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Cartas de leitores selecionadas pelo jornal O Estado de S. Paulo

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9 min de leitura

Plano golpista

Ditadura da ‘rataria’

A ditadura militar de 1964 a 1985 foi um período terrível para o Brasil, havia censura, havia prisões arbitrárias sem direito de defesa e torturas e assassinatos sistemáticos de opositores eram normais. Se a ditadura da elite militar já era um lixo, é difícil de imaginar o que seria uma ditadura da “rataria”, dos militares abaixo da “linha da ética”, como queria o general golpista preso Mário Fernandes. O Brasil entraria de vez na lista de nações criminosas, a “rataria” iria se entender perfeitamente com o crime organizado e juntos tomariam conta de tudo. O momento é de uma profunda reflexão institucional no Brasil, para fortalecer as defesas da Nação. Nunca ficou tão claro que as ameaças que vêm de dentro são muito maiores e piores que o risco de uma invasão externa do País.

Mário Barilá Filho

São Paulo

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A sorte do Brasil

PF conclui que Bolsonaro ‘planejou, atuou e teve o domínio’ do golpe (Estadão, 27/11). Resumo da ópera-bufa: o golpe Tabajara só não aconteceu porque os comandantes do Exército e da Aeronáutica não aderiram a ele. O Brasil teve sorte de ainda ter homens que dizem não a retrocessos. Pra frente, Brasil!

Elisabeth Migliavacca

São Paulo

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Se fosse só pensar...

O filho 01 de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, havia dito que “pensar em matar alguém não é crime”, referindo-se à participação de seu pai na intentona fracassada de golpe de Estado. Só que não. Pelo que a Polícia Federal concluiu, Bolsonaro se reuniu com o Alto Comando das Forças Armadas, entregou toda a minuciosa logística para a realização do golpe e juntou um cardápio variado de opções jurídicas como aplicação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), do estado de sítio e do estado de defesa. Tentou cooptar o general do Exército Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica, que, após tomarem conhecimento da esdrúxula excrescência, disseram que prenderiam Bolsonaro se avançasse com o interesse golpista. Pela semelhança do motim, não se sabe se foi Nicolás Maduro quem copiou o detalhamento do golpe ou se foi Bolsonaro quem copiou Maduro, mas, sem dúvida, ambos visavam a uma famigerada rebelião. Jair Bolsonaro esteve sim, afinal, fora das quatro linhas da Constituição federal. Agora só é preciso tomar cuidado com o andamento do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Júlio Roberto Ayres Brisola

São Paulo

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No Supremo

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, tem por obrigação declarar que está impedido de continuar conduzindo este processo apontado e preparado brilhantemente pela Polícia Federal que indiciou 37 pessoas, incluindo o ex-presidente Bolsonaro. Moraes não é “juiz universal” e não pode querer ser o juiz, a vítima e o investigador deste caso. Que tenha a humildade de se declarar impedido, sob risco de colocar tudo a perder.

Heitor Portugal P. de Araujo

São Paulo

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Alexandre de Moraes

Cobrou o escanteio e correu para cabecear na área. Em 1986, numa cena clássica do filme Os trapalhões e o rei do futebol, Didi cobra um escanteio e corre para cabecear a bola na área. Fazendo uma analogia da cena do filme com o atual cenário do Judiciário brasileiro, o ministro Alexandre de Moraes tem atuado como Didi, cobrando o escanteio e correndo para cabecear, e ainda é o árbitro da partida, validando o gol. Certa vez, um pastor luterano no pós-guerra escreveu: “Um dia, vieram e levaram meu vizinho que era judeu; como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista; como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu outro vizinho, que era católico; como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram, e já não havia mais ninguém para reclamar”. Que não cheguemos a ponto de não haver ninguém para reclamar.

Ivaldo Alexandre

São Paulo

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Judiciário

Venda de sentenças

Se, apesar de receberem uma boa remuneração mensal e gratificações próprias da carreira judiciária, há magistrados pelo Brasil que se rendem ao apelo da venda de sentenças, imagine-se de que seriam capazes tais personagens, caso passassem por privações econômicas, nutricionais, sanitárias ou habitacionais parecidas com aquelas vivenciadas por cerca de metade da população brasileira.

Patricia Porto da Silva

Rio de Janeiro

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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br

TRISTE FIGURA

A incompetência de Jair Bolsonaro como presidente também se revelou no ridículo e desastrado planejamento e tentativa de golpe de Estado neste Brasil de todas as barbaridades políticas. A única tarefa a que se dedicou por quatro anos foi por em prática um golpe para permanecer no poder como ditador militar, no estilo 1964. Até reuniu o corpo diplomático para desacreditar as urnas eletrônicas, como pretexto para invalidar eleições futuras. Mas, foi desmascarado antes do tempo. Bolsonaro lembra o inspetor Clouseau, de Peter Sellers, e suas patetices. É a triste figura de uma das páginas mais ridículas de nossa história, planejando e praticando o golpe dos trapalhões.

