Lula e o STF
Voto secreto
“A sociedade não tem de saber como é que vota um ministro da Suprema Corte”, disse o presidente Lula, referindo-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Essas palavras só poderiam ser ditas por um presidente antidemocrático. Mas não foi Lula que, em campanha, se apresentava como um defensor da democracia e da Constituição? O povo brasileiro tem o direito de saber sobre as decisões dos magistrados daquela Corte. Lula, aos poucos, vai mostrando a que veio.
Leila Elston
São Paulo
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Publicidade x exposição
Talvez o presidente Lula tenha se equivocado quando defendeu que os votos dos ministros do STF fossem secretos. A publicidade dos atos dos agentes públicos, grosso modo, é a regra, visando ao conhecimento da sociedade sobre o funcionamento da máquina administrativa, bancada pelos impostos. Já a exposição excessiva da maioria dos integrantes do STF, dando opinião sobre quase tudo, deveria ser evitada. Afinal, em tese, eles deveriam se pronunciar apenas por meio dos autos.
Célio Cruz
Recife
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7 de Setembro
O que faltou no 8 de Janeiro
A festa de 7 de Setembro, na quinta-feira, em Brasília, será guardada pela Segurança Pública do Distrito Federal, com reforço da Força Nacional de Segurança e a participação no planejamento do Ministério da Justiça, do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outros órgãos dos Três Poderes. Montou-se, agora, a estrutura de segurança do evento, que foi negligenciada em 8 de janeiro e acabou ensejando as invasões e o quebra-quebra na sede dos Três Poderes. Houvesse um esquema de segurança ativo no fatídico dia, nada daquilo teria acontecido, pois os atacantes teriam sido contidos antes de chegarem aos palácios. Salvo melhor juízo, os distúrbios de janeiro eram crimes previamente anunciados decorrentes da nefasta polarização que há anos bestializa a política brasileira. Os dois lados conheciam os riscos, mas sonharam poder (ou conseguir) pôr a culpa nas costas do adversário. Deve ser por isso que os alertas da Agência Brasileira de Inteligência foram ignorados e a segurança reduzida, em vez de reforçada.
Dirceu Cardoso Gonçalves
São Paulo
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Transporte público
Serviços expressos
No sábado (2/9) teve início o evento The Town em São Paulo. A ViaMobilidade, concessionária privada que opera as linhas de trem 8-Diamante e 9-Esmeralda, criou um serviço expresso para o evento cobrando R$ 40 – diga-se, um absurdo. Esse serviço compartilha os mesmos trilhos das linhas regulares. Quando anunciado o serviço, eu já sabia que se tratava de propaganda enganosa e que a ViaMobilidade, das duas, uma: ou aumentaria o intervalo da linha 9, prejudicando quem paga R$ 4,40, para permitir caminho livre para o serviço expresso; ou o serviço expresso, em algum ponto da linha, ficaria sempre na retaguarda do trem regular da linha 9. Mas, no primeiro dia do evento, ocorreu uma falha na linha 9 e o previsível ocorreu: segundo a ViaMobilidade, o expresso para o The Town seguiu operando normalmente, enquanto a linha regular ficou com falha por quase sete horas. Assim, quem pagou R$ 40 não foi prejudicado, mas o povão que pagou e paga diariamente R$ 4,40 ficou com o prejuízo. Sabem o que é isso? A pura mercantilização do transporte, levada adiante por uma empresa que presta um serviço essencial na cidade. Vale lembrar que a CPTM opera hoje dois serviços expressos, o Expresso Aeroporto e o Expresso Linha 10. Em ambos ela cobra a tarifa normal (R$ 4,40). E, no passado, a empresa chegou a operar o Expresso Copa, Expresso Olimpíada (para os jogos realizados no Estádio de Itaquera) e o Expresso na Copa América. E em todos os casos nunca cobrou um centavo a mais por isso, praticando o valor da tarifa pública vigente naquele momento. E, mesmo quando a CPTM operava a linha 9-Esmeralda nos dias de eventos no Autódromo de Interlagos, ela reduzia os intervalos da linha e não cobrava valores maiores por isso. Considerando que o governo estadual tem o interesse de privatizar todas as linhas da CPTM, certamente os serviços expressos, hoje com tarifa comum, passarão a ter valores mais altos. Será que é isso que o paulista quer mesmo?
