A ocupação da sede da Secretaria Municipal de Cultura por um grupo de 70 manifestantes que pede a demissão do secretário André Sturm, sob a justificativa de que ele teria ameaçado “quebrar a cara” de um agente cultural que o tratou desrespeitosamente, é o desdobramento da conhecida estratégia de determinados movimentos sociais e pequenos partidos de extrema esquerda de provocar as autoridades com o objetivo de exasperá-las e, depois, explorar politicamente a eventual reação impensada.
O incidente ocorreu na segunda-feira passada, durante uma reunião com agentes culturais para negociar a renovação de uma parceria para gestão da Casa de Cultura Ermelino Matarazzo, na zona leste. Celebrado na gestão de Fernando Haddad (PT), o contrato – por meio do qual a Prefeitura, que é dona do prédio, se comprometeu a destinar cerca de R$ 16 mil por mês a um coletivo escolhido para administrar as iniciativas desse órgão – expirou em abril. Nos dez primeiros minutos da reunião, Sturm explicou que não tinha condição de manter o valor do repasse na renovação do contrato, por falta de recursos orçamentários da Secretaria. Quando prometia estudar uma ajuda financeira futura para o coletivo, foi interrompido de forma desrespeitosa e intempestiva pelo ativista Gustavo Soares, que tem 25 anos e é conhecido por sua agressividade contra autoridades.
Foi no calor da discussão que o secretário se exaltou. Após ter sido chamado de “desequilibrado” por Soares, ele afirmou que os agentes culturais não eram donos do prédio da Casa de Cultura Ermelino Matarazzo. Manifestou a disposição de despejá-los. Por fim, chamou Soares de “chato”, “babaca” e “moleque”, ameaçando “quebrar sua cara”. O ativista que o provocou já chegou ao local com um gravador e a gravação do bate-boca foi colocada nas redes sociais pela vereadora Sâmia Bonfin (PSOL), que também protocolou uma representação no Ministério Público, acusando o secretário de abuso de autoridade.
Apesar de Sturm ter se desculpado, a divulgação de sua infeliz resposta ao agente cultural foi o pretexto que alguns coletivos e movimentos sociais almejavam para criar uma situação de fato contra a gestão do prefeito João Doria (PSDB). O script é conhecido. Depois de terem invadido de forma ruidosa e com cartazes com mensagens ofensivas o gabinete do secretário, no centro de São Paulo, expulsaram os assessores técnicos da Secretaria e anunciaram que somente sairiam do local após sua demissão. Em seguida, divulgaram nota em que exigem um “diálogo” com as autoridades municipais e ficaram à espera da execução de uma ordem judicial de reintegração de posse, quando teriam a oportunidade de criticar a repressão policial.
Respondendo à arrogância e ao vandalismo dos invasores com tato e prudência, a Prefeitura distribuiu nota informando que os representantes da Casa de Cultura Ermelino Matarazzo não apresentaram “pautas e propostas concretas” para dialogar e que a saída de Sturm “não está na pauta do prefeito”. “Ao contrário do que afirmam os manifestantes, a postura agressiva não demonstra interesse em dialogar”, diz a nota. Também demonstrando habilidade, para não dar aos ativistas pretexto para acusar a Prefeitura de violência, a Guarda Civil Municipal limitou-se a cercar o prédio, garantiu a segurança dos servidores e decidiu agir somente caso o patrimônio público fosse depredado pelos invasores.
O que ocorreu com a Secretaria Municipal de Cultura está se tornando rotina em todo o País. A invasão do prédio nada mais é do que a reafirmação da prática de interdição de espaços públicos por grupos radicais que, para compensar a falta de representatividade, se acostumaram a afrontar o primado da lei e apelar para a violência, tentando impor a qualquer preço sua agenda política. Esse é o tipo de gente que quer acabar com a democracia e impor o monólogo.