaixo-assinado encaminhado ao então prefeito Jânio Quadros conseguiu que ele fosse todo cercado por telas de arame para tentar, ao menos, mitigar a decadência urbanística instaurada desde o início dos anos 1970, quando o bairro foi impiedosamente rasgado pela anaconda de concreto da ligação viária Leste-Oeste, ocasião em que quarteirões inteiros desapareceram. Atualmente, na calçada oposta a esse trecho, também existe outra ação mantida pela valorosa cidadania bexiguense: a Arena Bela Vista, composta de quadras esportivas que possibilitam a crianças e adolescentes a prática de futebol e basquete sob orientação de adultos voluntários. É a velha chama do Bexiga inclusivo que resiste.
José D’Amico Bauab,
membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
São Paulo
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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br
DESCONTROLE FINANCEIRO
A causa do endividamento dos brasileiros se dá muito por falta de educação financeira. São os gastos supérfluos e o crédito fácil os fatores que contribuem para o descontrole. O Programa Desenrola Brasil vai permitir ao cidadão limpar o seu nome para poder, em seguida, contrair novos empréstimos. O resultado disso é previsível: o sujeito vai se enrolar novamente. E o governo, como bem disse a ministra Simone Tebet, não tem condições de editar um programa desse todo ano. E ainda para piorar estão dando incentivos fiscais para estimular o consumo. Não dá para entender a incoerência desse governo.
Deri Lemos Maia
Araçatuba
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MEDIDA POPULISTA
A população não é boba, o Desenrola serve para provar que ser inadimplente no Brasil é um bom negócio: se eu estou devendo e não pago serei perdoado no futuro; se pago com dificuldade e juros estratosféricos, sou um bobo. Conclusão: desenrola que eu gosto! Vou continuar a ter crédito sem pagar e ser feliz, simples assim. Mais uma medida populista do governo que quer se perpetuar no poder.
Roberto Solano
Rio de Janeiro
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FIM DA SAFRA RECORDE DE GRÃOS
Parece que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pegou a improdutiva mania de Lula da Silva de criticar o Banco Central (BC) por qualquer notícia ruim na economia. Haddad, que vinha se comunicando bem com o mercado, escorrega em demagogia quando diz que o Índice de Atividade Econômica do BC, o IBC-Br, que indica queda de 2% em maio com relação a abril, é exclusivamente fruto e culpa do BC pelo patamar de juros elevados da taxa Selic, hoje em 13,75%. Na verdade, o ministro está fechando os olhos para a realidade dos fatos, já que o que ocorreu é o fim da safra recorde de grãos como do milho e da soja. É bom lembrar que o IBC-Br, que faz uma leitura antecipada do comportamento do PIB, no acumulado em 12 meses indica alta de 3,43%. E no trimestre entre março e maio, alta de 1,63%. Se o governo projeta crescimento econômico para este ano de 1,9%, o Banco Central aponta para um PIB de 2%. Com o andamento para aprovação também no Senado da reforma tributária, e até da provável conclusão do acordo comercial entre Mercosul e zona do euro, nosso crescimento econômico neste ano pode ficar próximo dos 3%. Lula não tem estofo moral para respeitar o mercado, mas que o ministro Haddad não destoe.
Paulo Panossian
São Carlos
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MARAJÁS
Enquanto os supersalários milionários de uma casta de funcionários públicos não para de crescer a cada ano, sob a indigesta e cínica prerrogativa do direito adquirido, a tabela do imposto de renda daqueles que financiam essa farra não é corrigida desde 2015. No Brasil já houve até presidente eleito sob a bandeira de acabar com a farra desses verdadeiros marajás. Agora um projeto do Congresso Nacional ataca essa verdadeira excrescência em nome da saúde, educação e segurança. Vamos apoiar e cobrar, mesmo quem tem lá suas legítimas desconfianças em relação aos interesses da Casa.
Abel Pires Rodrigues
Rio de Janeiro
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SUPERSALÁRIOS
O projeto que regula os supersalários está parado no Senado há dois anos. Com certeza interessa a muitos que fique mais alguns anos parado.
Robert Haller
São Paulo
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HOMEOPATIA
Observações enunciadas em entrevista da microbiologista Natália Pasternak (Estado, 17/7), comentadas em carta da leitora Mara Freitas (Fórum dos Leitores, 19/7, A4), são equiparáveis a questionamentos ou dúvidas manifestados no período da pandemia, alvo de intensas críticas e rotulações da cientista. Por que ela pode acusar a homeopatia de “placebo”, desconsiderando a trajetória daquela ciência e conhecidos resultados, mas não reconhece a outrem o direito de emitir dúvidas sobre eventuais reações decorrentes da administração de imunizantes desenvolvidos de forma emergencial em função do imprevisto da pandemia da covid? O benefício da dúvida seria privilégio de cientistas?
Patricia Porto da Silva
Rio de Janeiro
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MEDICINA PREVENTIVA
A microbiologista Natália Pasternark dizer em seu livro que a homeopatia “não passa de um placebo” é uma classificação injusta, porque a homeopatia cuida do doente e não da doença. É uma medicina preventiva, no sentido de equilibrar mentalmente o paciente. O equilíbrio do paciente é uma prevenção essencial para não ficar doente.
Arcangelo Sforcin Filho
São Paulo
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INVASÃO RUSSA
Concordo que a juventude é mais apressada e, em dado momento, menos cautelosa (Lula critica Boric por falas sobre países que não condenam Rússia por guerra na Ucrânia, 19/7). Mas, ao mesmo tempo, é indiscutível a posição do líder chileno. A Rússia violou sem pudor o direito internacional, invadiu o território vizinho e mata todos os dias centenas de milhares de cidadãos ucranianos. Entre a pressa de Gabriel Boric e a morosidade de Lula, eu fico com a celeridade do Chile.