Thiago Silva
São Paulo
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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br
PT E PL
Estamos assistindo à movimentação dos partidos em razão da próxima eleição. O PT permite aliança com o PL, pois há interesses na parceria. A questão que fica é: adianta a guerra aqui fora de eleitores bolsonaristas contra petistas e vice-versa? Quem viu na última eleição Geraldo Alckmin se unindo a Lula da Silva não pode esperar coisa diferente. A lição a ser aprendida: nunca desperdice seu tempo discutindo política, os atores não têm compromisso nem com o eleitor nem com o País. Eles se unem quando interessa e se criticam quando não há interesse. A vítima dessa guerra é o eleitor, que é feito de bobo e não se dá conta da trama em que está inserido. Hora de despertar desse sonho ilusório.
Izabel Avallone
São Paulo
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ELEIÇÕES 2026
Mal completados os primeiros oito meses do governo Lula 3 e o Diretório Nacional do PT já aprovou uma resolução ameaçando o País com a recandidatura do presidente em 2026. Por oportuno, cabe lembrar que nos últimos 20 anos o partido governou o País por quase 14. Pobre Brasil.
J. S. Decol
São Paulo
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PERDA DE PODER
O editorial que analisa o fato de o PT estar a serviço de Lula e o nosso sistema político é para se entender o Brasil de hoje (Estado, 4/9, A3). Não vou me alongar em considerações, já que apontados os pontos capitais sobre o sistema partidário. Uma das poucas facetas não mencionadas é que os chefes de partido estão no poder há muitos anos. Mesmo quando pegos em malfeitos, partidos tiveram dificuldade em encontrar renovação. No Nordeste, a renovação é ainda menos provável, já que poucas famílias detêm o poder desde a época da monarquia. A consequência mais nefasta é o imobilismo, disfunção que se eterniza levando o País à estagnação, ao atraso. Temos que mudar, todos concordam com isso. Mas quem vai aceitar a perda de poder?
Sergio Holl Lara
Indaiatuba
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INDEPENDÊNCIA DO BC
Foi só uma trégua. Um mês depois do anúncio, pelo Banco Central, da redução da taxa Selic, o presidente Luiz Inácio voltou a usar palavras duras contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Lula é um exímio político, mas não entende patavinas de economia. Em suas críticas não há argumentos técnicos, apenas ataques. Pois qual seria, na opinião dele, a taxa atual ideal: 12%, 7%, 1%? Lula disse que o presidente do BC “agora é autônomo, não tem mais interferência da Presidência da República”, que “podia chamá-lo para conversar”. Ou seja, para ele, a taxa de juros se resolveria na base da conversa entre amigos, sendo a palavra final, obviamente, a dele. Somos felizes, ao menos no que concerne à independência do BC.
Luciano Harary
São Paulo
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DE APAGÃO EM APAGÃO
O editorial Politização e desinformação do blecaute (3/9, A3) mostra como irresponsavelmente o governo tratou o último apagão, levantando suspeitas até de sabotagem, para, 20 dias depois, o Operador Nacional do Sistema (ONS) apontar falha em equipamentos de transmissão. Assim como de grão em grão a galinha enche o papo, de apagão em apagão o governo enche a nossa paciência. O paladino da paz sofreu um blecaute internacional quando equiparou, como responsáveis pela guerra, o país invasor e o país invadido. Teve um blecaute ainda pior ao dizer que democracia é algo relativo. Os ataques ao Banco Central mostraram como é obscuro o seu pensamento em relação à autonomia das instituições. Não bastasse ter emplacado seu amigo e advogado pessoal no Supremo Tribunal Federal (STF), agora pensa em colocar também o atual ministro da Justiça, cujo notável saber jurídico é tão suscetível a falhas quanto o sistema interligado nacional. E, infelizmente, o apagar das luzes deste desgoverno ainda está longe: 31 de dezembro de 2026.