Paulo Sergio Arisi

Porto Alegre

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‘PATÉTICO’

Pois é, até para dar um covarde, criminoso e antidemocrático golpe de Estado, faltou competência. Patético.

J. S. Decol

São Paulo

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RELATÓRIO SOBRE O GOLPE

A Procuradoria Geral da República (PGR) já está com o relatório da Polícia Federal (PF) com mais de 800 páginas para análise e deliberação sobre o suposto golpe militar envolvendo Bolsonaro e mais 36 suspeitos, até que se prove o contrário, insurgentes contra o atual governo. Portanto, aguardemos pronunciamento oficial e gabaritado do Procurador Geral antes de crucificar ou inocentar os citados. Até a conclusão, fatos e não narrativas devem prevalecer suavizando ou agravando os acusados do suposto golpe. O doutor Paulo Gonet, de notório saber jurídico, Procurador Geral, respondendo a afoitos repórteres sobre o relatório, respondeu: “Calma, eu preciso ler”. Foi o que bastou para saber que não haverá injustiça em seu parecer.

Sergio Dafré

Jundiaí

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VALDEMAR COSTA NETO

Logo mais, o indiciado Valdemar Costa Neto, chefe do braço político do golpe de Estado, receberá bilhões de reais do fundo partidário. Como presidente de um grande partido político, caberá a ele distribuir a bolada. A justiça tem seu ritmo, o processo sobre a tentativa de golpe de Estado levará anos para ser concluído, resta ao povo brasileiro assistir a vitória do crime, o triunfo das forças do mal. Quem sabe na eleição de 2030 Costa Neto já terá sido condenado e não receba bilhões do fundo partidário.

Mário Barilá Filho

São Paulo

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SHOW DE PÉ

Fico imaginando os contorcionismos performáticos que os responsáveis pela política externa brasileira – desenhada basicamente pelo assessor especial, Celso Amorim, aparecendo o titular da pasta, Mauro Vieira, somente como uma espécie de mestre de cerimônias, destinado a entreter os representantes estrangeiros – precisam executar para lidar com a dicotomia formada pelos ambiciosos projetos de Lula da Silva, visando ganhar protagonismo como proponente de novas regras a guiar a economia mundial, e como mediador dos principais conflitos que atualmente colocam a humanidade em estado de tensão, e pela sua postura claramente inclinada a acariciar ditaduras cascudas, implantadas há décadas no mundo latino-americano. Além de apoiar líderes construtores de ações agressivas, sem perorações diplomáticas, contra países por estes considerados contrários a seus projetos estratégicos. Os exibidores terão que mostrar verdadeiras obras de arte que, assim mesmo, dada a falta de coerência com a realidade, introduzirão nos interlocutores uma desconfiança capaz de minar a credibilidade do País. Espera-se que os artistas encarregados de colocar o show de pé não tropecem no palco, vaiados.

Paulo Roberto Gotaç

Rio de Janeiro

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PÁGINAS DO GOLPE

A Bíblia tem 900 páginas ensinando sobre os pecados e misericórdia (ou seja, benevolência, perdão e bondade). O inquérito da Polícia Federal sobre o golpe, envolvendo Bolsonaro e aliados, tem 800 páginas. Misericórdia. Quem vai ler tudo isso?

Carlos Gaspar

São Paulo

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ALEXANDRISMO

O regime presidencialista que havia no Brasil bateu asas e voou. O regime em vigor agora é inédito a nível mundial e foi batizado de alexandrismo. É claro, o líder desse novo regime já foi empossado e chama-se Alexandre de Moraes, daí, óbvio, o alexandrismo. Moraes é quem decide tudo: ele manda investigar, ele mesmo manda prender, indicia, julga, condena e dá a sentença. Por vezes, Moraes aparece como vítima, o que, no alexandrismo, não tem a menor relevância e é motivo para que a mão da Justiça se faça ainda mais pesada sobre os fora da lei. No alexandrismo tudo é possível, até mesmo o impossível, e não importa a impossibilidade do impossível, desde que isso satisfaça o ser supremo. Ao contrário da Justiça, que no presidencialismo era cega, no alexandrismo é surda. Moraes não ouve as críticas, talvez não ouça nem a si próprio para não correr o risco de ouvir algo diferente numa recaída inoportuna. E assim segue a vida e eu sigo com o coração na mão – para não dizer aquilo que você pensou – por estar escrevendo estas linhas. Vai que ele leia.

Luiz Gonzaga Tressoldi Saraiva

Salvador

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MÁGICAS FINANCEIRAS

Já que estamos chegando no julgamento que irá condenar os planejadores do golpe, minha sugestão é que se recuperem as provas relativas às mágicas financeiras realizadas pelos quatro filhos, e que foram jogadas no lixo a mando do ex-presidente. Assim, por alguns anos, poderemos viver em paz até que sejam absolvidos por algum juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), invocando algum estranho embasamento jurídico.