Willian Martins
Guararema
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ESPECULAÇÃO
Acho pura especulação para aumentar preços de alimentos decorrente do fim do acordo de escoamento de grãos entre Rússia e Ucrânia. Dá a entender que a Ucrânia continua a produzir grãos como produzia antes da guerra, ou seja, a guerra não interfere em nada na sua produção.
Vital Romaneli Penha
Jacareí
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CANAIS DE PROTESTOS
O recente episódio com Alexandre de Moraes e família em Roma (agressão é abominável) e a também recente decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra a Gabriela Hardt levantam um tema mais amplo: existem canais (legais) para cidadãos se insurgirem/manifestarem dentro da lei contra os doutos magistrados? Vejo no Supremo Tribunal Federal (STF) o seguinte comportamento: primeiro, os ministros podem tanto decidir monocraticamente para estabelecer “verdades” quanto pedir vistas e adiar decisões – poder absoluto nunca contestado pelos pares, pois eles também querem ter esses poderes. Segundo, o CNJ pode levantar dúvidas sobre comportamento de juízes, mas não o fazem contra os doutos do STF? Onde podem os cidadãos protestar contra as decisões (ou falta de decisão) da corte máxima? Justiça que tarda (ou não acontece) não cria confiança na população.
Eduardo Aguinaga
Rio de Janeiro
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INTOCÁVEIS
A ministra Rosa Weber, presidente do STF, autorizou buscas na casa do casal que esteve envolvido num entrevero com o ministro Alexandre de Moraes, em Roma. E quem vai autorizar buscas na casa dos ministros Luís Roberto Barroso, por causa do “perdeu, Mané” e do “derrotamos o bolsonarismo”, e de Gilmar Mendes, devido à “chuva de Pix” para Deltan Dallagnol? Alguns ministros falam o que querem e são intocáveis. Os simples mortais devem ficar de bico fechado.
J. A. Muller
Avaré
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O FUTURO DE MORO
O futuro de Moro é um recado para Alexandre de Moraes (18/7). Esse foi o título de uma coluna publicada no Estadão de autoria de Marcelo Godoy. Aí pergunto, o futuro de Moro depende dos atuais ministros do STF, sendo a sua maioria indicada por Lula e Dilma (PT) ou da lei? O futuro de Alexandre de Moraes depende da lei ou do próximo presidente da República? E nós, dependemos da lei, do STF ou do atual presidente da República? E o futuro da mídia, depende da lei ou do próximo presidente da República? Tenho medo, pois a lei está sendo deixada de lado para que o poder prevaleça. Já vi esse filme e o final é triste.
Maria Carmen Del Bel Tunes
Americana
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CONFIANÇA NA JUSTIÇA
“PGR quer dados de seguidores do ex-presidente.” Essa é a frase que está circulando e fazendo com que as pessoas fiquem com medo da Justiça quando deviam confiar nela. Para mim, esse pedido é apenas querer que o atual procurador-geral da República continue no cargo, pois não é possível que a lei permita que se torne uma perseguição.
Tania Tavares
São Paulo
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JEAN WYLLYS
Erra o atual governo ao acrescentar mais um ruído – entre os inúmeros já existentes – com potencial de distraí-lo dos reais problemas do País. Trata-se da nomeação, originária de indicação espúria, do ex-deputado Jean Wyllys, para ocupar cargo na Secretaria de Comunicação do Planalto. Certamente, tal formalização constituirá mais um foco de problemas desnecessários, em face da personalidade ácida e desagregadora, fartamente demonstrada em suas interferências quando parlamentar, e do arsenal de ideias que transporta, impregnadas de esquerda ultrapassada que em nada ajudarão a promover a tão desejada e prometida conciliação nacional. A decisão coloca previsivelmente mais lenha numa fogueira que ainda está ardendo.
Paulo Roberto Gotaç
Rio de Janeiro
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FORÇA DESENCADEADORA DE MUDANÇAS
Neste país que “não é para amadores” (Tom Jobim), ”onde até o passado é incerto” (Pedro Malan), cabe cumprimentar o advogado Nicolau da Rocha Cavalcanti pelo primoroso artigo O perigoso encanto da indignação (19/7, A4), que trata do sentimento que muitos brasileiros têm diante dos sucessivos desgovernos desastrosos que se alternam no poder sem entregar o prometido nas campanhas eleitorais, fazendo o Brasil caminhar para trás. A propósito, cabe reproduzir seus dois últimos parágrafos: ”O jornalismo tem papel fundamental, como espaço de compreensão qualificada do tempo presente, sem cair na mera incitação à indignação. (...) Um bom jornal leva-nos a ver mais coisas – mais aspectos e mais perspectivas – do que, a princípio, gostaríamos de ver. A realidade é mais rica do que as cores binárias de nossa cólera. Se o Brasil for apenas o país da indignação, ele continuará a ser exatamente isto: um país para indignar-se. A realidade que nos revolta deve conduzir também à reflexão, ao estudo, ao diálogo. Só assim poderemos ter um diagnóstico maduro e realista dos problemas que tanto nos incomodam para, de fato, enfrentá-los. A indignação, faísca genuinamente humana, deve desencadear soluções, e não apenas nos ruborizar”. Por oportuno, cabe dizer que o Fórum dos Leitores do Estadão nosso de cada dia tem sido ao longo dos anos um importante espaço nobre para a manifestação de muitos que não se cansam de indignar-se com as descabidas, condenáveis e absurdas decisões tomadas pela maioria dos políticos do País. Que a somatória da indignação de cada um possa se transformar numa força desencadeadora de mudanças na direção do Brasil.
J. S. Decol
São Paulo