Governo e Congresso
Sem açúcar nem afeto
Lula & Arthur Lira tomaram café, sem açúcar nem afeto, na segunda-feira, numa tentativa de melhorar o clima entre o governo e o Legislativo, no semipresidencialismo vigente no Brasil atual. Nunca antes neste país um presidente da Câmara exerceu tamanho protagonismo na política governamental da Nação.
Paulo Sergio Arisi
Porto Alegre
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Lira e o orçamento secreto
A descoberta do envolvimento de Arthur Lira no escândalo dos kits de robótica, como indicador de recursos do orçamento secreto (Estado, 6/6), reforça como o País está refém. Lira e seus pares, além de trabalharem focados em seus interesses pessoais, demonstram que estamos longe de uma democracia representativa, há uma distorção na transferência de poder pelo voto. Isso reforça a necessidade urgente de uma reforma política advinda de um movimento popular forte.
Gustavo Chelles
São Paulo
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Política industrial
Caminhões e ônibus
Depois da repercussão negativa do programa do carro popular, o governo incluiu no pacote subsídios para a compra de ônibus e caminhões. Como é que políticos como Lula e Alckmin, com longo tempo de estrada, podem ser tão amadores na concepção e divulgação de um programa?
Vital Romaneli Penha
Jacareí
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Descontos
Conta outra! O desconto de R$ 2 mil a R$ 8 mil para a compra de carro popular vai gerar filas de espera! Será preciso distribuir senha e pessoas passarão a noite na porta das distribuidoras, como no tempo em que se comprava plano de expansão de telefônica.
Paulo Tarso J. Santos
São Paulo
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Competitividade e inovação
O declínio da indústria no Brasil, em razão da falta de competitividade, e as formas de melhorar suas perspectivas, além da óbvia reforma tributária, estão bem indicados na excelente matéria da jornalista Cleide Silva (Estado, 5/6, B1), que listou cinco vias de aumento da produtividade: educação, inovação, tecnologia, gestão e escala. O baixo nível de inovação no Brasil resulta, entre outros fatores, da limitada interatividade indústria-universidade e da falta de encomendas de produtos e serviços inovadores pelos governos e suas agências. Nos EUA, por exemplo, as encomendas da Nasa a empresas privadas foram responsáveis pelo desenvolvimento de importantes inovações, hoje aplicadas em outros setores, nas áreas de TI, comunicação, materiais e outras. O Airbus também resultou de encomenda dos governos da França e da Alemanha, para criar um avião competitivo internacionalmente, e há dezenas de exemplos nos países desenvolvidos. Perguntado a respeito em palestra recente num encontro PNBE-Fecap, o ex-presidente o Grupo Ultra Pedro Wongchowski concordou e citou dois raros exemplos de sucesso no Brasil: o desenvolvimento do cargueiro KC-390 pela Embraer, por encomenda da FAB, e a nacionalização total da vacina da covid pelo Instituto Manguinhos, a partir do IFA, por encomenda do Ministério da Saúde. É importante mudar o sistema de compras dos governos, incluindo o financiamento a soluções inovadoras.
Mario Ernesto Humberg
São Paulo
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América do Sul
‘Farsa e narrativa’
Em texto preciso e irretocável (Farsa e narrativa, Estado, 5/6, A6), Denis Lerrer Rosenfield escancara o tipo de governo que temos hoje no País. Um presidente rancoroso e vingativo, que tenta impor a sua “narrativa” como se verdade fosse. Um cidadão apegado a valores embolorados da era comunista soviética, há muito tempo sepultados no mundo civilizado. E ainda se acha tão dono da verdade que quer fazer crer, perante todos os presidentes da América do Sul, que as sandices que profere têm de ser aceitas, mas se esquece que nem todos são tão obtusos quanto ele, que nem todos se deixam levar por esta ideologia carcomida, como bem lhe mostraram, contundentemente, os presidentes do Uruguai e do Chile. Lula da Silva se acha no direito de cobrar respeito à democracia e ao Estado Democrático de Direito aqui, no Brasil, mas recebe com honras um ditador abjeto que nunca respeitou esses valores. Em cinco meses, já dá para sentir asco deste terceiro mandato do petista.