Aldo Bertolucci

São Paulo

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MÁXIMO RIGOR

A investigação da Polícia Federal não deixa nenhuma dúvida quanto a tentativa de golpe, com o assassinato do presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Agora, seus idealizadores que foram indiciados têm que ser denunciados e punidos com o máximo rigor para fortalecimento de nossa democracia. Bolsonaro, Braga Neto e Heleno Augusto, junto com os demais envolvidos, devem pagar com urgência pelo crime cometido.

Sylvio Belém

Recife

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CORTE DE GASTOS

O tal pacote do governo, que nunca aparece, vai chegar com um aperto no salário mínimo (vai ter ganho máximo de 2,5%), e outras medidas para dificultar o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago para idosos e deficientes de baixa renda. Uma maravilha. Os abastados de cima da pirâmide não perdem nada, e ainda tem gente que vota em Lula e no PT, que ignorância.

Roberto Solano

Rio de Janeiro

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‘PRAGAS’

Indignidade e burrice andam juntas. Todo tipo de violência contra a mulher é infame, estúpido e covarde. Raramente o agressor é punido com rigor. Quem agride ou mata mulher é ratazana de esgoto, não é homem; outra praga assassina é o famigerado cigarro eletrônico. É pior, mais nocivo, mata mais rápido do que o cigarro convencional. Dói na alma imagens de adolescente se matando, aos poucos, fumando esta desgraça. Vendida livremente, de vários tipos e preços e ninguém vai preso.

Vicente Limongi Netto

Brasília

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PRIMEIRA-DAMA

Janja com seu protagonismo negativo não se dá conta do ridículo a que se está expondo. Talvez ela esteja pensando, ao dar opiniões e querer se manter ao lado de figuras importantes de outros países, que seja uma maneira de se tornar conhecida para ser indicada a futuras posições. Seu objetivo, não só oculto por ela mas talvez por algum tutor, que se Dilma Rousseff foi, por que não posso ser? Desconhecemos suas intenções, mas é bom tomar cuidado.

Alvaro Salvi

São Paulo

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ELEIÇÕES MUNICIPAIS

As eleições deveriam ser definidas em um turno só. Além dos desgastes e custos, os candidatos que não foram eleitos apoiarão este ou aquele candidato, contrariando a filosofia de seus partidos. Debates já cansativos no 1.º turno, não trazendo novidades nenhuma no 2.º turno, cansam os eleitores que já se definiram e dificilmente mudarão seus votos. Enfim, quem venceu o primeiro turno é o prefeito eleito.

Antonio Moreno Neto

São Paulo

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MEDIDAS DE AUTOCONTENTAÇÃO

A análise do cientista político Luiz Felipe D’Avila sobre a “degeneração da democracia no Brasil”, em seu artigo Seis medidas de autocontenção (Estadão, 27/11, A6), aponta dois problemas e se concentra na atuação do STF. O problema da eleição de maus políticos é tratado de forma displicente, jogando a responsabilidade nos eleitores e nos partidos. Mas esse é o problema central: é impossível garantir a eleição dos melhores políticos com nosso péssimo e antiquado sistema eleitoral. Não se trata da questão de aferir os votos – isso já é feito de forma confiável. O problema está na definição dos pleitos. Eleição majoritária em dois turnos foi uma boa ideia no século passado; é arcaica no presente, em que a tecnologia permite a implementação de vários mecanismos de voto de aprovação, que contribuem para diminuir a polarização e o voto útil. Além disso, temos o horroroso sistema de eleição proporcional para os legislativos, que desvincula os eleitos dos eleitores. Hora de olhar a sério as várias propostas de voto distrital que estão escondidas no Congresso. Enquanto a eleição de legisladores e governantes continuar com as regras atuais, exigir voto consciente do eleitor é hipocrisia.

Arnaldo Mandel

São Paulo

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JUSTIÇA CEGA

O promotor especial norte-americano Jack Smith entrou com pedido de suspensão de dois processos contra Donald Trump seguindo uma diretriz do Departamento de Justiça dos Estados Unidos de não processar presidentes que estejam no exercício de seus mandatos, tendo em vista o retorno de Trump à Casa Branca. Artifício legal, mas moralmente questionável, tão questionável quanto o privilégio de foro de que gozam parlamentares e presidentes brasileiros. Está na hora de a sociedade conversar sobre esse assunto e não faltam motivos. Pois, supondo que Jair Bolsonaro tivesse sido reeleito e viesse à tona a tentativa de golpe que ele já engendrava há muito tempo, ele não poderia ser acusado nem processado? Este é apenas um exemplo dentre vários outros escabrosos – todos lembram da deputada Flordelis, mandante do assassinato do marido, que só foi para a cadeia depois de perder o mandato – que nos fazem refletir sobre o fundamento jurídico da justiça cega: se a justiça é imparcial por não fazer distinção entre aqueles que são julgados, por que parlamentares e presidentes são privilegiados?

Luciano Harary

São Paulo