Luiz Gonzaga Tressoldi Saraiva
Salvador
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ARQUIVANDO O PASSADO
O novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Cristiano Zanin, entendeu por arquivar ação proposta contra o negacionista Jair Bolsonaro, que agiu com pouco caso no combate à pandemia, contribuindo para as milhares de mortes. Disse que os brasileiros foram vacinados e a pandemia cedeu, e, assim, a ação perdeu o objeto. Na verdade, Zanin desconsiderou que o charlatão receitava cloroquina e chamava a covid-19 de gripezinha, e, por ciúmes, proibiu a compra da “vachina do Dória”, atrasando irremediavelmente o combate. Mesmo assim, Zanin manteve sua posição justificando a “falta de objeto”. Com certeza o ministro não sofreu nenhuma perda de familiares com a pandemia, em que a irresponsabilidade do presidente transcendeu seus os limites. O que podemos esperar até Zanin se aposentar em 2050? Que Deus nos proteja!
Júlio Roberto Ayres Brisola
São Paulo
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INDICAÇÃO PARA O STF
A política brasileira nos causa espanto e vergonha, e o STF, tristeza imensa, revolta, vergonha e ojeriza. Decisões flagrantemente contrárias ao texto constitucional, veja o caso das guardas civis, a vontade imensa de legislar de alguns ministros, as omissões de outros. Tudo nos mostra que a forma de indicação dos ministros precisa ser alterada urgentemente. Precisamos de pessoas comprometidas com a Constituição, ilibadas, sem dívidas para com os políticos de plantão. Precisamos de honestidade ética e moral.
José Renato Nascimento
São Paulo
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REVERSÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL
O Estadão publicou crítica do economista Adriano Pires, que dispensa apresentações quando o assunto é petróleo, sob o título O neocolonialismo verde e a Margem Equatorial (2/9, B2). Que me desculpe o articulista, mas não é neocolonialismo, e sim ciência. Também sei que o presidente Lula é a favor, daí a manifestação inédita da Advocacia-Geral da União. Porém, como engenheiro e com o conhecimento de termodinâmica em meu currículo, sei que o Ibama está certo, pois a Terra é um sistema termodinâmico fechado, que irá seguir as leis dessa área da física, devidamente comprovadas pelos cientistas, e atingirá um novo equilíbrio. O problema é que o seu novo ambiente será muito hostil e perigosíssimo para a humanidade. Os argumentos apresentados pelos órgãos e críticos não têm nada a ver com o aquecimento global e o perigo mortal que ele representa para a humanidade, que são aqueles corretamente apontados pelo Ibama. A hipótese real de um acidente no Atlântico poderá inundar o Rio Amazonas de petróleo e a própria floresta, a maior esperança de se reverter o aquecimento global.
Gilberto Pacini
São Paulo
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SALAS DE CINEMA
Considero as salas de cinema o ambiente adequado, insubstituível mesmo, na medida que propiciam as condições de isolamento e abstração ideais à fruição da sétima arte. Outro dia, no entanto, assistindo a um lançamento numa conhecida rede, fui compelida a sair no meio da sessão, por não aguentar o volume ensurdecedor, quase agressivo, da projeção. Fiquei matutando sobre o porquê daquele absurdo e a única explicação que encontrei foi a de que seria um meio de abafar os ruídos dos comedores de pipoca, que parece ser uma parte importante do negócio, estimulada desde o momento da compra dos ingressos, inclusive as feitas por meio de aplicativos.
Patricia Porto da Silva
Rio de Janeiro
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BIOGRAFIAS DE FERNANDO PESSOA
O texto Fernando Pessoa vira motivo de ‘guerra literária’ (4/9, C6-C7) prendeu-se a fofocas e perdeu a oportunidade de recomendar o excelente livro Fernando Pessoa: Uma Quase Autobiografia, do pernambucano José Paulo Cavalcanti Jr., imortal da Academia Brasileira de Letras e ex-ministro da Justiça (governo José Sarney). A pesquisa que o autor fez chega a minúcias de, em um delicioso relato, descrever como enfrentou um porteiro para poder ver o Tejo do mesmo ângulo e horário que Pessoa viu desde o apartamento no qual nasceu, e até a pesquisa pelos Caieros, sobrenome de um dos mais utilizados dentre os 184 (talvez, segundo o autor) heterônimos identificados de Pessoa. Seria interessante recomendar também o “filhote” do livro principal, Fernando Pessoa: O Livro das Citações, do mesmo autor.
Alberto Medeiros
São Paulo