Iveraldo Duarte
Avaré
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Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br
ÉTICA LONGE DO PLANALTO
Parece que Lula da Silva, assim como, infelizmente, ocorreu nas gestões anteriores de 2003 a 2010, pouco ou nada está se importando com a ética, já que, desde que assumiu o Ministério das Comunicações, o deputado Juscelino Filho tem afrontado esse governo e, pior ainda, a Nação. A nova estarrecedora denúncia feita pelo Estadão (Juscelino Filho entregou o gabinete para o sogro despachar em Brasília, 5/6, A6) é uma esculhambação! Ora, mesmo não sendo nomeado para o ministério despacha livremente atendendo a empresários em nome de Juscelino, e o Planalto finge que não vê, ou não deseja ver, já que o mesmo jornal, entre outros casos de estarrecer, denunciou que o ministro usou avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a leilões de cavalo. Esse filme nós já vimos com o PT no poder. Por falta de maioria no Congresso, Lula volta a entregar sua gestão no sistema de porteira fechada aos partidos aliados. Uma vergonha!
Paulo Panossian
São Carlos
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NOVA INDICAÇÃO
Lula foi eleito graças à união de partidos democráticos do Brasil para salvar a nossa democracia, o que o seu antecessor tentou até o fim derrotar. Esperava-se que com esse capital moral o presidente pudesse, pelo menos, defenestrar políticos como o atual ministro das Comunicações, cuja real ocupação é cuidar da criação dos seus cavalos de raça, a FAB que nos diga. Chegou a se pronunciar: “Quem fizer errado sabe que tem só um jeito: a pessoa será simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo”. O ministro só vem nos envergonhando. Desta feita, ficamos sabendo que o seu sogro, sem ter sido nomeado para cargo nenhum, “despacha” do seu gabinete no ministério. É uma esculhambação igual à dos pastores achacadores do Ministério da Educação no governo Bolsonaro. Lula foi eleito também para acabar com escândalos bolsonaristas desse naipe. A meu ver, o presidente deveria, no mínimo, solicitar ao senador patrono uma nova indicação, uma pessoa mais digna e competente.
Gilberto Pacini
São Paulo
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TUDO TEM LIMITE
Lula, até quando teremos de nos dobrar a essa conjuntura e engolir Juscelino Filho como ministro das Comunicações? Já passou de todos os limites. Esse sujeito é uma afronta! Ou o demite e banca uma escolha decente para o ministério, ou vai começar a conviver com uma rejeição cada vez maior a si próprio. E não é só ele! Mas pode começar por aí. Afinal, tudo tem limite, presidente!
Jane Araújo
Brasilia
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CASO JUSCELINO
Tem presidente que é cego!
Robert Haller
São Paulo
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APENAS FARPAS
Para tristeza do senhor presidente da República, o agronegócio deu mais um “show”. Mas o “magnífico presidente”, como gostaria de ser chamado, com a arrogância que lhe é peculiar, não agradeceu à dádiva vinda do campo e preferiu louvar o Bolsa Família, pois os excelentes resultados obtidos pelo agronegócio são frutos do governo anterior. É um PIB espetacular, mostrando a força da economia, vibrou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Mais comedido, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, ponderou: “Devemos ter cautela, porque o agro veio muito forte”. Ou seja, não podemos viver na expectativa só desse segmento da economia para crescer, é o aviso ao “chefão”, cujas declarações mais recentes a respeito dos empresários do agronegócio foram apenas farpas.
Sergio Dafré
Jundiaí
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QUEDA DA PRODUTIVIDADE
Produtividade cai quase 1% ao ano há 3 décadas; indústria quer nova política (5/6, B1). Pelo grotesco exemplo da política industrial, no caso do chamado carro popular, aparentemente temos um governo que prefere ceder às pressões de quem vai a Brasília de avião se queixar de que os subsídios, isenções, crédito fácil e proteção de mercado que recebe não são suficientes para garantir suas generosas margens de lucro. Como ficam os interesses dos consumidores e dos contribuintes brasileiros, que não têm acesso direto ao governo de plantão? Desse modo, não seria nenhuma novidade se a nova política industrial proposta pelo governo fosse, na prática, exatamente a política sugerida pelos industriais com acesso a Brasília, o que não é necessariamente benéfico para o sucesso da suposta neoindustrialização, tão apregoada ultimamente nos discursos oficiais. Portanto, vejo pouca ou nenhuma possibilidade concreta de uma verdadeira mudança na trajetória de queda da produtividade da indústria nacional, bem como a reversão de sua crescente falta de competitividade internacional.
Fernando T. H. F. Machado
São Paulo
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CORTE DE MORDOMIAS
Sempre se fala em corte de gastos e, quando não conseguem, lá vem aumento de impostos. O sr. Haddad inicialmente deveria trabalhar para cortar as mordomias que existem nos Três Poderes. Eu li o livro de Cláudia Wallin, Um País sem Excelências e Mordomias – esse livro deveria ser lido por todos os membros dos Três Poderes como pré-requisito antes de assumir qualquer cargo. Em uma das passagens, a autora pergunta a um dos ministros do governo sueco na época a opinião dele sobre o Brasil, e descreve um pouco das mordomias dos Três Poderes. Ele responde que não seria ético comentar sobre o governo de outros países, mas disse que, se fosse ministro da Economia ou da Fazenda do Brasil e tivesse que cortar gastos, já saberia por onde começar. Portanto, sr. Haddad, comece por onde deve começar, e tenho certeza que, se precisar continuar cortando gastos e até mesmo criar algum imposto, a própria população irá dar apoio. Chega de ser o país do futuro que nunca chega.
Alexandre de Oliveira
São Paulo
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AVIÃO ESPECIAL
Lula tem três aviões à disposição e não é suficiente, exige avião especial com suíte para casal, banheiro privativo, gabinete especial e a bagatela de espaço para cem convidados. Pelo jeito teremos muitas viagens de longa duração nos próximos anos. Quando chega ao destino com toda essa comitiva, tem uma continha que é de alojamento para os convidados ilustres. Essa despesa paga pelo poder federal é alta e no fundo são os pobres brasileiros não convidados que pagam essa conta. Será que esquecem que este é um país pobre, onde milhares de pessoas não têm nenhum prato de comida por dia e os recursos federais são extremamente escassos?
Marco Antonio Martignoni
São Paulo
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LÁ DE CIMA
O presidente Lula quer mais espaço, mais conforto e levar seus políticos de estimação nas viagens internacionais, com razão: ele prefere viajar do que governar. Em terra ficam os problemas do Brasil, lá de cima o mundo é mais bonito.
Roberto Solano
Rio de Janeiro
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PAI DOS POBRES
Como assim? Lula quer um novo avião para quê? O que tem não voa como os outros? Até agora lá fora só deu foras. O pai dos pobres por acaso sabe que o salário mínimo aumentou só R$ 18? Já pegou o Metrô na hora do rush? Então largue de gastar nosso dinheiro com suas mordomias e lua de mel e pense em melhorar todos os tipos de transportes para povo brasileiro!
Tania Tavares
São Paulo
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NOTÓRIO SABER JURÍDICO
O artigo do jornalista J. R. Guzzo retrata bem as últimas indicações para ministros do Supremo Tribunal Federal (Estado, 4/6, A9). Não me recordo de ter lido artigo dele analisando as indicações dos dois ministros que o ex-presidente Jair Bolsonaro fez. Se omitirmos a data e os nomes citados, o texto retrata pelo menos as três últimas indicações para ministros do STF em que faltou o cumprimento de um importante requisito constitucional: o notório saber jurídico, que não está limitado em ser formado em Direito e exercer a profissão de advogado.
Marcos Sanches
São Paulo
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EXIGÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
Para a sabatina a que será submetido o dr. Cristiano Zanin, como o indicado pelo presidente Lula da Silva para ocupar vaga no STF, faço uma sugestão de pergunta: o que pensa o futuro membro quanto às exigências constitucionais contempladas para a indicação e se qualquer indicado deve preencher todas elas, e quais podem ser relegadas? Duvido que haja coragem para que possam fazê-la.
Paulo Tarso J. Santos
São Paulo
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PREENCHIMENTO DAS VAGAS
Muito oportuno o editorial ‘Colocar amigo no STF é um atraso’ (3/6, A3). Aliás ninguém deveria ter o poder de indicar quem quer que seja para o STF. O preenchimento das vagas deveria ser feito com base no currículo. Só assim estaria preservada a imparcialidade desse tribunal.
Ricardo Daunt de Campos Salles
Espírito Santo do Pinhal
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REPÚBLICA DIGITAL
Há dez anos vivemos sob a influência das redes sociais. Através delas ocorreu a convocação das manifestações de 2013 contra a alta dos preços das passagens de ônibus, que se estenderam em oposição à Copa do Mundo de Futebol realizada em solo brasileiro, e culminaram no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Os partidos – e seus dirigentes – perderam o controle do quadro político, e a comunicação pela rede mundial ganhou hegemonia. O povo nem os políticos tiveram a sensibilidade para entender na época que começavam a viver sob a égide daquilo que hoje começa a ser denominado República digital. A presença do arcabouço digital é irreversível e não se restringe ao Brasil. A internet e suas redes já interferiram fortemente em eleições na maioria dos países, inclusive nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Oriente Médio. O Brasil é apenas mais um território digitalizado. E não haverá retorno. Mesmo com as tentativas de censura, as perseguições e ações daqueles que veem o poder escorrer entre seus dedos, dificilmente voltaremos ao quadro de antes de 2013, quando os pensadores de hoje consideram ter se exaurido a Nova República e começado a República digital que, no sistema de identificação histórica de nosso país, é a sétima. Oxalá os políticos, os centros de saber e a população tenham a sensibilidade capaz de entender o novo quadro e a sociedade como um todo possa dele tirar o melhor dos proveitos. Que as imperfeições das seis repúblicas até hoje vividas fiquem como coisas do passado e o novo seja fonte de desenvolvimento, organização e bem-estar a todos os brasileiros.
Dirceu Cardoso Gonçalves
São Paulo
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OPORTUNIDADES PERDIDAS
Citando Euclides da Cunha em seu último artigo, Três vezes Brasil (3/6, A4), Bolívar Lamounier fala a respeito das oportunidades perdidas para nos tornamos um país evolucionista e nossa opção para aquilo que hoje, tristemente, nos tornamos. É real a nossa capacidade para fazer. Basta pensar no Brasil da década de 1950, pós-Segunda Guerra, e ver o que fomos capazes de realizar menos de um século depois, não obstante tanto “governo” e “políticos” a nos sabotar. Uma boa parcela da sociedade também, parte dela que nem a suposta “galinha depenada de Stalin” clamando assistencialismo e outra, como entes corporativistas, conseguindo leis que lhes assegurassem privilégios. Conta-se que Margaret Thatcher, em pleno caos grevista na Inglaterra, ao ser provocada a explicar o assistencialismo francês, teria respondido que a França propôs igualdade, liberdade e fraternidade porém não deixou claro na conta de quem. É difícil compreender o cenário atual. Todas as instituições que representariam nosso arcabouço maior de proteção, de Estado soberano e comprometido com seus valores, seu futuro, estão comprometidas. Nossa última Constituição foi produzida com viés de revanchismo, direitos e mais direitos, liberdade e mais liberdade. Deveres, poucos. E a piorar, muita desfaçatez para interpretá-la conforme conveniências do momento. É válido reconhecer que em toda a história da democracia a imprensa livre fez mais por ela do que as classes políticas e os próprios cidadãos. No passado esses dilemas eram resolvidos com guerras civis cruéis – felizmente parece que isso é coisa do passado – ou gigantescas manifestações públicas – estas, infelizmente, também parecem ser coisa do passado, dado o hedonismo que leva a sociedade a se distrair em consumir avidamente um suposto bem-estar que o capitalismo oportunista lhe impinge. Não são apenas os desfavorecidos representando a “galinha de Stalin”. São as classes com pouco ou algum poder de consumo numa “exuberância irracional” buscando atender a seus mais superficiais instintos. Vejamos o que o futuro próximo nos reserva.
Paulo Cézar de Oliveira
São Paulo